
09 de Dezembro de 2025
CARPINEJAR
Festa simbólica
Chega dezembro, e o mês derradeiro do ano traz junto as festas da firma. Você talvez jure que é uma festa. É, no entanto, como a surpresa do amigo secreto: simbólica. Assim como o presente do amigo secreto parece presente, mas não passa de uma lembrança barata, a festa da firma parece uma festa, mas é apenas um coffee break disfarçado.
Não caia em tentação. As informalidades são regradas. Não acredite que a consumação é livre. Nem incentive os demais a virar os copos. Controle-se. Beba como se fosse pagar cada drinque. Não transforme o balcão em shots de restaurante mexicano. Mariachis surgirão de sua alucinação.
Não confunda a ocasião com suas gandaias da vida pessoal, ao lado dos afetos. Não queira exibir dotes de cantor, nem de dançarino requebrando até o chão. Tente não levantar os braços, porque depois os joelhos acompanham. Não dê recibo para o desastre.
Imagine que está se dirigindo a um churrasco do sogro. Aja igual. Com a parcimônia das armadilhas. Não lidere gracejos, não tope desafios etílicos. Se possível, seja reservado, na medida certa entre marcar presença e não chamar atenção.
Ninguém é promovido na confraternização, mas qualquer um está propenso a se candidatar e oferecer motivos à dispensa futura.
Um dos erros mais comuns é buscar ser o melhor amigo súbito e incondicional do chefe, e se demorar em abraços ou gargalhadas, apoiando o seu peso morto nos ombros vivos dele, ostentando uma intimidade que não foi conquistada.
A ilusão maior dessa celebração é ansiar provar o quanto se é legal no lazer, nas horas vagas, e desconstruir a imagem de seriedade no batente. Os efeitos jamais serão os esperados. Pelo contrário: o patrão desconfiará de sua duplicidade, suspeitará que você é um rolo de dupla face, escondendo algo ou agindo com dissimulação.
Não dá para se isolar, tampouco ser o centro da pista. Nem introversão, nem catarse. Ponha na cabeça que continua sendo um compromisso laboral, mesmo que tenha banda puxando o coro; mesmo que toque I Will Survive, da Gloria Gaynor, Don?t Stop Me Now, do Queen, Dancing Queen, do ABBA, ou Good Vibrations, dos Beach Boys.
Mantenha o foco como numa reunião. Como numa live. Como numa apresentação de metas. Cumprimente e seja simpático - de modo nenhum efusivo ou escandaloso. Deixe a quinta série fora do recinto.
Aproveite o momento para circular e conhecer os colegas de outras áreas. Demonstre interesse em escutar, não indiscrição. Não insista quando alguém se vê constrangido de responder.
Pelo ambiente mais descontraído do que o normal, não se sinta poderoso e onipotente para fazer fofocas ou falar mal dos funcionários e da própria empresa. Será julgado pela falta de profissionalismo. Muito menos se mostre ingrato criticando o serviço, a comida ou a organização do evento.
Não conte piadas. Os preconceitos moram nelas. Existem grandes chances de humilhar quem está na roda. Não arrancará risos - no máximo, um processo de assédio moral.
Por último, não espalhe cantadas, sequer indiretas de cunho sexual. Não fique conversando dentro dos ouvidos alheios, sussurrando ou salivando. Essa postura cria ranço, enoja os mais próximos. Investidas inconvenientes ou flertes unilaterais e abusivos são justa causa. Onde se ganha o pão, não se come a carne - seu pai já deve ter dito.
Perante os excessos, você pode sobreviver à festa da firma, mas sua reputação não resistirá aos vídeos virais das redes sociais. Lembre-se: todo encontro no emprego dura para sempre.
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