quinta-feira, 15 de novembro de 2007



NOVAS FORMAS DE INTELIGÊNCIAS
Juremir Machado

Os especialistas já provaram que existem diversos tipos de inteligência: intelectual, emocional, estratégica, espacial, artística, matemática e, entre outras, inteligência para casar com um jogador de futebol ou para ter um filho com Mick Jagger.

Houve um tempo em que falar muitas línguas ou lembrar os nomes de todos os imperadores romanos era um sinal de inteligência superior.

Depois, acabou-se por descobrir que as secretárias multilíngües eram, às vezes, incapazes de escrever um bilhete por conta própria. No último caso, confundia-se memória com inteligência. O Google sepultou os inteligentes memoriosos. Jogar xadrez também já foi considerado um símbolo de genialidade.

Georges Bernard Shaw destruiu essa ilusão ao explicar que a inteligência do jogador de xadrez só serve para jogar xadrez. Tem até campeão de xadrez idiota.

Todo esse enorme nariz-de-cera só para falar das novas inteligências políticas da América Latina. Nosso continente vive de ciclos. Já tivemos o ciclo populista militar, o ciclo populista civil, o ciclo das ditaduras, o ciclo da redemocratização, o ciclo da adesão canina à conversa fiada do FMI e o ciclo das (in)dependências.

Agora, estamos no ciclo das novas inteligências étnicas, de gênero ou de classe. O Brasil, grande nação de vanguarda, largou na frente elegendo o nosso melhor representante da inteligência sindical e operária. A Argentina custou a entender a mudança.

Mas, finalmente, deu um grande salto ao escolher uma legítima representante da inteligência feminina, neopopulista e neoperonista. A senhora Kirchner encarna também a inteligência conjugal numa época de nova divisão das tarefas domésticas.

A Bolívia já havia ingressado no presente com um exemplar fidedigno da inteligência nativa, indígena, autóctone e andina, cuja marca distintiva mais evidente é não usar gravata.

Por fim, a Venezuela é dirigida por uma anta genial, um caso escolar de inteligência militar à moda antiga com petróleo novo e alianças de ocasião.

Hugo Chávez é o produto mais puro da burrice das elites do seu país. Foi tanta corrupção e tanto descaso com a plebe que se abriu espaço para um fanfarrão teatral.

Eu nunca tinha visto um rei mandar publicamente um chefe de Estado calar a boca. Hugo Chávez conseguiu mais esse troféu para o seu currículo. É certamente o político mais inteligente do continente.

No Rio de Janeiro, já tivemos duas governadoras amparadas na inteligência de donas de casa. Não seria de duvidar que dona Letícia pudesse ser a sucessora do marido. Afinal, as modas cariocas sempre chegam ao resto do país.

Conclusão: governar uma nação exige um tipo muito especial de inteligência, a inteligência política, que pode ser definida de modo simples e direto como a capacidade de estar no lugar certo, na hora certa, com os apoios certos e com a possibilidade de obter os votos necessários.

Um presidente não é um cirurgião, detentor de uma técnica ou de um sabor específico, mas um símbolo. Qualquer um pode ser presidente. Minha avó teria feito um bom governo.

Reunia todas as condições: era excelente dona de casa, muito intuitiva, fizera apenas o curso primário, vinha do povo, falava mal dos ricos e sonhava com uma boa ditadura para arrumar a casa. Mas não era muito popular. Uma pena.

juremir@correiodopovo.com.br

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