quinta-feira, 15 de novembro de 2007


ELIANE CANTANHÊDE

Leilão de bondades

BRASÍLIA - Lula foi que foi, mas acabou adiando sua viagem a Cuba entre os dias 21 e 23. Ele quer chegar com um pacote de bondades a Havana, onde o rei das bondades tem sido Hugo Chávez, mas o governo não ajuda. Lula manda, mas há sempre empecilhos.

Um dos anúncios que ele quer fazer, de preferência com um longo discurso à la Fidel (em Roma, como os romanos...), é o reconhecimento dos diplomas de médicos. Hoje, quem se forma em medicina em Cuba não tem o diploma reconhecido no Brasil. No mínimo, enfrenta imensas dificuldades.

Lula determinou que o termo final do acordo nessa área ficasse pronto ontem, às 15h. Até as 13h, depois de horas de reuniões, tudo o que Itamaraty, Educação e Saúde informavam ao Planalto é que havia restrições (leia-se: vetos) das universidades.

Quem reconhece, ou não, diplomas de outros países são as universidades federais, e só elas.

Sem critérios rígidos de equivalência, tudo descamba para uma perigosa subjetividade. A questão se arrasta há anos, com o governo dividido.

O Itamaraty é um dos principais interessados diretos na questão, até pelo trivial motivo de que os filhos de embaixadores estudam fora, se formam fora e querem ter diploma válido no Brasil. O que é legítimo.

Além de uma boa notícia para os médicos formados em Cuba, Lula quer anunciar lá investimentos em estradas e em recuperação de hotéis. Quer também a companhia de representantes da Marcopolo, interessada em montagem de ônibus na ilha, e da Petrobras, de olho na produção de lubrificantes.

Quanto a uma desavença daqui e dali entre Lula e Fidel por conta dos biocombustíveis, o Itamaraty não dá a menor bola. O Lula que negocia com a Venezuela, com a Bolívia, com os EUA e por aí afora é sobretudo pragmático.

Com Cuba não será diferente, ainda mais com Fidel praticamente fora de combate.

elianec@uol.com.br

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