
20 de Dezembro de 2025
OPINIÃO RBS
O dever da moralidade
O mais retumbante episódio de corrupção na administração pública federal neste ano que está terminando - o roubo milionário de aposentados por meio de descontos associativos ilegais - continua escandalizando o país e já se candidata a protagonista da disputa eleitoral de 2026. Com a nova fase da Operação Sem Desconto deflagrada pela Polícia Federal, que atinge um senador com credenciais de liderança do Planalto, derruba o número 2 da Previdência e põe sob suspeita pessoas ligadas à administração do presidente Lula, inclusive um de seus filhos, fica evidente que o governo - por incompetência ou negligência - não adotou as medidas saneadoras necessárias para reestruturar e moralizar o INSS logo que a fraude foi descoberta.
O fato de a roubalheira provir de administrações anteriores não atenua a responsabilidade da atual, ainda que esta tenha assumido o compromisso de ressarcir os aposentados e pensionistas lesados. Trata-se de um paliativo enganoso e insuficiente, pois é o dinheiro público dos atuais contribuintes que está sendo utilizado para cobrir o rombo deixado pelos fraudadores. Mais importante - e mais necessário - era proceder uma escrupulosa depuração administrativa no Instituto Nacional de Seguridade Social, afastando de seus quadros todos os gestores e servidores que de alguma forma tivessem compactuado com o esquema criminoso. Isso o governo não fez.
Agora terá que pagar o preço do desgaste político de uma investigação policial que já detectou a participação de operadores muito próximos do Planalto. O senador Weverton Rocha (PDT-MA), apontado pela Polícia Federal como sustentáculo político do esquema delituoso, é vice-líder do governo Lula no Senado e desfruta de tal forma da confiança do presidente que foi escolhido para relatar a indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, para o Supremo Tribunal Federal.
O secretário- executivo do Ministério da Previdência, Adroaldo Portal, suspeito de ter recebido propina do esquema, foi demitido apenas agora, depois que a PF pediu sua prisão. Há mais ligações difíceis de explicar, entre as quais a transferência de recursos volumosos do principal indiciado na fraude - o personagem conhecido como Careca do INSS - para a empresária Roberta Luchsinger, amiga próxima de Fábio Luís da Silva, filho do presidente Lula. A proximidade provocou, nesta semana, uma manifestação do próprio presidente, declarando publicamente que todas as pessoas suspeitas devem ser investigadas, inclusive seu próprio filho se a Polícia Federal assim o entender.
Louve-se a transparência, mas os brasileiros esperam mais do governo no gerenciamento de autarquias e empresas públicas como o INSS e os Correios (ECT), que passam por crises de má administração e de déficits financeiros frequentes. E o primeiro passo para a eficiência deve ser, obrigatoriamente, a integridade administrativa. Independentemente dos compromissos dos governantes com aliados políticos, a administração pública e suas ramificações têm o dever irrenunciável da moralidade e da impessoalidade, como recomenda o artigo 37 da Constituição Federal.
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