quinta-feira, 22 de novembro de 2007


ELIANE CANTANHÊDE

Dilemas do PSDB

BRASÍLIA - Na oposição, o PT do Lula metia a lenha em tudo do governo tucano. No governo, o Lula do PT faz tudo igual e ainda aprofunda o que antecessor tucano fazia. O dilema tucano é: como combater suas próprias criaturas?

Se o PSDB articula a votação contra a prorrogação da CPMF, está negando o passado. Foi o governo FHC quem transformou o imposto provisório em contribuição permanente "da saúde".

Se vota contra a entrada da Venezuela no Mercosul, como fez ontem na Câmara junto com o DEM e o PPS, também está negando o passado. Foi o governo FHC quem selou a forte aliança dos dois países.

A reviravolta só começou em 2002, quando o então candidato José Serra bateu em Chávez na tentativa -de resto, inútil- de marcar posição no cenário internacional.

Nos dois casos, da CPMF e da Venezuela, o PSDB ficou num beco sem saída, pois o contrário seria um desastre político.

Continuar sentando à mesa com ministros de Lula e afinal dar de bandeja a bolada de R$ 40 bi da CPMF aos cofres do governo em 2008, ano eleitoral, seria dar os ovos na boca da raposa.

E votar a favor da Venezuela no Mercosul seria badalar a política externa de Lula, que enaltece Chávez como companheiro democrático, útil para as exportações brasileiras de manufaturados e fundamental ao Mercosul.

Nos dois casos, o PSDB está sem alternativa e debate-se febrilmente entre ser coerente ou votar politicamente e como oposição.

Os tucanos deixaram seu programa e suas bandeiras escorrerem pelos dedos para Lula, e, agora, bater no governo é bater no que eles próprios criaram.

Não é o caso de "toma que o filho é teu". É deles -do PSDB, embalado e engordado por Lula. Como dizia Pedro Malan, tudo é "um processo". Lula se beneficia do processo. O PSDB vagueia sem rumo, tentando ser oposição sem poder ser.

elianec@uol.com.br

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