Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
sábado, 17 de novembro de 2007
18 de novembro de 2007
N° 15422 - David Coimbra
Abaixo os goleiros!!!
Durante uma das mesas de debate da Feira do Livro, indagorinha, o Tabajara Ruas disse que gostaria muito de ter visto jogar Gessy, meia do Grêmio dos anos 50 e 60, uruguaianense como ele Tabajara, e de quem se dizia ser o melhor jogador que já calçou uma chuteira no Rio Grande.
O Professor Ruy, que mediava a mesa, aprumou-se em sua cadeira, apontou para o teto um indicador venerando e atestou:
- Verdade! Gessy foi o melhor!
Não é a primeira vez que ouço o Professor fazer essa afirmação. O que torna a coisa oficial: Gessy foi o maior jogador da história do Rio Grande. Ponto.
Já escrevi a respeito desse jogador, e a viúva dele não gostou. Talvez porque não tivesse compreendido: escrevi sobre o Gessy solteiro! Casado, Gessy transformou-se em um dentista compenetrado, que ele sempre quis ser dentista, e num marido amantíssimo.
Solteiro, porém, Gessy fazia como compete aos solteiros fazer: amava as belas mulheres e divertia-se à grande com os amigos.
Perguntei muito acerca de Gessy para seus contemporâneos, entrevistei vários deles, e eles me revelaram um homem de personalidade peculiar. Diziam que Gessy não gostava de jogar futebol. Não acreditei.
Como um homem que não gosta do que faz haverá de ser o melhor naquilo que faz? Impossível. Mas, juraram-me, Gessy não comemorava os gols que marcava.
Fazia-os, sempre com mestria, e saía a passo, quase a bocejar, um meio-campista blasé. Perguntavam para ele o que era aquilo e ele respondia que estava no futebol só para se formar em odontologia, que os pré-molares, os sisos, os caninos, as polpas, a dentina, as gengivas, isso tudo é que era a sua verdadeira paixão.
Imagino que se tratava de calculada construção de imagem do Gessy. As garotas gostavam daquele tipo meio melancólico, indiferente às luzes da fama, avesso à bajulação. Elis Regina foi uma das que se apaixonou por ele. Assistia a todos os treinos do Grêmio. Nunca se ouviram suspiros tão afinados, na pedra fria das arquibancadas do Olímpico.
E houve uma morena misteriosa na vida dele (vida de solteiro, sublinhe-se), que, segundo os amigos, foi sua perdição. Era falar com Juarez, com Milton, com Élton, com Aírton, com Ênio Rodrigues, com Ortunho, era falar com qualquer um deles, que a reação era idêntica:
- Ah, a morena do Gessy...
Mas, claro, isso é de somenos importância. O que interessa é que Gessy era capaz de aplicar um drible de palmo e meio, que tinha um chute preciso como uma tacada de sinuca do Faraco, que dava um lançamento de 60 metros de distância como só o grande Roberto Rivellino deu, anos depois.
Por isso o Tabajara queria conhecê-lo, e eu também. Queria ter visto Gessy jogar, que pena que não vi Gessy jogar!
Bem. Escrevo sobre Gessy não apenas por causa dos recentes panegíricos que lhe teceram o Tabajara e o Professor, mas por compreender que jamais algum de nós verá um Gessy. Não temos mais tempo de vê-los.
A Lei Pelé acabou com os Gessys do futebol brasileiro, mandou-os para a Europa. Agora, o Campeonato Brasileiro mais medíocre da história termina com um campeão igualmente medíocre, um campeão sem um único craque, que tem como seu maior jogador... um goleiro!
E nem é um grande goleiro. Nunca foi titular da Seleção Brasileira, nunca poderia polir as travas da chuteira de um Manga, de um Leão, de um Taffarel, de um Danrlei.
Oh, houve tempo em que o brasileiro se orgulhava de não formar goleiros. Um tempo glorioso em que desprezávamos goleiros. Não precisávamos deles.
Havia Rivellino no time, havia Pelé, Jairzinho, Gérson, Tostão, Carlos Alberto, Clodoaldo, havia esses todos, podia-se colocar um Félix debaixo do travessão.
Hoje, não. Hoje formamos goleiros, e os atacantes se vão. Vão-se os Patos, vão-se os Andersons. Vão-se os Gessys, enfim. E nós ficamos reduzidos a Rogérios Cenis. Triste, o futebol brasileiro do século 21!
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