terça-feira, 6 de março de 2012



06 de março de 2012 | N° 17000
CLÁUDIO MORENO


Homens e mulheres (14)

30 – Infinitas respostas – Por que seria esta uma discussão interminável? A meu ver, Samuel Butler, escritor inglês do séc. 19, erudito, tradutor de Homero, foi quem melhor definiu a questão. Segundo ele, quem procura analogias e semelhanças entre o homem e a mulher termina encontrando tantas, e tão significativas, que as diferenças parecem poucas e desimportantes.

Por outro lado, quem sai à busca de diferenças, facilmente consegue demonstrar que essas duas metades do gênero humano pouco ou quase nada têm em comum. Voltamos ao velho dilema do copo com água pela metade – para uns, está meio cheio; para outros, meio vazio.

31 – Uma paixão tardia – No fim da vida, com mais de 70 anos, Goethe se apaixona pela jovem Ulrike von Levetzow, filha de uma velha amiga. Decidido a viver a seu lado, submete-se aos rituais de praxe e pede formalmente sua mão. A mãe recusa o pedido, e Goethe, ferido na alma, escreve sua famosa Trilogia da Paixão (oportunamente traduzido pela L&PM, na série Pocket).

Ulrike, que tinha 18 anos na época, nunca chegou a casar, e viveu até os 95, famosa por ter sido a involuntária musa que inspirou a maravilhosa Elegia de Marienbad. Sempre que lhe perguntavam sobre seu relacionamento com o grande poeta, ela se limitava a responder, com ar pensativo: “Não foi por falta de amor”.

32 – Chumbo quente – Condenado pela lei mas tolerado pelo costume, o duelo foi, durante muito tempo, a maneira extrema de acertar as questões ditas “de honra”. Diante de padrinhos e testemunhas, dois cavalheiros trocavam tiros ou espadeiradas até que o primeiro sangue derramado colocasse um ponto final na disputa – e não foram poucos os que perderam a vida pelos mais insignificantes motivos.

Embora fosse um mau hábito exclusivamente masculino, algumas damas também foram à luta: em 1718, a Marquesa de Nesle, despeitada com o assédio da Viscondessa de Polignac sobre seu amante, o Duque de R..., escreveu à rival uma carta duríssima, ordenando que se afastasse imediatamente de seu querido.

Concluía: “Se depois de tudo isso, madame, minhas razões não a convencerem, eu a espero amanhã, às 10h da manhã, no Bois de Bouglone – e escolho as pistolas”. A outra, que também era atrevida, aceitou o desafio.

No dia seguinte, lá estavam as duas, acompanhadas de seus respectivos padrinhos – no caso, madrinhas, como convinha. Carregadas as pistolas, tomaram 25 passos de distância e fizeram fogo.

A Marquesa de Nesle atirou primeiro, e a pressa a fez errar; Madame de Polignac, com mais calma, feriu a oponente de raspão, no ombro, ensanguentando-lhe o alvo corpete que vestia. As testemunhas deram o duelo por findo, mas as duas mulheres, contrariamente ao que manda a tradição, recusaram qualquer gesto de reconciliação – o que ninguém estranhou, aliás

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