domingo, 18 de novembro de 2007


DANUZA LEÃO

Participações

Aconselho a participação da separação, sem precisar dar detalhes, tipo "porque ela descobriu que ele é gay"

UM CASAMENTO É UMA operação complicada. Além dos noivos, são duas sogras e várias irmãs e cunhadas, todas dando palpites sobre a igreja, o tipo de cerimônia, o número de convidados, e por aí vai.

Dizem que esses casamentos bem tradicionais, à moda antiga, começam a ser preparados com mais de um ano de antecedência.

Um ano é tempo suficiente para que os noivos briguem e casem com outros/as, mas, se não começarem a pensar tanto tempo antes, as igrejas não terão mais data, os costureiros não terão tempo para fazer o vestido da noiva, das damas de honra, das madrinhas; todos têm de ser pensados em conjunto para que as cores combinem e não haja duas iguais. Já pensou a confusão?

E na hora de escolher o vestido da noiva, engana-se quem pensa que é ela quem decide sozinha: já na primeira visita ao costureiro, a mãe e a sogra vão junto, e esse encontro nunca é pacífico.

Depois tem a decoração da igreja, o local da recepção, a quantidade de convidados, as comidas e bebidas (nacionais ou estrangeiras?), e tem os convites: se os pais da noiva são separados e cada um já é casado com outro/outra, esses outros/outras têm o direito a ficar no altar? Por mais civilizados que sejam todos, o perigo de uma baixaria é grande.

E quem paga a conta da festa? Teoricamente, o pai da noiva, mas, dependendo da situação financeira desse pobre mártir, esse detalhe pode ser negociado.

Sendo as famílias relativamente bem de vida, ainda tem o apartamento dos noivos que será o presente de casamento, que eles encontrarão já prontinho, até com a geladeira cheia. É um momento de tal frenesi que não se fala em outra coisa, e a última em que pensam é em como vai a relação entre os noivos.

Que pode ir bem e outras vezes mal, como tudo na vida.
Digamos que de tanto pensar na festa o amor pode passar para segundo plano, e quando chega a hora do sim já é quase o momento de se separar. Não estou sendo descrente do amor, mas quantos casamentos você já viu que não chegaram ao segundo ano? Eu, vários.

Isso cria um problema grave para os amigos. Se encontram a mãe da noiva e perguntam "e como vão Irene e Mario, bebê já à vista?", é uma saia justa, pois ter de explicar as separações dos filhos -sobretudo os de famílias tradicionais- é sempre embaraçoso. E quando se encontra o noivo e se pergunta pela mulher?

Difícil dizer que o casamento acabou. Por isso, os novos manuais de comportamento e elegância deveriam aconselhar a, quando a separação acontece, ir à mesma tipografia que fez os convites de casamento e participar a separação, dando os novos endereços de cada um.

Já que as modas e os comportamentos mudam o tempo todo, essa seria uma providência digna de aplausos. O texto seria simples: "Irene Couto e Mario Silva comunicam sua separação e seus novos endereços". Não haveria fofocas, e gafes seriam evitadas.

As regras do bom viver e da elegância não começaram com Adão e Eva; foram acontecendo, com o passar dos tempos e as modificações comportamentais.

Por isso, aconselho vivamente a participação da separação, sem precisar dar detalhes, tipo "porque ela descobriu que ele é gay" ou que ela estava tendo um caso com o padrinho do casamento.

Essa é a minha modesta contribuição para o próximo manual de etiqueta que surgir na praça -se possível, me dando o crédito.

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