sexta-feira, 30 de novembro de 2007



30 de novembro de 2007
N° 15434 - Paulo Sant'ana


Vai engarrafar!

E depois ainda subestimam o valor do jornalismo especializado em determinados assuntos.

Olhem o que escreveu Rosane de Oliveira na sua página de ontem em Zero Hora: "Há mil formas de boicotar uma CPI. A mais eficiente delas é dominar os postos de comando e fazer marola com os requerimentos".

Esse tipo de observação percuciente do metabolismo parlamentar só pode ser feito por uma jornalista que se dedica há anos ao mesmo campo de atividade.

Fui saber ontem que cortar o interior de shoppings com o carro para encurtar trajetos urbanos ou evitar o engarrafamento das ruas é mania arraigadíssima em Porto Alegre, não só nos dois shoppings que citei ontem, mas em vários outros também.

E sobre o mesmo tema, no qual insisto, do excesso de carros que já há nas ruas de Porto Alegre e das grandes cidades brasileiras, acode-me o médico Paulo José Di Nardo, afirmando que por várias vezes foi até o aeroporto Salgado Filho e lá viu um saguão completamente vazio, sem passageiros de saída e chegada; no entanto, minutos antes, não havia vaga para nenhum carro na garagem.

Ou seja, uma frota imensa de carros num aeroporto sem passageiros.

Já sei que vão me dizer que as pessoas costumam deixar seus carros no aeroporto e embarcam nos aviões.

Mas até isso favorece a minha tese. Ou seja, mesmo que vão para Rio, São Paulo ou para o Camboja, entopem as ruas e avenidas com seus carros, não usam táxi nem ônibus.

E deixam seus carros nos estacionamentos dos aeroportos, tirando as vagas das pessoas que vão até lá para receber ou despachar seus familiares e colegas. Falo de cadeira, porque cansei de incorrer nesse defeito.

Além do excesso de carros na rua, existe a obsessiva e sedentária mania nossa de não tirarmos nossos traseiros dos bancos de nossos carros. Uma dependência doentia.

Mas depois não digam que não avisei: vai engarrafar total, vai haver colapso no trânsito.

É que ontem o Diário Gaúcho botou na manchete de sua capa o sonho realizado de quem está comprando carro usado em financiamento de 60 meses.

Ou seja, sem nenhum tostão de entrada, um gaúcho pode comprar hoje um carro usado ou seminovo por, pasmem, zero reais de entrada e R$ 40 ou R$ 50 por mês.

É um negócio inacreditável este milagre econômico do governo Lula, que distribui carros zero e usados para os brasileiros de menor poder aquisitivo, que afinal ganharam sublimemente o direito de ter carro como os mais possuídos.

Metrôs, trens, transporte coletivo de melhor qualidade, nada.

"Oh, bendito o que semeia/ carros, carros à mancheia/ e manda o povo rodar/ o carro caindo nalma/ é chuva que faz a palma/ é água que faz o mar".

Só que este mar, este oceano de engarrafamento, vai nos afogar.

Com carros usados financiados a R$ 40 mensais, não fosse a gasolina, o seguro, o IPVA, a carteira de motorista - que a nova direção do Detran teima em não reduzir para a metade seu atual preço, depois que se viu que 50% do que pagaram candidatos à habilitação ia para o escândalo do Detran - ,

não fossem todas essas despesas e se poderia dizer que comprar carro a R$ 40 de prestação por mês significa vantagem financeira muito maior do que pagar passagens de ônibus.

E podem ter certeza de que, com essas facilidades de financiamento, muita gente financiada vai concluir que sai mais barato andar de carro do que andar de ônibus.

Tola e trágica ilusão! Mas vai engarrafar total.

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