quarta-feira, 22 de janeiro de 2025


22 de Janeiro de 2025
OPINIÃO - Fernando Goldsztein

A Goiabeira Maravilhosa

Fundador do The Medulloblastoma Initiative, conselheiro da Children?s National Foundation e MBA, MIT Sloan School of Manangemnt

Fui com os meus filhos assistir ao filme que dá título a este texto. Trata-se das aventuras de Chico Bento, o simpático caipira que pertence à famosa Turma da Mônica. Achei no Google uma descrição perfeita dele: "É um dos personagens mais populares de Mauricio de Sousa. É acomodado, eventualmente preguiçoso e um tanto mentiroso, mas principalmente aventureiro. Ainda assim, apesar de seus defeitos e travessuras, Chico é um menino bondoso, generoso, que ama a natureza".

Antecipo que não tenho como escrever este texto sem revelar o desfecho do filme, ou dar spoiler, como se diz hoje em dia.

Chico Bento, que é um grande apreciador de goiabas - furtivamente colhidas da goiabeira do vizinho Nhô Lau - descobre que existe um projeto de construção de uma estrada na região. O drama de Chico é que a dita estrada passará exatamente onde está plantada a goiabeira.

Inconformado, Chico reúne todas as crianças de Vila Abobrinha para tentar impedir que a goiabeira - fonte de tanto prazer e doçura - seja derrubada. A preservação daquela árvore passa a ser uma obsessão para a criançada.

O vilão do filme - sempre tem que ter um vilão - é o coronel Agripino, que, junto com seu filho Genesinho, faz de tudo para convencer a comunidade sobre a importância da estrada.

Porém, o coronel não contava com a engenhosidade e a persistência de Chico Bento e seus amigos. Eles descobrem que o coronel Agripino estava mesmo era interessado que a estrada chegasse até as suas próprias terras. E, como se não bastasse, o projeto da estrada era cheio de curvas, de idas e vindas, tornando-a muito mais cara. É que a construção seria feita com recursos públicos, sendo que o fornecedor do asfalto para a obra seria o próprio coronel Agripino?

Para a sorte da comunidade da Vila Abobrinha e, principalmente, para a goiabeira, que foi preservada, os planos foram descobertos a tempo, e o filme teve um final feliz.

Saí do cinema pensativo. O fato de Mauricio de Sousa ter escolhido como vilão um malversador de verbas públicas, que tenta se locupletar com obras inúteis ou superfaturadas, é, definitivamente, um sinal dos tempos? _

Candiota III: a sociedade e o incêndio - Fernando Luiz Zancan

Presidente da Associação Brasileira do Carbono Sustentável

A sociedade acorda quando sente na pele os problemas do mundo real. Quando o problema vira um incêndio todos começam a refletir sobre a situação. É o que acontece hoje com o carvão no Rio Grande. A Usina de Candiota III, lançada pelo presidente Lula em 2006, iniciou suas operações no governo Dilma Roussef, em 2011, e pertencia a Eletrobras até ser privatizada, em 2023. Junto com Pampa Sul, Candiota III forma o coração de uma cadeia produtiva. A indústria do cimento usa as cinzas das térmicas para produzir um insumo com menor emissão de carbono. Recentemente, o governo gaúcho comemorou o investimento em uma nova fábrica de cimento com as cinzas de Candiota.

A cadeia produtiva gera milhares de empregos e renda, tornando Candiota o terceiro PIB per capita do Estado e o 20º do Brasil, além de responder por 9% da energia consumida pelos gaúchos. Apesar dos alertas sobre o fim do contrato de venda de energia de Candiota III em 31 de dezembro do ano passado, poucas foram as ações públicas para solucionar o problema. O governo do RS, importador de energia, não se preocupou em preservar uma indústria essencial para a segurança energética. Na tragédia da última enchente, a usina de Pampa Sul garantiu o fornecimento de luz no Estado, quando não havia sol, linhas de transmissão ou usinas hidráulicas para ajudar.

Os parlamentares gaúchos viabilizaram um caminho para resolver a recontratação da usina, vetado depois pelo presidente Lula. Nesse momento, estamos diante de um verdadeiro incêndio: uma cidade e uma população sem futuro; uma transição energética injusta. Não é fechando uma indústria que vamos construir um futuro. O fechamento de Charqueadas, na década de 1990, repercute até hoje. Reinventar uma indústria requer tempo e dinheiro. Continuar operando Candiota III é fazer a verdadeira transição justa. Os gaúchos precisam apagar esse incêndio. O Rio Grande está sentado em cima de um pré-sal de energia, que é o seu carvão, e precisa, mais do que nunca, reinventar essa indústria para dar um futuro aos gaúchos. _

Direto da Redação - Antonio Carlos Macedo

Peso morto

A retomada da valorização do salário mínimo, com reajustes acima da inflação, trouxe de volta um efeito colateral nocivo para aposentados e pensionistas que ganham acima do piso do INSS: o achatamento dos benefícios. Isso ocorre devido à diferença entre o aumento do piso nacional e o índice de correção das aposentadorias e pensões mais altas. Enquanto o primeiro subiu 7,5%, os ganhos previdenciários foram corrigidos apenas pela inflação de 4,77%. Como o piso do INSS não pode ser inferior ao mínimo, ele também incorpora o ganho real, reduzindo gradativamente a sua diferença em relação aos benefícios de valor mais elevado.

Em 2021, por exemplo, o teto correspondia a 5,84 vezes o piso salarial do país; em 2025, essa proporção caiu para 5,37. O problema, embora antigo, tornou-se mais evidente a partir de 2004, quando as centrais sindicais iniciaram uma campanha de valorização salarial. Desde então, aposentadorias mais altas tiveram apenas a reposição inflacionária, com exceção de dois reajustes com ganho real. Como consequência, cresce anualmente o total de segurados que passam a receber apenas o piso previdenciário. No ano passado, 350.982 pessoas ingressaram nessa faixa, segundo dados do INSS. Os números de 2025 ainda não foram divulgados, mas deverão seguir a mesma tendência.

Se o cenário não mudar, pode chegar o momento em que todos os segurados vão ganhar apenas o piso. Não por acaso, atualmente cerca de 70% deles já estão nessa condição. Embora não exista indexação entre o valor das aposentadorias e o salário mínimo, como ressaltam os responsáveis pela Previdência Social, a Constituição brasileira, no Artigo 201, determina reajustes que preservem o valor real dos benefícios, o que claramente não está ocorrendo. Essa situação força muitos idosos a buscarem trabalho, mesmo em condições precárias, para complementar a renda e manter o poder aquisitivo, uma alternativa inviável para quem enfrenta problemas de saúde.

Enquanto trabalhadores da ativa contam com sindicatos, negociações coletivas e até greves para lutar por aumentos, os jubilados não dispõem de qualquer mecanismo para fazer valer seus direitos. Dependem exclusivamente da boa vontade dos governos e políticos, que frequentemente priorizam outras agendas em detrimento da justiça social. Alguns, inclusive, enxergam os aposentados como um estorvo, um peso morto nas contas públicas, ignorando o trabalho desses cidadãos de cabelo branco pelo crescimento do país. Eles só não verbalizam, mas é o que pensam. _

Esta coluna contém informação e opinião

OPINIÃO

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