Todos reivindicarão vitória sobre o Oriente Médio
O acordo de cessar-fogo entre Israel e o grupo terrorista Hamas, anunciado ontem, é o tipo de acerto que rende a todos os envolvidos celebrarem a vitória. Por si só, obviamente, é algo a ser comemorado - afinal, depois de um ano e três meses de uma guerra sangrenta, com vítimas de lado a lado, finalmente, a racionalidade se impôs à mesa de negociações.
Infelizmente, como acordos de outrora, esse não colocará fim à sina de ódio e medos ancestrais que, por vezes, fazem girar a roda da insanidade. Mas, ao que tudo indica, haverá uma pausa.
Quando digo que todos celebram é porque o conflito e os termos do acordo abrem margem para líderes de diferentes matizes ideológicos reivindicarem, para públicos domésticos, a vitória.
Os terroristas do Hamas, por exemplo, dirão a seu público que atingiram os objetivos com os ataques de 7 de outubro de 2023: ao entrarem em Israel exibiram as fragilidades da nação mais protegida do mundo, praticaram o horror contra os judeus, mataram centenas, sequestraram muitos, violentaram todos e, por fim, barganharam a soltura de palestinos presos nas penitenciárias israelenses. Pela sua lógica doentia e nefasta, o crime compensa.
Israel, que sofreu o maior atentado de sua história em 7 de outubro, e o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu irão reivindicar que, apesar da dor, das mortes e dos reféns, conseguiram levar a cabo uma operação que enfraqueceu o terrorismo, cortou as cabeças do Hamas e do Hezbollah, colocou de joelhos o Irã, destroçou o arco xiita e, por tabela, destronou o ditador da Síria, Bashar al-Assad.
O Catar, que já foi acusado de Estado apoiador do terrorismo, sai como o grande pacificador, ao ter servido de ponte entre todos os lados.
Joe Biden, a cinco dias de entregar o governo a Donald Trump, tem seu legado salvo pelo gongo: após um início de governo, em 2021, marcado pelo retorno do Talibã ao poder no Afeganistão - e pelas cenas de fuga dos soldados americanos que lembravam o Vietnã -, ele consegue passar à história como o presidente americano que colocou Israel e extremistas palestinos a conversar - quase como um Jimmy Carter do século 21, guardadas as proporções.
Sobrou até para Donald Trump comemorar: seu enviado especial para o Oriente Médio, o pouco experiente Steve Witkoff, participou ativamente das negociações ao lado de emissários do presidente Biden.
Choro e ranger de dentes
Muita gente morreu nesse período de guerra. Há choro e ranger de dentes por todos os lados. Alguns dos reféns israelenses voltarão, de Gaza, dentro de caixões. Na estreita faixa de terra espremida contra o Mar Mediterrâneo, além dos mortos, a infraestrutura está destruída. As desconfianças não acabam com o acordo. Nem o terrorismo, embora golpeado, termina. Mas, por alguns meses, a região e o mundo respirarão, com pesar, aliviados. _
Papa Francisco, um cão e um circo no Vaticano
O papa Francisco assistiu, ontem, durante a audiência-geral semanal, a uma apresentação do circo Rony Roller. Durante a performance, para ele e para os fiéis reunidos no Vaticano, o pontífice jogou uma bolinha de tênis e brincou com um cachorro dos integrantes do circo.
O espetáculo contou com a participação de palhaços e acrobatas. "O trabalho circense é um trabalho humano, é um trabalho de arte, um trabalho de muito esforço. Quando voltarem, vamos dar-lhes uma grande salva de palmas", escreveu nas redes sociais. Francisco assistiu a uma performance da CircAfrica na semana passada, destacando a tradição circense. _
Entrevista - José Fogaça
"Segurança para um processo democrático"
Há 40 anos, no dia 15 de janeiro de 1985, o Brasil assistiu à eleição de Tancredo Neves para a Presidência da República. Apesar de indireta, foi a primeira eleição após a ditadura militar (1964-1985). Quem era deputado federal na sessão e votou em Tancredo Neves foi José Fogaça, ex-deputado estadual, ex-senador e ex-prefeito de Porto Alegre.
Como era o clima no dia?
Era uma coisa impressionante. O clima era de muita tensão, ao mesmo tempo de uma certa euforia contida. Tínhamos um pouco de receio, havia sempre um certo temor de que, no fim das contas, as coisas ficassem, talvez, complicadas. Mas, de qualquer maneira, tínhamos também a convicção de que não havia outro caminho. Aquela era a única alternativa e qualquer recuo nosso poderia ser, por exemplo, a eleição de (Paulo) Maluf.
Do que era o temor?
Havia entre os militares aqueles que estavam engajados no processo de abertura integral e aqueles que resistiam. E, obviamente, temiam também que passassem a ser perseguidos na medida em que o regime fosse se desestruturando. Mas a figura do Tancredo Neves foi absolutamente importante e estratégica nesse processo, porque ele era uma segurança para todos os lados de que o princípio da legislação e da conciliação seria mantido e o Brasil iria caminhar pacificamente para a consolidação do processo democrático.
Qual a importância da data?
Talvez uma mudança drástica, onde se estabelecesse um aumento da polarização política, não fosse recomendável. Ao contrário de estabelecer aquela visão radicalizada do Diretas Já, era o momento de distensionar para que as coisas fluíssem como aconteceu, porque depois disso, em três anos, se conseguiu convocar a Assembleia Nacional Constituinte, e realmente mudou o curso da história do Brasil. A diferença entre as coisas do antes e depois, para quem viveu naquela geração, é enorme. _
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