sábado, 13 de dezembro de 2025



13 de Dezembro de 2025
OPINIÃO RBS

A epidemia dos golpes

Foi em especial a partir de 2020, ano da eclosão da covid-19, que o Brasil viu a irrupção de outro mal: a epidemia dos golpes, em boa medida praticados de forma virtual. O perfil dos crimes contra o patrimônio mudou. Roubos e furtos passaram a cair, enquanto os estelionatos dispararam, trazendo novos desafios para a população e órgãos de segurança pública. Para quem é vítima, além do prejuízo financeiro, o abalo emocional também é profundo, como mostrou reportagem de Letícia Mendes publicada na sexta-feira em Zero Hora, com relatos dolorosos de quem foi iludido das mais diversas formas, com desfechos trágicos como a perda das economias de uma vida toda.

É verdade que as estatísticas mais recentes apontam para um recuo da quantidade de golpes no Rio Grande do Sul e no país, mas os números ainda são assustadores e acredita-se em alta subnotificação. A Secretaria de Segurança Pública do Estado registrou, em 2017, cerca de 20 mil casos de estelionatos. Em 2020, subiram para 67 mil, chegando ao pico, em 2022, com 95 mil. No ano passado, foram 80 mil.

As polícias passaram a dar mais atenção a esses crimes. Não há semana sem notícia de várias operações contra quadrilhas de estelionatários. Dotar as equipes de investigação de meios tecnológicos capazes de rastrear e chegar a esses bandidos é basilar. Mas não raro os envolvidos estão atrás das grades. Graças à facilidade que têm de acesso a celulares, seguem delinquindo. Passa da hora de os presídios do país terem sistemas eficientes de bloqueio de sinal de telefone e internet.

Ainda assim, o volume de tentativas de estelionatos é tão grande que talvez a maneira mais efetiva de evitá-los seja apostar na conscientização dos cidadãos. É preciso desconfiar sempre de ofertas tentadoras, dos contatos que pedem dados pessoais ou bancários, dos anúncios de prêmios ou de mensagens de alerta com solicitação para ligar para algum número ou clicar em links. Além de conhecimentos tecnológicos, os bandidos são cada vez mais persuasivos, o que é conhecido como engenharia social.

Apesar da queda recente nos boletins de ocorrência, as investidas insidiosas não param de crescer, indica um dado divulgado pela Serasa Experian em setembro. O Brasil registrou 6,9 milhões de tentativas de fraude no primeiro semestre, alta de 29,5% ante o mesmo período do ano passado. A média foi uma ocorrência a cada 2,3 segundos. A maior parte envolveu ataques a contas bancárias e cartões.

Para os criminosos, há uma série de vantagens. Não envolve risco de confronto com a polícia, é possível disparar uma quantidade enorme de tentativas em pouco tempo, os alvos podem estar a milhares de quilômetros e as penas são baixas, apesar da existência de propostas legislativas para elevar as punições.

Há ainda a leniência das plataformas digitais. Em novembro, a agência de notícias Reuters, com base em documentos internos da Meta, revelou que, em 2024, a dona do Facebook, do Instagram e do WhatsApp lucrou cerca de US$ 16 bilhões com anúncios de golpes e produtos proibidos, que veicula sem os devidos cuidados. Resta aos cidadãos aprenderem a se precaver. _

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