Duro com imigrantes, suave com a China
Ao tomar posse, Donald Trump confirmou o fechamento da fronteira com o México, que tem potencial de elevar a inflação americana e o dólar no Brasil. Ontem, day after da posse, o dólar abriu relativamente estável, e fechou assim, oscilando -0,18%, para R$ 6,03. Mas o novo presidente dos Estados Unidos não deu um pio sobre elevar o imposto de importação de produtos chineses para até 60%, embora tenha repetido a ameaça de elevar a tarifa de produtos do Canadá e do México para 25% - justo a dos principais parceiros comerciais dos EUA.
Essa possibilidade de suavização com a China havia sido antecipada pelo ex-embaixador do Brasil nos EUA Roberto Abdenur, em entrevista publicada antes da posse. O mediador é o bilionário Elon Musk, que tem ótima relação com o governo autocrático de Xi Jinping por ter uma megafábrica de carros elétricos no país.
Musk também pilota o que vem sendo chamado de "oligarquia tecnológica" que roubou a cena na posse de Trump. Nunca uma posse concentrou tamanha fatia do PIB dos EUA, com as presenças de Jeff Bezos (Amazon), Mark Zuckerberg (Meta), Tim Cook (Apple) e Sundar Pichai (Google) - outro imigrante.
Dos três, os únicos que não são os donos das companhias são Cook e Pichai. A fortuna dos quatro maiores - sem contar Pichai - é de US$ 887,3 bilhões, cerca de R$ 5,3 trilhões pelo câmbio atual. O valor é maior do que o PIB de 175 países, como África do Sul, Argentina, Dinamarca e Turquia.
O mercado acompanha os passos de Trump com cautela. O discurso de posse foi totalmente fora do padrão, com direito a acusações ao antecessor a poucos metros de distância e a declaração de que, para o governo dos EUA, só existem dois gêneros: masculino e feminino.
Foi falta de civilidade. Ao menos um dos bilionários presentes deve ter se sentido desconfortável: Tim Cook foi o primeiro CEO das 500 maiores empresas americanas a se declarar gay. A declaração desumaniza quem não se identifica com os padrões de Trump. Pode ser uma crença, mas não é uma realidade.
Ao ignorá-la, acrescenta um negacionismo, o da diversidade de identidade sexual, ao currículo que já tem o da mudança do clima e o das vacinas. Não vai surpreender ninguém, só vai reforçar o fim de um mundo que a posse de Trump representa. _
Acordo de paris
Donald Trump assinou ontem a normativa que retira os Estados Unidos do Acordo de Paris. A medida era esperada, ainda assim provocou reações. Uma das mais inesperadas foi a da China, que se disse "preocupada" com a decisão, porque nenhum país é imune às consequências. Conforme o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores, Guo Jiakun, "mudança do clima é um desafio comum enfrentado por toda a humanidade".
Após dois dias de baixa na cotação do petróleo, seguindo o "drill, baby, drill" no discurso de posse de Trump (apelo para maior produção nos EUA), surgiu nova especulação: o Brasil pode perder receita de exportação com preço menor.
Petroquímica quer ampliar benefícios para investir mais
Depois do anúncio de investimentos de R$ 759,3 milhões no Brasil, moderados para o segmento de capital intensivo - qualquer movimento exige grandes quantias -, há mais projetos de expansão petroquímica. Estão condicionados à "intensificação" do Regime Especial da Indústria Química (Reiq).
O pedido é de que o incentivo fiscal volte aos 3,65 pontos percentuais de crédito presumido, que abate o pagamento de PIS/Cofins nessa proporção.
- Pedimos ao vice-presidente (Geraldo) Alckmin que se intensificasse o Reiq para competir com os produtos chinês e americano sem aumento de preços. Apresentamos uma proposta de projeto de lei que está em análise na Secretaria de Desenvolvimento. A ideia é, no mínimo, voltar ao que era antes dessa mudança que ocorreu no governo Bolsonaro - disse à coluna o presidente da Abiquim, André Passos Cordeiro.
Caso o pedido seja atendido, o setor acena com investimentos muito mais robustos do que os anunciados no polo de Triunfo. Do total, R$ 339,3 milhões serão para o polo de Triunfo, dos quais R$ 306 milhões são da Braskem e o restante, da Innova.
Incentivos fiscais estão na mira do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, por representar perda de receita. Mas o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, vê um "gasto bom, que estimula desenvolvimento e gera emprego e renda". _
Um salto na dívida global
Não é só no Brasil. Até 2028, o Instituto Internacional de Finanças (IIF) prevê que a dívida pública global atinja US$ 130 bilhões, aumento de mais de 35% em relação aos US$ 95 bilhões de 2024. A expansão fiscal dos EUA e emissões de mercado devem ser os principais motores da alta. Conforme a entidade, após reestruturações de dívida em economias emergentes, o foco deve estar na prevenção de crises de liquidez, no reforço das estratégias de gestão e em condições contratuais que deem mais resiliência. _
Eles precisam de nós, muito mais do que nós precisamos deles. Não precisamos deles. Eles precisam de nós.
Donald Trump - Presidente dos EUA, elaborando sobre as relações com Brasil e América Latina
Aporte de R$ 180 milhões
Alvorada vai receber fábrica de R$ 180 milhões da Fundição Ciron, empresa do grupo Fundimisa. A unidade será dedicada à produção de peças de ferro fundido, obtidas com aplicação de metal quente e líquido sobre um molde.
O aporte será feito com financiamento via programa Mais Inovação, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O crédito corresponde a 48,5% do total que será investido, ou R$ 87,8 milhões. Com capacidade para produzir até 7,5 mil toneladas por mês, a nova fábrica terá 32,9 mil metros quadrados de área construída. Vai gerar cerca de 150 empregos diretos na conclusão prevista para abril de 2027. _
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