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sexta-feira, 23 de novembro de 2007
23 de novembro de 2007
N° 15427 - DAVID COIMBRA
Mulheres no chão
Lá estava eu, em Oxford, em meio a todas aquelas universidades vetustas e gramados perfeitos e tudo mais, decidido a descobrir como funcionava a noite da Velha Álbion.
Por sorte, conhecia um inglês, e ele se dispôs a dar uma volta comigo pelo lugar. Saímos a flanar, tranqüilões, dizendo very goods, escolhendo onde beber uma Guinness densa e olorosa.
Entramos num pub agitadíssimo, havia grupos de ingleses de pé, amontoados no balcão, alguns sentados em volta das mesas e outros escorados displicentemente nas paredes.
Ouviam roquenrou, bebiam cerveja morna em seus canecões de meio litro e falavam alto. Encontramos uma mesa desocupada, mas não havia cadeiras.
Acerquei-me de um grupo de homens e perguntei se podia pegar uma das cadeiras vagas da mesa deles. No escuro e na confusão, achei que tinham consentido. Tomei a cadeira e fui sentar. Meu amigo inglês esperava-me de olhos esbugalhados e boca tremente.
- O que você fez? - perguntou-me, assustado.
Ergui as sobrancelhas.
- Ué, fui pegar uma cadeira.
- Ficou louco? Eles estão bêbados, podiam matar-nos a pancada!
Os 15 minutos seguintes ele dedicou a explicar que, a certa altura da noite, algumas áreas da Inglaterra tornavam-se perigosas. Mais especificamente, 11 horas da noite. É que às 23h os pubs tinham de parar de vender álcool.
O que acontecia era espantoso. No horário fatídico, os garçons de toda a Ilha batiam sinos pendurados atrás dos caixas dos bares, alertando os clientes de que os últimos pedidos de bebida deviam ser feitos.
Os clientes se alvoroçavam, levantavam-se e se jogavam por sobre os balcões, clamando por cerveja, cerveja, bier!
Saíam abraçados a três, quatro, quantos copos de cerveja conseguissem carregar, e os levavam para as mesas e bebiam e bebiam.
Por volta da meia-noite, o cenário das ruas era o oposto do que se imagina ser a fleuma britânica. Ingleses andando trôpegos, abraçados uns aos outros, gritando, cantando, sentados nos meios-fios com os membros lassos, as cabeças pendentes, vomitando em inglês.
E mulheres, muitas mulheres caídas no meio da rua, desmaiadas de tanto beber. Mulheres em geral de minissaias curtíssimas, mesmo quando frio. Mulheres com aquela cara de mulheres inglesas, sabe como é a cara das mulheres inglesas? Pois é. Todas as inglesas têm cara de síndica de edifício, com exceção da Elizabeth Hurley.
Naquela noite de Oxford, fiquei com pena de uma delas e a levantei do chão e a acomodei sob o arco da porta de um prédio. Meu amigo me repreendeu:
- Só estrangeiros erguem mulheres do chão.
E, de fato, logo adiante deparei com outra inglesa estendida na calçada e vi que os ingleses passavam por cima dela cuidadosamente, como se estivessem saltando sobre um cachorro adormecido.
Claro, tudo isso aconteceu antes, quando a Inglaterra ainda era bárbara, quando ainda existia a infame Lei Seca. Hoje, os pubs estão liberados para vender cerveja até de madrugada. Os ingleses compreenderam que nada impede um homem de beber, se ele quiser.
Que mesmo os árabes, proibidos de ingerir álcool, fabricam vinho clandestino e bebem em casa, escondidos, sonhando com o tempo em que ascenderão ao Sétimo Céu e terão direito a 72 virgens e a todo o álcool que puderem entornar.
Que os males do álcool não se combatem com leis, mas com educação.
E que os crimes do trânsito não são eliminados por toques de recolher, mas por punição. Os ingleses sabem disso. Os ingleses evoluíram. São inteligentes, os ingleses.
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