sábado, 1 de outubro de 2011



02 de outubro de 2011 | N° 16844
PAULO SANT’ANA


Loucos de todo gênero

Por iniciativa da Associação dos Cronistas Esportivos, fui entrevistado demoradamente por 15 jovens jornalistas que se preparam para exercitar sua profissão no setor de esportes.

Em determinado momento, um dos jovens profissionais me perguntou se eu julgava que ainda iria surgir algum jornalista melhor do que eu.

Minha resposta: “Creio que possa surgir ainda algum jornalista superior a mim. Mas nestes 40 anos em que trabalho, não surgiu”.

Ainda dentro da minha megalomania, fui ao psiquiatra para a primeira consulta. O psiquiatra me disse: “Vamos começar nossa relação pelo princípio. Dize-me tudo o que aconteceu, desde o princípio”.

E eu: “Bem, no princípio, eu criei o Céu e a Terra...”.

O Código Civil usa uma expressão: “Os loucos de todo gênero”.

Porque existem os loucos folclóricos, os loucos que riem, os loucos que falam alto, que têm gestos burlescos ou teatrais, esses loucos até divertem a periferia e o derredor.

Mas eu me preocupo com os loucos que causam danos aos outros e andam soltos.

Esses loucos não chegam a ser perigosos, mas são danosos. Eles convivem nas famílias, no trabalho e vivem agredindo os outros com palavras e com atitudes.

Existe até uma frase que diz que o hospício é o quartel-general dos loucos. Ou seja, no hospício se localizam os loucos de atar. Mas e os outros milhares de loucos que estão espalhados pela cidade? Que é feito deles, qual é a sua sorte?

Pois eles estão por aí infernizando a vida das outras pessoas.

Já pensou o que é estar casado com uma mulher louca? Ou estar casado com um marido louco?

Ou ser empregado de um patrão louco? Ou ser patrão de um empregado louco?

Porque esses loucos de que eu falo – e até por certa medida o Código Civil contempla – fazem parte de nossas vidas.

Eles estão aí, vivos e atuantes, produzindo males e atrapalhações para os outros.

Esses loucos, por vezes, se acalmam, mas muitas vezes são tomados por surtos de loucura devastadores.

Há uns que tornam a vida dos outros insuportável. Grudam nos seus familiares ou em quaisquer circunstantes e os infernizam.

E, no entanto, continuam transitando e impunes, seja pelas convenções, seja pelos cânones de tolerância social, seja até mesmo porque há uma certa dificuldade em diagnosticar a loucura e seus graus de incidência sobre as mentes transtornadas.

Nada contra o louco inofensivo, como já disse, nada contra o louco pitoresco.

Mas tudo contra o louco que se insinua no meio social e começa a distribuir agressões e maus humores entre os outros.

O louco parcialmente agressivo e mal-humorado é um foco de irradiação de infelicidade na convivência.

Um dia ainda haverá uma ordem social que consiga diagnosticar esse tipo de loucura secundária e destine recursos para seu tratamento.

Enquanto não há, todos somos vítimas dessa séria incomodação.

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