Pedidos de recuperação judicial batem recorde. E podem subir
Já se sabe que o número de pedidos de recuperação judicial foi recorde em 2024: o acumulado só até outubro é de 1.927, enquanto a maior quantia anual havia ocorrido em 2016, com 1.863. Os dados oficiais dos 12 meses devem ser conhecidos nas próximas semanas, mas a expectativa na área empresarial é de que fiquem perto de 2,2 mil.
É bom lembrar que 2016 foi o ano do auge da recessão que começou ainda no final de 2014 e só foi terminar naquele ano difícil. Então, por que 2024 concentrou tantos pedidos se a projeção de crescimento do PIB está em torno de 3,5%? Parte da explicação é a combinação entre juro alto, elevada inadimplência e inflação persistente.
E há elementos menos óbvios. Um foi o salto - chegou a cinco vezes mais do que em 2023 - nos pedidos de recuperação judicial no agronegócio, concentrados em produtores rurais, única categoria de pessoa física autorizada a fazer esse tipo de renegociação de dívida. Além disso, as regras são tão favoráveis que o pedido se torna mais atrativo, mesmo afetando a reputação da empresa.
Como está em curso um choque de juro, ao menos um dos motivos para o aumento seguirá no cenário, o que faz analistas preverem que não haverá redução significativa neste ano.
- Setores como aviação, sucroalcooleiro, agro e varejo são mais suscetíveis a dificuldades financeiras, especialmente devido ao aumento do dólar, que eleva os custos e dificulta o repasse aos consumidores - avalia Filipe Denki, sócio do Lara Martins Advogados e especialista em Reestruturação Empresarial.
Capitulação a fake news e o impacto na confiança
A capitulação do governo Lula ao barulho provocado por fake news e manipulação de informação torna a gestão econômica de 2025 ainda mais desafiadora do que já era. Depois de enfrentar perda de credibilidade na política fiscal, que fez o dólar chegar a espantosos R$ 6,267, aumentou o risco de perda adicional de confiança.
Quem está no comando no Brasil? O governo Lula ou as redes sociais? Decisões econômicas muitas vezes precisam se render à política, como dizem tanto o secretário especial para a reforma tributária, Bernard Appy, quanto o ex-ministro da Economia, Paulo Guedes.
Mas uma coisa é tornar uma medida viável, mesmo com avanços e recuos no caminho, ou até constatar que é inviável e desistir antes de formalizar. Outra foi o recuo que, por mais que seja estratégico, emite grande sinal de fragilidade pela derrota frente à manipulação.
- O recuo frente à fake news sobre a taxação do Pix só pode ser interpretado como fraqueza do governo. É tão absurda a tese que iriam taxar Pix acima de R$ 5 mil que me pergunto onde estavam esses mesmos indignados quando descobriram que o radar do governo era ainda mais baixo, em R$ 2 mil - avalia o economista André Perfeito.
Com anos de experiência no mercado financeiro e agora titular de uma consultoria, André Perfeito pondera que Receita Federal e Fazenda tinham pouco a fazer para evitar factoides, mas alerta:
- Se a população se inclina a aceitar mentira como verdade, é evidente que a situação econômica está piorando. Parte é pela inflação, mas também é preciso pensar no ajuste do juro que tem como objetivo criar uma recessão de laboratório.
Desaceleração e hipersensibilidade
Se ainda há dúvida sobre a ocorrência de uma recessão, André Perfeito pondera que uma desaceleração "está contratada".
- Essa hipersensibilidade da população é uma evidência de que a atividade já está desacelerando e batendo nas famílias e nas empresas.
Marta Sfredo
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