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sexta-feira, 16 de novembro de 2007
16 de novembro de 2007
N° 15420 - David Coimbra
O Verão de 98
Era assim que nos referíamos àquele tempo: O Verão de 98. Com maiúsculas. Falávamos, em meio a suspiros: "Ah, O Verão de 98...", embora ainda estivéssemos em meio ao Verão de 98. Falávamos com nostalgia daquela época porque sabíamos que ela nos traria saudades. Como trouxe.
No aniversário do Professor Juninho, em janeiro, tomamos a calçada do Lilliput de ponta a ponta. Nunca ninguém descobriu quantos passaram por ali naquela noite histórica.
Chegamos em 20, logo éramos 40, talvez 60. Alguns saíam e depois voltavam, outros saíam e ligavam para saber se ainda estávamos lá. Estávamos.
Ficamos até de manhã, consumimos 600 chopes. Seiscentos! Casamentos foram atados e desatados naquela noite, muitos amigos foram para a cama com amigas e pelo menos um relacionamento homossexual estourou na última curva da madrugada.
Fomos nós que inventamos aquilo, a Calçada da Fama, a noite da Padre Chagas. Nós, modestamente: eu, o Ricardo Carle, o Degô, o Professor Juninho, a Cris, a Ju, a Magrela. Não havia nada naquela região, exceto casinhas bucólicas, senhoras bem fornidas com seus pequineses e um único bar, o Jazz Café, do nosso amigo Dirceu Russi.
Justamente pelo Dirceu ser nosso amigo que rumávamos para lá, logo que fossem pingados os pontos finais de nossas matérias na Zero. Partíamos em dois carros, o do Degô e o do Juninho, que eu e o Ricardo Carle não guiávamos auto.
Noites hilárias, algumas dantescas. Numa delas, o Ricardo Carle brigou com o gordo Damiani, um dos donos do Lilliput. O que o Damiani disse, não sei;
o que o Ricardo fez, sei: atirou-lhe uma cadeira, a cadeira voou pelo bar, passou por cima das cabeças de um casal de namorados e se espatifou em uma pilastra. O casal de namorados foi embora, o gordo Damiani criticou a pontaria do Ricardo Carle, o Ricardo Carle pediu outro chope.
Doutra vez, a noite estava amena, nada acontecia, eu e o Ricardo bebíamos em silêncio, o Professor Juninho sorria para a sua última namoradinha e aí deu-se o que se deu: uma ex-namorada do Juninho se materializou ao seu lado, egressa das sombras da rua. Olhei para ela, aterrorizado, todos olhamos. Ela rosnava.
Rosnando, debruçou-se sobre a mesa, esbofeteou o Professor Juninho uma vez e sua acompanhante quatro (quatro!) vezes. Feito isso, desapareceu nas trevas, como se a terra a tivesse engolido. O bar silenciou. Era possível ouvir a evaporação dos chopes. Um carro da Brigada passou pela rua. Comentei, tentando descontrair o ambiente:
- A polícia nunca aparece quando a gente precisa...
O ambiente não descontraiu.
Sim, nós fundamos aquele pedaço da noite porto-alegrense. E agora o Juremir Machado da Silva escreveu um livro sobre outro pedaço, o do Bom Fim, e o dedicou ao Ricardo Carle.
Bastou uma tarde para ler o livro e menos ainda para me emocionar, talvez por lembrar do tempo em que entramos juntos na faculdade, eu, o Juremir e o Ricardo, talvez por saber que, como prevíamos em 98, nada mais é como foi.
Alguns de nós temos filhos com pessoas que não eram da turma daquela época, outros se mudaram, o Damiani morreu e Ricardo Carle também.
Tudo mudou. Mas, volta e meia, alguns de nós ainda nos reunimos no Jazz Café, e pedimos alguns chopes, e erguemos nossos copos, e brindamos. Ao Ricardo Carle, é claro.
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