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sábado, 3 de novembro de 2007
Diogo Mainardi
A imundície continua lá
"O caso da Telecom Italia nunca rendeu nada de bom: só o enfado dos leitores e um processo judicial contra mim. Mas a Justiça italiana conseguiu juntar algumas das pontas que permaneciam soltas. Um dos diretores da empresa admitiu: em 2003, a Telecom Italia pagou propina no Brasil"
A Telecom Italia pagou propina no Brasil. Já leu isso em algum lugar? Sim: na coluna do autoproclamado Oráculo de Ipanema. A primeira vez em fevereiro de 2006, a segunda vez em outubro do mesmo ano, a terceira vez – chega, Diogo, chega – na semana seguinte.
O caso da Telecom Italia, apesar de tratado insistentemente na coluna, nunca rendeu nada de bom: só o enfado dos leitores e um processo judicial contra mim.
Mas todos sabem que eu sou um renomado parajornalista, e o que mais aborrece um renomado parajornalista é isto: uma trama em que as pontas permanecem soltas.
Nos últimos tempos, a Justiça italiana finalmente conseguiu juntar algumas dessas pontas. Depois de passar oito meses na cadeia, um dos diretores da Telecom Italia, Giuliano Tavaroli, admitiu ao juiz Giuseppe Gennari o que eu e meus leitores menos avoados já sabíamos: em 2003, nos primeiros meses do reinado lulista, a Telecom Italia pagou propina no Brasil.
O fato foi confirmado por outras duas testemunhas: o diretor financeiro da sucursal brasileira, Marco Girardi, e o chefe de segurança institucional da empresa, Marco Bonera.
A revista italiana Panorama acaba de publicar uma reportagem reconstruindo todos os eventos. Em 8 de abril de 2003, Marco Bonera foi encarregado de transportar 300 000 dólares a Brasília.
De acordo com seu depoimento, ele alugou um helicóptero, voou à capital e entregou o malote de dinheiro a duas pessoas num quarto do hotel Blue Tree. Sucessivamente, segundo ele, essas duas pessoas distribuiriam a propina a uma série de políticos relacionados numa lista.
Alguns dias depois, em 30 de abril, a Telecom Italia assinou um contrato de consultoria de 3,25 milhões de reais com o empresário Naji Nahas.
Recebi uma cópia desse contrato em janeiro de 2006, assim como o comprovante de que o pagamento havia sido feito em dinheiro vivo. Passei todo o material a VEJA.
A reportagem descobriu que parte do montante fora entregue a Ludgero Pattaro, uma das pessoas que – cito a matéria – "apareceram em relatórios da agência Kroll como sendo responsável por pagamento de propina da Telecom Italia a dirigentes do PT".
Ludgero Pattaro enfiou o dinheiro numa maleta e, acompanhado por guarda-costas, levou-o a uma saleta do hotel Renaissance, em São Paulo. Até agora ninguém podia apontar com certeza o destinatário do pagamento.
Aos juízes milaneses, Giuliano Tavaroli afirmou tratar-se da segunda parcela de uma propina destinada aos membros da Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara dos Deputados.
Propina, propina, propina. Eu sei que o assunto se esgotou. Pode parar de bocejar. Isso tudo é velharia. Isso tudo pertence a um tempo em que a gente ainda tinha o ímpeto de espernear contra a imundície na política. O ímpeto passou. A imundície continua lá.
ótimo sábado e um excelente fim de feriadão.
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