20 de Dezembro de 2025
MARTHA MEDEIROS
O poder dos homens
Depois de as mulheres terem levado um século para redefinir seu papel na sociedade, parecia óbvio que os homens teriam que redefinir o seu também. De passivas a atuantes, de dependentes a empreendedoras, de devotas ao casamento a sexualmente ativas: não tinha como essa revolução acontecer sem adaptações no terreno oposto. Só que no outro lado continuou tudo igual: meninos sendo criados para prover, brigar e tratarem as mulheres como apêndices ou troféus. Deu no que deu: hoje as mulheres têm seu próprio dinheiro, autoestima em dia e só levam uma relação adiante se ela for saudável e equilibrada. Se for para conviver com um brucutu, um homem que não a trata com respeito, melhor ficar solteira, livre. Mas os neandertais não aceitam.
O crescente número de feminicídios é consequência do que se considera uma afronta: as mulheres ousaram dividir o protagonismo com os homens e os inseguros ficaram cegos de ódio. Nem todos os homens enxergam que, hoje, eles têm a bênção de serem protagonistas do que nunca foram: da responsabilidade afetiva pelos filhos e da expressão dos próprios sentimentos, por exemplo. Mas sem capacidade emocional e intelectual para se atualizar, estão resolvendo a questão como se ainda vivessem no tempo das cavernas. Um vexame.
Sou uma mulher repetindo aqui outras mulheres, o que não muda muita coisa. Falar, escrever, discursar para nós mesmas reforça a consciência de que não devemos tolerar nenhum tipo de violência, mas quem pode de fato ajudar a reduzir os crimes são os homens que dizem estar do nosso lado, mas que ainda não têm coragem de serem aliados efetivos.
São homens que riem ao escutar pais e tios contarem, na mesa do almoço, piadinhas que há muito deixaram de ser engraçadas. Homens que escutam quietos os amigos sem noção se referirem a mulheres como se elas fossem coisas, objetos. Homens que ficam inibidos de defender uma perspectiva renovada das relações conjugais, temendo ser excluídos do grupo. Homens que passam pano para discursos de trogloditas patéticos, em vez de tomar posição. Homens que acham que tudo não passa de mimimi e que se a mulher foi arrastada por um carro, soqueada dentro de um elevador ou assassinada durante uma discussão, foi porque alguma ela aprontou. São homens sempre dispostos a julgar as mulheres, permanecendo anacrônicos e coniventes com a brutalidade, quando poderiam, agora sim, agigantar seu papel.
Poderoso é quem se põe em movimento e se engaja onde está sendo necessário. Os homens ainda têm um grande poder. Imenso. Transformador. O poder de interromper a cultura da misoginia. O poder de influenciar outros homens. Que o usem. Ser macho, agora, é nada mais que isso. _
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