
Meu ranking afetivo dos filmes lançados no Brasil neste ano tem obras da Austrália, do Brasil, dos EUA, da França e da Itália. Menções honrosas para "F1: O Filme", "Uma Bela Vida", "Sing Sing" e "A Natureza das Coisas Invisíveis"
Os melhores de 2025
Top 10
Filmes estão em exibição nos cinemas ou disponíveis no streaming
10º) "Uma Batalha Após a Outra" (2025)
De Paul Thomas Anderson. As duas horas e 40 minutos passam voando, porque o diretor fez uma mistura fascinante de comédia maluca, comentário político e filme de ação - incluindo sequência antológica de perseguição de carro. Sean Penn rouba a cena na pele do militar Lockjaw, sujeito ao mesmo tempo ridículo e perigoso, reprimido e agressivo. (HBO Max)
9º) "Vermiglio: A Noiva da Montanha" (2024)
De Maura Delpero. Em 1944, a chegada de um soldado desertor da Segunda Guerra Mundial transforma a imensa família do professor de uma vila alpina na Itália. Cesare, o docente, exerce um tipo diferente de patriarcado: não é violento nem chega a ser abusivo, mas rotula os próprios filhos e determina seus destinos. Dino, o mais velho, é tratado pelo pai como uma decepção. Ada, a filha do meio, tem um "limite" na vida escolar. (Canal Filmelier+ do Amazon Prime Video)
8º) "Oeste Outra Vez" (2024)
De Erico Rassi. Filmado na Chapada dos Veadeiros, em Goiás, é o faroeste dos homens tristes, dos homens patéticos, dos homens que não conseguem falar sobre seus sentimentos. Na trama, Totó (Ângelo Antônio), inconformado pelo fato de a mulher que ama estar agora com outro homem, contrata um velho pistoleiro para tentar matar Durval (Babu Santana). (Telecine)
7º) "Misericórdia" (2024)
De Alain Guiraudie. Jérémie regressa à cidadezinha natal para o funeral do antigo patrão. Lá, ele decide ficar uns dias hospedado na casa da viúva. Sua presença causa estranheza na comunidade. Aconteceu algo no passado? Por que o protagonista não vai embora? Outro enigma a desvendar é sobre o próprio gênero do filme: é um policial? É sobre um romance proibido? É um drama sobre segredos de família? É uma comédia absurda? É uma reflexão sobre culpa e castigo? (Filmicca)
6º) "Pecadores" (2025)
De Ryan Coogler. Pelo menos uma cena desta mistura de drama histórico, musical blues e terror com vampiros já entrou para a história do cinema. É um plano-sequência na noite de abertura do clube dos gêmeos Fumaça e Fuligem (vividos por Michael B. Jordan), uma grande, contagiante e comovente celebração da música como meio de expressão das dores e das alegrias da comunidade negra, a música como veículo de acesso as suas origens e de prospecção por dias melhores, a música como um território de identidade, comunhão e liberdade. (HBO Max)
5º) "A Semente do Fruto Sagrado" (2024)
De Mohammad Rasoulof. O filme se desenrola no contexto dos protestos no Irã nascidos a partir das mortes de jovens que não usaram - ou usaram de forma considerada incorreta - o véu que cobre a cabeça e o pescoço das muçulmanas. O protagonista, Iman, acaba de ser promovido no Tribunal Revolucionário de Teerã. Mas o novo cargo obriga a romper com seus códigos morais e sua ética profissional: ele é orientado a assinar sentenças de morte sem sequer ler os relatórios dos casos. A agitação política nas ruas de Teerã inevitavelmente se reflete no lar de Iman, onde ele mora com a esposa devota, a filha universitária e a caçula, ainda adolescente. (Telecine)
4º) "Faça Ela Voltar" (2025)
De Danny Philippou e Michael Philippou. Após a morte do pai, o adolescente Andy e sua irmã caçula, Piper, são enviados para um lar adotivo, o da excêntrica Laura (Sally Hawkins, em atuação merecedora de indicação ao Oscar), que já acolhe um menino mudo. Logo começam a acontecer coisas estranhas neste filme australiano de terror que tem atmosfera sinistra e despudor para a violência gráfica (para a qual a sonoplastia é fundamental). O ritual macabro na sequência de abertura não é gratuito: deriva de uma dor emocional, é como uma súplica. Prepare-se para ficar perturbado. (HBO Max)
3º) "O Agente Secreto" (2025)
De Kleber Mendonça Filho.
2º) "Foi Apenas um Acidente" (2025) - De Jafar Panahi.
O filme brasileiro e o filme iraniano correm na mesma raia. Os dois podem ser definidos como thriller político; retratam a vida sob um governo autoritário, sempre impregnada pelo medo; mostram como a memória e a verdade podem ser turvas ou até manipuladas; abordam a dificuldade de lidar com um trauma que é tanto pessoal quanto coletivo; têm personagens estranhos uns aos outros que se reúnem por uma causa comum; pontuam a tensão e a violência com momentos cômicos; começam na estrada, seguindo a viagem de um carro; e terminam com uma cena que convida a refletir sobre seu significado. Com um epílogo mais poderoso, Foi Apenas um Acidente fica um degrau acima de O Agente Secreto. (Ambos estão em cartaz nos cinemas)
1º) "Sorry, Baby" (2025)
De Eva Victor. Este filmaço sobre trauma não revela logo de cara que aborda um tema muito sensível, embora equilibrando a contundência com delicadeza, otimismo e até humor. Autora do roteiro, Victor interpreta Agnes, quase 30 anos, professora de Literatura em universidade da zona rural da Nova Inglaterra, nos EUA. Quando o filme começa, ela está recebendo visita da melhor amiga, Lydie (Naomi Ackie), que está grávida. As duas jantam com ex-colegas da faculdade. Esse reencontro denuncia: há coisas do passado não resolvidas. Então, Sorry, Baby recua no tempo no segundo capítulo, O Ano da Coisa Ruim. É o ano em que Agnes, ainda uma brilhante aluna universitária, foi estuprada pelo professor que mais admirava.
A diretora evita a pornografia do trauma: seu foco está como as vítimas processam a violência sofrida e seu impacto emocional contínuo; e como a amizade e a empatia podem salvar vidas. Há um contraste constante no filme: situações de drama, angústia e depressão coexistem com cenas dignas de comédia. "Quem passou por algo parecido sabe que o sarcasmo entra em jogo", justificou Victor.
Vale destacar a estrutura não linear. Ao ir e voltar no tempo, o filme reflete como se sente uma pessoa traumatizada: o passado está sempre à espreita, pronto para reabrir cicatrizes, e a vítima pode girar em círculos, sem conseguir andar para frente. (Em cartaz na Cinemateca Paulo Amorim, na Casa de Cultura Mario Quintana, às 18h45min).
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