sábado, 24 de novembro de 2007



25 de novembro de 2007
N° 15429 - Paulo Sant'ana


A ciência dos signos

Tenho um amigo que identifica em menos de um minuto, só pela observação do movimento do corpo, pelo olhar e até pelas dissimulações, o signo de alguém.

Nos últimos anos, vem aperfeiçoando a técnica para descobrir também o ascendente. Tira proveito, como amador, da volta da astrologia como contraponto ao mundo plano das racionalidades.

Olhe em volta na firma, na família, na mesa do bar. Não tem erro: leoninos são de fato imperiais, geminianos são dispersivos, sagitarianos são birrentos, librianos são equilibristas, cancerianos são dengosos. Mas não é fácil identificá-los sem muito convívio.

Meu amigo Heitor Schmitt consegue. Diz que, se a definição de mitos e celebridades pode ser resumida em uma linha, uma pessoa comum cabe em duas ou três palavras. Quando falha no enquadramento e vê Touro num Capricórnio, adverte que a culpa não é dele ou dos astros, mas de desvios na vida do analisado.

Há capricornianos que, ao longo do tempo, se disfarçam de taurinos, assumem a postura de um bicho maior por instinto de sobrevivência.

Há peixes que pensam ser aquário e vice-versa. Mas meu amigo Schmitt os reconhece até nos disfarces deliberados. Diz que as pessoas são os seus signos e que astrologia é coisa séria, é uma ciência, mais exata do que a economia.

Pensei muito nisso na quarta-feira no gabinete da governadora Yeda Crusius, enquanto olhava para uma xícara de café que não conseguia bicar. Quando ameaçava largar papel e caneta, Yeda emitia uma frase que exigia anotação.

Saí do gabinete sem provar o gosto do café palaciano da gestão de Yeda. Mas fiquei sabendo que a governadora é uma leonina preocupada com os estigmas de signo tão poderoso. Yeda levou a conversa para a astrologia quando se queixava dos que a vêem como sisuda e inflexível, como excessivamente leonina.

O poder sempre conviveu com o que se pode chamar genericamente - atenção: sem depreciações - de esoterismo. Bruxos freqüentaram e ainda freqüentam palácios em todo o mundo.

Mas em algum momento a racionalidade recomendou que pessoas ditas sérias e em altos postos se afastassem desse tipo de coisa. Pensadores identificaram esse momento nos anos 80, quando se disseminou o neoliberalismo de Margaret Thatcher. Só ela poderia ser bruxa.

O filósofo e lingüista francês Jean-Claude Milner, por exemplo, vê o sucesso de Harry Potter como uma resposta britânica, que se espalhou por toda parte, ao individualismo e à previsibilidade da competição neoliberal.

As bruxarias de Potter devolvem a todos a chance de descansar de tanta realidade e competição com um pouco de magia e companheirismo.

O ocultismo seria nosso jeito de congregar, compartilhar e reatar afetos e sacanear os racionais com truques que eles não entendem. A astrologia também cabe nesse raciocínio. É de Milner esta frase: "É como se ela (J.K. Rowling, a criadora de Harry Potter) dissesse: aprendam o grego ou o latim, em vez de marketing. Assim, poderão atuar no mundo de forma imprevisível".

O bruxo Potter é um leonino. Nasceu em 31 de julho de 1980, no início da Era Tatcher. Leão é o signo do poder, de Napoleão, Mussolini, Fidel Castro.

Acalmem-se, também são leoninos Caetano Veloso, Bruna Lombardi, Mick Jagger. Mario Quintana e Hitchcock eram leoninos. Quintana deve ter sido o mais pisciano dos leoninos.

Mas e daí? Qual é a lógica disso tudo? Yeda aproxima-se dos signos para se livrar dos labirintos dos déficits insolúveis da razão economicista? Onde se amarra tanta informação aparentemente irrelevante?

Peça lógica e amarração ao aluno de marketing de que fala Jean-Claude Milner. Um geminiano legítimo apenas fala do que não sabe e enrola, enquanto o SantAna não volta.

Moisés Mendes (interino)

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