
Alunos da Uergs apontam falta de professores e de disciplinas
Ensino
Estudantes da universidade na Capital e no Interior enfrentam oferta irregular de cadeiras por falta de docentes, o que acarreta abandono dos cursos ou atrasos de anos nas formaturas. Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia do RS lista investimentos feitos na instituição nos últimos anos
Sofia Lungui
Praticamente sem novos professores há 10 anos, a Universidade Estadual do RS (Uergs) tem oferta irregular de disciplinas, demora na conclusão dos cursos e, consequentemente, evasão de alunos.
Com quase 25 anos de história, a Uergs tem cerca de 4,3 mil estudantes em 23 municípios. Apesar de a universidade ter aumentado a oferta de cursos ao longo dos anos, o número de docentes e de técnico-administrativos não acompanhou o crescimento.
O plano de carreira prevê que a instituição tivesse 600 professores e 390 funcionários. Conforme o reitor, Leonardo Beroldt, o quadro atual é de 252 professores e 166 empregados do quadro técnico e apoio administrativo - pouco mais de 40% do previsto.
- Não sei dizer ao certo em que semestre estou. Era para estar no quinto, mas tenho várias cadeiras atrasadas do segundo, por falta de professor. Os professores precisam dar conta de um número muito grande de disciplinas, vemos muitos se afastando por adoecimento - conta Julia Morais Ferreira, 22 anos, estudante de Administração Pública.
O problema se estende ao Interior. Aluna de Gestão Ambiental na Uergs em Erechim, Rafaela Vilanova está quase concluindo o curso, mas terá que atrasar a formatura por mais um ano, pelo menos, para vencer disciplinas que faltam.
Os coordenadores tentam adaptar as grades curriculares para o máximo de aproveitamento por semestre. Porém, se não tem professor para as matérias, não tem milagre - lamenta a jovem de 22 anos.
Porém, não faltam elogios à qualidade dos professores.
- Nossos professores são ótimos e se desdobram para conseguir suprir a demanda de ofertas de disciplinas - diz Victória, aluna de Ciências Biológicas no campus de Osório.
O reitor Leonardo Beroldt reconhece as dificuldades:
- Se eu não tenho os professores, componentes curriculares têm de ser absorvidos por outros docentes ou deixam de ser ofertados. Isso gera retenção de estudantes na universidade e evasão. Nós temos potencial de ter muito mais programas de pós-graduação, por demandas regionais. Mas os professores estão sobrecarregados.
Concurso patina há três anos
Em 2022, a Uergs recebeu autorização do governo do Estado para realizar concurso para repor 52 vagas, sendo 27 para técnico-administrativos e 25 para professores. Três anos depois, nenhuma seleção foi concluída. Já a seleção para as vagas de técnico-administrativos foi realizada em 2024, mas a contratação dos aprovados foi negada pelo Estado. Não há previsão de conclusão. Beroldt justifica a demora pelo envolvimento de integrantes das bancas que são de fora da universidade:
- Ajustar as agendas não é simples. O edital foi bastante concorrido, tivemos áreas com mais de 150 inscritos. Mas isso gera um trabalho complexo, porque são seleções que envolvem prova teórica, prova didática, análise de currículo.
Na avaliação do reitor, a Uergs também enfrenta dificuldades orçamentárias, com reajustes anuais abaixo da inflação.
- Nosso planejamento orçamentário para 2026 chegou em torno de R$ 191 milhões, e o teto do governo, que está no Projeto de Lei Orçamentária Anual, é de R$ 142 milhões, incluindo folha de pessoal - afirma Beroldt.
Por isso, a universidade busca outros meios de obter recursos. Na audiência pública de agosto, foi solicitada a aplicação de 0,5% da Receita Corrente Líquida do Estado na Uergs, conforme previsto em lei.
Outra reivindicação é o aproveitamento do Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag), do governo federal, para viabilizar a qualificação da estrutura física por meio do Juros por Educação - iniciativa da União que permite que os Estados invistam o equivalente aos juros de suas dívidas refinanciadas em políticas de promoção de educação técnica e em universidades estaduais.
Outros investimentos
Em nota, a Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia do RS (Sict), responsável pela Uergs, listou investimentos feitos na universidade nos últimos anos.
Cita os R$ 15 milhões do programa Avançar na Inovação, R$ 9 milhões do via Plano Rio Grande para reformar ou substituir equipamentos do Campus Central, a incorporação de áreas da extinta Cientec aos campi de Porto Alegre e de Cachoeirinha e programas de bolsa de estudos na engenharia e na pós-graduação. A secretaria também destaca que a Uergs terá protagonismo em projetos em curso ligados a mudanças climáticas e prevenção de novos desastres.
Titular da pasta, Simone Stülp declarou que acompanha as demandas apresentadas pela comunidade acadêmica. Segundo ela, esclarecimentos sobre o déficit de professores serão encaminhados "ao núcleo decisório do governo". Porém, a secretária pondera que a Uergs tem uma média de 17 ou 18 alunos por professor, considerada boa na sua avaliação.
O último concurso foi realizado em 2014, à exceção de uma seleção em 2018 para repor uma vaga de professor de Libras. _
Ciclone deve ser mais forte no Litoral, alerta Inmet
Tempo severo
O litoral gaúcho é a região com maior risco de ser impactada pelo ciclone que atinge o Rio Grande do Sul nesta semana. O fenômeno meteorológico poderá provocar volumes expressivos de chuva em curto espaço de tempo, fortes rajadas de vento e possibilidade de queda de granizo. A projeção é do meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Marcelo Schneider, que estima que as precipitações poderão variar de 30 a 70 milímetros, podendo passar de 100 milímetros em algumas áreas, e o vento superar os 100 km/h.
- O vento começa a acelerar hoje (ontem), mas principalmente na virada de terça (hoje) para quarta-feira, podendo, em várias áreas, se aproximar, até mesmo passar, dos 100 quilômetros por hora. A área mais preocupante é realmente o Litoral, como é de costume, por causa da formação da baixa (pressão) e o tempo que ela vai permanecer durante a quarta-feira - destacou o especialista, em entrevista ontem à Rádio Gaúcha.
Schneider explicou que o volume pode ser superior à marca dos 100 milímetros de forma isolada, principalmente no entorno da Lagoa dos Patos, em municípios como São Lourenço do Sul, Tapes, Camaquã, Rio Grande, e em pontos entre Bagé e o centro-sul do Estado, como Caçapava do Sul. O Inmet está atento para a virada da noite de hoje para amanhã, com foco na faixa leste do Estado. Este é o período em que o vento estará mais forte.
Estragos na Serra
No final da tarde de ontem, uma chuva forte atingiu a Serra. No interior de Flores da Cunha, ocorreram destelhamentos de ao menos 15 casas e queda de árvores em estradas. Parreirais e estufas foram danificados e uma vinícola teve parte da estrutura avariada. Em Caxias do Sul, ocorreram alagamentos no bairro Reolon e destelhamentos nos bairros Cidade Industrial e São José.
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