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segunda-feira, 12 de novembro de 2007
12 de novembro de 2007
N° 15416 - Kledir Ramil
Bodas de prata
Nunca prometi amar minha mulher até que a morte nos separe. Independente de não haver jurado ou feito promessas, eu amo essa mulher cada vez mais. Fui aprendendo a gostar dela no dia-a-dia. É uma pessoa inquieta, capaz de sacudir a rotina com novidades.
E entre as pequenas surpresas do cotidiano, fui descobrindo virtudes escondidas que ela guardava com carinho para alguém especial. Quando percebi que aquilo tudo estava reservado para mim, me deu uma sensação estranha, que só aos poucos fui identificando como aquele sentimento que chamam de felicidade.
Logo que nos conhecemos, fomos fazer uma viagem. Saímos de férias por um mês e voltamos mais apaixonados do que antes. Viajar com outra pessoa é um ótimo test drive. Se a viagem for agradável, pode apostar, tudo vai dar certo.
Nunca formalizamos o casamento. Foi um gesto simbólico, uma maneira de dizer que a porta estava sempre aberta. Fui ficando, ficando e nunca mais saí. Quando me dei conta já havia passado 25 anos. Hoje, confesso, não sei viver sem ela. Quero ficar assim, até que a morte nos separe.
No início, quando começou o jogo de ocupação de espaço, percebi que ela era meio metida. Aproveitei e abri mão da autoridade em vários assuntos, sobre os quais não faço nenhuma questão de ter a palavra final.
Roupas, por exemplo. Eu não sei me vestir. Cada vez que íamos sair, ela me olhava de cima a baixo e me fazia voltar ao guarda-roupa, só porque a camisa listrada não combinava com a calça xadrez. Detalhe sem importância, mas pra ela, fundamental.
Agora, antes de me vestir, sempre pergunto, como Noel Rosa: "com que roupa eu vou?". Assim ela fica feliz e eu não perco meu tempo com análise de estamparias de tecidos.
Certa vez, teve um ataque pois não levei a sério a recomendação de "não esquecer de molhar as plantas". Quase murchou ali o casamento.
Mas o sacrifício de meia dúzia de bromélias e violetas serviu para alguma coisa: ela nunca mais me passou tarefas tão complicadas. A vida em comum é assim, você cede aqui, ela cede ali e, entre avanços e recuos, tudo vai se encaixando. Como num quebra-cabeça.
Certo dia, pra meu espanto, saiu de dentro dela uma outra igualzinha, só que pequena. Tipo assim, uma babuska. Como se aquela mulher extraordinária já não fosse o suficiente, ainda ganhei um brinde.
Um tempo depois, pasmem, mais um prêmio. Dessa vez um menino. Hoje, olho minha mulher e meus filhos e me dá uma sensação que já não é estranha. Aprendi muito bem o que quer dizer felicidade.
Ótima segunda-feira e uma excelente semana para todos nós.
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