
A humildade é o nosso pijama
Entenda que a humildade é o nosso caráter, não visível, já a
confiança é o nosso rosto, à mostra. Não se subestime. Não se rebaixe. Há
pessoas que desejam nos humilhar, que aproveitam a nossa vulnerabilidade para
pisar nos calos, nos pontos fracos, para nos expor indevidamente.
Eu me dei conta de que a humildade é um movimento interior,
discreto, inflexível. Você só pode praticá-la consigo. Não é para espalhar aos
outros: "como eu sou humilde".
Caso a sua intenção seja angariar simpatia, acabará perdendo
respeito. Parecerá que aceita tudo, que qualquer coisa serve, que dá pouca
importância para o seu dom. O discurso logo desemboca em uma inferiorização
súbita, em que você se limita a papéis pequenos, prontificando-se a ser um mero
coadjuvante.
Nada disso. Se você não defende o seu valor para o mundo,
ninguém mais o fará. Todos querem tirar de você o máximo de trabalho pelo menor
preço possível. Todos se deliciam com pretextos para que esteja disponível,
para obter um desconto, para arrancar uma barganha.
Transmitirá uma imagem de desespero de opções, desprezo pela
autoestima, transparecendo não desfrutar de grandes aspirações. Não convém. O
exercício da humildade cabe unicamente dentro da solidão, a partir da labuta,
do esforço, da disciplina.
Não se adequa à ostentação, não se trata de uma qualidade
que você deve difundir por aí, para influenciar a opinião alheia.
O efeito sempre será o oposto do pretendido. Ao tentar se
ver livre da soberba e da arrogância, ao fugir de ser identificado como
ególatra ou chamado de megalomaníaco, cometerá o pecado maior de transformar a
humildade em vaidade, em propaganda. Por isso existe a expressão "falsa
modéstia".
É uma ferramenta que você somente usará para si, para o seu
conhecimento, para o desenvolvimento do seu potencial — sem plateia, sem
testemunhas. Só você tem condições de concluir se vem sendo humilde ou não.
Mas, para fora, mantenha a linguagem da firmeza e da segurança, protegendo a
sua riqueza, o seu tamanho, o alcance dos seus projetos.
A humildade é o nosso pijama. Você não sai na rua de pijama.
Não frequenta restaurante de pijama. Não comparece a uma festa de pijama. A
humildade é exclusivamente para você e para os mais próximos. É restrita para a
intimidade, acessível a quem está em casa. É o seu momento reservado, o seu
esconderijo de energia e fôlego, o seu reabastecimento de propósito. E, quando
você foca naquilo de que depende para crescer, consegue estabelecer as suas
prioridades, pôr empenho silencioso para realizá-las, espantar a inércia,
concentrar-se nas tarefas mentais, demonstrar disposição, tomar a iniciativa,
combater a procrastinação e o amuo.
Não indica uma postura externa, um privilégio para colocar
no currículo, para contar vantagens. Não há meios de calcular, medir, explicar
ou justificar o quanto você é verdadeiramente singelo.
Quando gostamos de nós mesmos, é fundamental nos elogiar
publicamente, incentivar-nos em nosso círculo profissional, falar bem de quem
somos e do que descobrimos sobre nós ao longo das árduas experiências e
extensas terapias — desse processo duro da vivência de ganhos e sacrifícios.
O discernimento é absolutamente imprescindível: criar um
filtro entre o que revelar e o que guardar para si.
Entenda que a humildade é o nosso caráter — não visível —,
já a confiança é o nosso rosto — à mostra. A primeira acontece no território da
sombra, feita do nosso suor, da fragilidade e insuficiência conscientes; a
segunda é destinada a transitar na luz, a brilhar com o nosso invencível
sorriso.
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