sábado, 17 de novembro de 2007



17 de novembro de 2007
N° 15421 - CLÁUDIA LAITANO


Brigada doméstica

Todos os anos, desde 1957, a ONU escolhe um tema de fundo para campanhas de reflexão e conscientização ao redor do planeta. Você provavelmente não sabe, mas 2007 é o Ano Internacional da Heliofísica - parte da Física que estuda o Sol, mas não me pergunte muito mais do que isso.

O ano em que eu nasci, me informa o Google, foi dedicado ao Arroz - assunto que pode soar um tanto prosaico para a maioria dos leitores (com exceção dos cachoeirenses, talvez), mas que foi um dos raros, em 50 anos, a emplacar o bicampeonato (o outro foi a Paz).

Em geral, os temas escolhidos revelam as angústias de uma época: Refugiados (1960), Direitos Humanos (1968), Família (1994). Um otimista que percorra essa lista vai notar que a situação da mulher mudou muito, para melhor, desde 1975 (Ano Internacional da Mulher) e que o apartheid felizmente virou História (1978:

Ano Internacional do Apartheid, 1982: Ano Internacional de Mobilização pelas Sanções à África do Sul). Já Tolerância (1995), Pobreza (1996) e Paz (2000) não devem sair da gaveta dos problemas insolúveis tão cedo, assim como Crianças (1979) e Idosos (1999).

Nos últimos 10 anos, os temas ambientais têm sido cada vez mais constantes: Oceano (1998), Montanhas (2002), Água Potável (2003), Desertos e Desertificação (2006).

Mas o longo processo que teve início quando os primeiros cientistas chamaram atenção para o fato de que o planeta podia não estar muito bem de saúde deve culminar em 2008, o Ano Internacional do Planeta Terra.

O ano na verdade é um triênio - as atividades começaram em janeiro e devem se estender até o final de 2009. Mas o interessante é que talvez pela primeira vez desde 1957 a aposta da ONU em um tema de interesse internacional coincide com o momento exato em que as discussões vazaram dos círculos especializados para chegar massivamente ao cotidiano de milhões de pessoas.

Em 2007, a ecologia foi assunto dominante no jornalismo, o que não chega a ser novidade, mas também na publicidade, nas campanhas de marketing das empresas e até no Oscar (com Uma Verdade Inconveniente, alerta a respeito do aquecimento global conduzido pelo ex-vice-presidente americano Al Gore, que compareceu à cerimônia e foi uma das figuras mais celebradas da noite).

O assunto foi tão onipresente no ano que está chegando ao fim, que até as piadas ecologicamente incorretas se tornaram mais divertidas.

Mas não foi por meio das campanhas da ONU, das reportagens assustadoras ou dos comerciais de sabonete feitos de babaçu que a ecologia ocupou territórios importantes em nossas casas em 2007.

Vem de outro quartel-general o exército de ecologistas xiitas que fiscaliza nosso desperdício de água, nos lembra de apagar a luz, nos ensina a separar o lixo e a encaminhar pilhas e óleos usados para o destino correto.

Os mais eficientes agentes de transformação de hábitos domésticos cotidianos são nossos próprios filhos.

Treinadas pela escola, as crianças chegam em casa dispostas a colocar em prática tudo o que aprenderam sobre respeito à natureza - o que, com alguma freqüência, significa assumir a tarefa de dar uma bronca nos pais distraídos.

O que nos resta é calar o bico e obedecer. Fechar a torneira, apagar a luz e torcer para que o empenho desta geração chegue a tempo de fazer alguma diferença no planeta.

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