
Sequestro com resgate pago por contribuinte
A operação da Polícia Federal (PF) que envolve busca e apreensão em dois gabinetes estrelados da Câmara dos Deputados investiga desvio de verba de cotas parlamentares.
São pagamentos que vão além dos salários, em tese para compensar despesas necessárias para o exercício do mandato, como passagens aéreas, hospedagens, alimentação e aluguel de carros - foco da investigação atual. Saem, como toda verba pública, do bolso dos pagadores de impostos - quase todos os brasileiros.
Desvio de cotas parlamentares é uma manobra antiga, mas parece ter sido aperfeiçoada, já que em um endereço ligado a Sóstenes Cavalcanti (PL-RJ) foram encontrados R$ 430 mil em dinheiro vivo. Quando quantias como essa são mantidas fora do sistema financeiro, indicam intenção de escondê-la do controle, portanto reforçam suspeita de origem ilícita.
Fraude impede melhoria no serviço público
O que a PF apura é a hipótese de que aluguéis de carros que foram cobrados nunca ocorreram na prática: seriam forjados para que os titulares do mandato ficassem com essa parte da cota. É mais uma forma de sequestro do orçamento público, além das emendas parlamentares, que já tiveram previsão de R$ 81,4 bilhões neste ano, valor com escala semelhante à da defesa (R$ 96,1 bilhões).
Depois de tentativas de conter esse valor, o governo Lula concedeu um presente de Natal em retribuição à aprovação de regras que ajudam a fechar o rombo no orçamento de 2026: ressuscitou repasses de 2023 que estavam cancelados e liberou cerca de R$ 3 bilhões.
Nesse jogo, o Congresso sequestra o orçamento e o Executivo paga, com os recursos que deveriam ser usados para melhorar os serviços públicos aos cidadãos. Não deve haver melhor negócio.
Mas se as emendas ainda embutem ao menos a chance de algum benefício público - mesmo que muitas vezes representem gasto ineficiente e pouco transparente -, a apropriação de cotas, caso seja comprovada, vai direto para o bolso de quem comete a ilegalidade. _
A semana em que o mercado desanimou com o "trade Tarcísio" (aposta no governador de SP na disputa à Presidência) terminou em clima blasé: o dólar variou 0,12% para cima, para R$ 5,529, e a bolsa subiu 0,35%, para 158,4 mil pontos.
Imóveis 1x0 juro alto
Juro alto e incertezas na economia não impediram que o mercado imobiliário de Porto Alegre encerrasse 2025 com alta de 11,2% nas vendas de imóveis residenciais em comparação com o ano passado. O preço médio teve queda de 1,8%, chegando a R$ 529,2 mil.
Cidade Baixa é o bairro com o maior crescimento entre os com maior número de transações, com alta de 55,8% em relação a 2024. Em números absolutos, Petrópolis teve o maior volume, com 1.248 vendas. O preço médio no bairro, no entanto, teve queda de 6% no ano. No Partenon, o recuo chega a 2,5%.
Os dados são da Loft, com base nas transações registradas na prefeitura de Porto Alegre e projeções para novembro e dezembro. A capital gaúcha deve fechar o ano com 20.454 imóveis vendidos, maior nível desde 2022, quando começa a série histórica. _
Alta e baixa na venda
Bairro variação em %
Cidade Baixa 55,8
Sarandi 35,2
Rio Branco 34,2
Petrópolis 19,7
Vila Ipiranga 16,7
Santana 13,7
Centro Histórico 9
Passo d?Areia 4,2
Menino Deus -1,6
Pedido de quebra de contrato da Enel é alerta à Equatorial
O apagão que deixou paulistanos sem luz por quase uma semana formou uma aliança improvável: o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e o prefeito da Capital, Ricardo Nunes, pediram a quebra de contrato de distribuição de energia com a Enel. Acionaram a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que aproveitou o processo aberto em 2024 - como registrado na coluna à época - para acelerar o processo.
O debate começou na Amazonas, que depois foi vendida aos irmãos Batista, da J&F; passou pela Enel em outro episódio e pelo RS, com situação semelhante na área da CEEE Equatorial.
Embora o processo de perda da concessão - chamado de "caducidade" no setor elétrico - seja demorado, tem um sentido pedagógico: demonstra que esse tipo de gestão de consequências pode ser raro, mas não é impossível, como sempre sustentou a coluna.
É um alerta para a CEEE Equatorial, que há pouco deixou outra vez clientes sem luz por mais de 48 horas depois de uma tempestade severa, mas curta.
No mês passado, quatro anos e meio depois de ter assumido a CEEE, a Equatorial comunicou ter enfim alcançado o limite máximo de horas sem luz previsto em seu contrato de concessão. A companhia que atende Região Metropolitana, sul e litoral do Estado foi privatizada em março de 2021. _
Por que tanto medo do Mercosul
Mais uma vez adiada, a assinatura do acordo de livre-comércio entre Mercosul e União Europeia (UE) corre risco de se tornar uma novela com 26 anos de duração e final aberto. Ao se unir a França, Polônia e Hungria na oposição, a Itália alegou defesa dos produtores rurais.
E isso ocorreu mesmo depois de o Parlamento Europeu ter aprovado novos mecanismos de proteção para produtos agrícolas do bloco. Mas afinal, do que os produtores rurais europeus têm tanto medo? Não é só medo da concorrência. Outra ameaça vem de novas reduções nos subsídios para plantar e criar animais, no âmbito da Política Agrícola Comum (PAC), mais antiga do que a própria União Europeia, que só existe com esse nome a partir de 1993.
A PAC foi criada em 1962, para garantir o abastecimento de alimentos a preços acessíveis e dar rendimento justo. Foi depois da Segunda Guerra Mundial, quando a produção havia escasseado a ponto de agravar a fome dos afetados pelo conflito. Toda uma geração só conhece essa forma de atuar, nunca "operou a descoberto", como agricultores no Brasil.
Funciona com pagamentos diretos ao produtor. Isso gerou a ironia de que uma vaca europeia tem "renda" superior a muitos humanos: cerca de US$ 3 ao dia ou US$ 1 mil ao ano. A proposta é de corte ao redor de 20% de 2028 a 2034.
A redução é resultado da necessidade de reforçar o orçamento de defesa europeu, decorrente da renúncia do presidente dos EUA, Donald Trump, de frear os avanços expansionistas do presidente da Rússia, Vladimir Putin.
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