segunda-feira, 13 de janeiro de 2025


13 de Janeiro de 2025
OPINIÃO RBS

Bravatas ou ameaças?

Antes mesmos de assumir seu novo mandato no comando do país mais poderoso do Ocidente, o recém- eleito presidente Donald Trump vem provocando sobressaltos nos aliados dos Estados Unidos com afirmações bombásticas. Só na semana passada, ele ameaçou anexar o Canadá ao território norte-americano e usar a força para se apropriar da Groenlândia e do Canal do Panamá. Insinuou ainda que o Golfo do México deveria se chamar Golfo da América, porque são os norte-americanos que fazem a maior parte do trabalho por lá.

A bazófia e os arroubos imperialistas do presidente eleito provocaram reações diplomáticas de toda ordem, que vão do sarcasmo à indignação. A presidente do México, por exemplo, lembrou que uma parte extensa do território dos Estados Unidos, incluindo a Califórnia e o Texas, pertencera a seu país até o século 19, antes de ser repassada ao vizinho. "Podemos chamá-la de EUA Mexicana. Soa bem, não é?" - ironizou a senhora Claudia Sheinbaum em entrevista coletiva.

As respostas de outras nações à provocação do norte-americano foram ainda menos amistosas. O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, escreveu: "Só se o inferno congelar o Canadá vai se tornar parte dos Estados Unidos, até mesmo porque os trabalhadores e as comunidades dos dois países se beneficiam sendo parceiros comerciais e de segurança um do outro". Já o ministro de relações exteriores do Panamá, Javier Martinez-Acha, afirmou que a soberania sobre o canal é inegociável e irreversível. 

Com a Dinamarca a situação é diferente: depois de dizer que a Groenlândia não está à venda, o governo dinamarquês foi avisado por assessores de Donald Trump de que o presidente está falando sério e que deseja efetivamente negociar o assunto. Em consequência, o ministro dos negócios estrangeiros dinamarquês, Lars Lokke Rasmussen, já sinaliza que seu país está aberto ao diálogo.

Todas essas questões deveriam mesmo ser resolvidas pelo diálogo e pela diplomacia. O mundo não precisa de mais conflitos. Embora certas manifestações trumpistas possam ser consideradas apenas bravatas inconsequentes, o cargo que ele ocupará tem o potencial de transformar palavras em ação. Basta lembrar que pronunciamentos irresponsáveis no final de seu mandato anterior levaram seus apoiadores a invadir e depredar a sede do poder legislativo do país.

As palavras têm poder, especialmente quando saem da boca de uma liderança política da dimensão do presidente norte-americano. Ainda que tenha sido reeleito legitimamente pela maioria dos representantes da população de seu país, Trump não tem o direito de transformar a maior democracia do Ocidente num império expansionista nem de colocar em prática uma política externa baseada em intimidações e ameaças. Melhor que sejam apenas bravatas. A humanidade já está suficientemente preocupada com os conflitos bélicos em andamento e com os sucessivos desastres ambientais provocados pelas mudanças climáticas. _

Os arroubos imperialistas do presidente eleito dos EUA provocaram reações diplomáticas de toda ordem

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