terça-feira, 13 de novembro de 2007



13 de novembro de 2007
N° 15417 - Moacyr Scliar


O Brasil de Itaipu

Fui muitas vezes a Foz do Iguaçu, mas nunca visitei Itaipu, o que teria sido fácil; a usina fica perto da cidade e há excursões organizadas para lá.

Esta recusa, contudo, nascia de um ressentimento de minha geração. Itaipu começou a ser construída há exatamente 30 anos, em pleno período de ditadura.

Tinha portanto a marca daqueles tempos, a marca de uma euforia não raro arrogante e agressiva; a marca do "Brasil, ame-o ou deixe-o", a marca do "Ninguém segura este país". Independentemente de qualquer conotação, Itaipu é, antes de mais nada, uma usina hidrelétrica.

A energia que produz - e é muita energia, corresponde a cerca de 20% das necessidades brasileiras - continua a fluir pelos cabos de alta-tensão, alimentando casas e empresas de cidadãos brasileiros, independentemente de posição política.

Itaipu é uma obra assombrosa. Aplicado à construção civil o ritmo em que foi construída, ter-se-ia, a cada 55 minutos, um prédio de 20 andares.

O aço ali utilizado daria para erigir 380 Torres Eiffel. O concreto gasto permitiria construir 219 Maracanãs. E, do ponto de vista arquitetônico, a obra chega a ser surrealista.

A represa, cuja altura equivale a de um edifício de 66 andares, tem em seu interior um imenso espaço vazio; olhando-se para cima, tem-se a impressão de estar no interior de um gigantesca catedral gótica, maior que qualquer Notre Dame.

E catedral Itaipu é, um templo à tecnologia que permite a produção de energia limpa, sem poluição, uma energia que aproveita os imensos cursos de água do Brasil. Tal como o notável parque eólico que temos em Osório, produzindo energia a baixo custo.

Restrições são feitas a Itaipu: o desaparecimento das Sete Quedas (lembrado no poema de Drummond: "Sete quedas por nós passaram/ e não soubemos, ah, não soubemos amá-las"), o deslocamento de populações, a ameaça a espécies nativas. Mas independentemente de qualquer controvérsia, uma coisa é certa:

a hidrelétrica, construída em associação com o Paraguai, mostra o talento e a capacidade de trabalho dos brasileiros, coisa que recentemente ficou comprovada com a descoberta dessa enorme jazida de petróleo, testemunho da dedicação dos técnicos da Petrobras.

Essas coisas, felizmente, independem de governos e de regimes políticos.

A ditadura passou, Itaipu ficou. O Brasil é maior que seus transitórios governos, autoritários ou não. O Brasil é do tamanho de Itaipu

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