Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
sábado, 1 de outubro de 2011
02 de outubro de 2011 | N° 16844
VERISSIMO
A ponta do queixo
– Ju é incapaz de matar uma mosca – dizia a Marinei sobre seu marido Juvenal.
Não era elogio. Não era atestado da boa índole do Juvenal. Era crítica. Na última vez que tentara matar uma mosca com um jornal enrolado, o Juvenal quebrara um vaso que ela amava. E a mosca sobrevivera.
– Esse daí é uma plasta – dizia a Marinei, indicando o Juvenal com a ponta do queixo.
O que mais magoava o Juvenal era a ponta do queixo. O “esse daí” ele ainda aguentava. Depois de 15 anos de casamento, o “esse daí” era inevitável. O que doía mesmo era a ponta do queixo. Ele não merecia mais nem ser apontado com um dedo.
Ele pedia:
– Pare de me criticar em público, Marinei.
– Por quê? Nossos amigos todos sabem que você é uma plasta mesmo.
– Você não imagina do que eu sou capaz, Marinei.
– Imagino sim, Ju. Você é capaz de nada. Na-da.
Aquilo também magoava. “Nada” com as sílabas separadas. Aquilo doía. A Marinei ia ver.
Um dia, num bar, os dois numa mesa de quatro, veio um moço e sentou-se numa das cadeiras livres. E perguntou se a Marinei estava com alguém.
– Estou com ele – disse a Marinei, indicando o Juvenal com a ponta do queixo.
– Eu falei “alguém” – disse o moço.
O Juvenal pulou do seu lugar, pegou o moço pela frente da camisa e o arrastou até a entrada do bar, sob tabefes. Atirou-o na calçada e ainda o despachou com um pontapé na bunda. (Depois, quando Juvenal e o moço se encontraram para acertar as contas, o moço se queixou.
O pontapé na bunda não tinha sido combinado. O pontapé na bunda era desnecessário). De volta à mesa, Juvenal encontrou a Marinei de olhos arregalados.
– Ju!
Ela não disse “meu herói!”. Mas seus olhos disseram.
Mas 15 anos de desdém são 15 anos de desdém, e os velhos hábitos morrem devagar, e bastou o Juvenal errar outra mosca com o jornal enrolado e quebrar o vidro da cristaleira para a Marinei chamá-lo de pamonha, paspalhão, imprestável, desastrado e, na frente dos amigos, apontá-lo com o queixo e dizer “Sabem o que esse daí andou aprontando desta vez?”
– Eu faço uma loucura, Marinei.
– Faz nada. Na-da.
– Olha que eu faço uma loucura!
– Que loucura? Que loucura?
Juvenal pensou na coisa mais louca que poderia fazer para impressionar a Marinei. Incapaz de matar uma mosca? Uma plasta? Ela ia ver do que ele era capaz. Iria matá-la. Era isso! A perseguiria como a uma mosca, com um ferro dentro de um jornal enrolado, e a mataria. Tudo para ver de novo a admiração em seus olhos.
Em tempo: Juvenal não conseguiu matar a Marinei, mas demoliu a casa tentando.
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