Lula diz não ter plano de corte e dólar... recua
Era previsível que uma das primeiras perguntas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva na entrevista de ontem fosse sobre o novo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, que na véspera elevou o juro em 1 ponto percentual e antecipou outra paulada "da mesma magnitude" na próxima reunião, no dia 19 de março.
- Não esperava milagre - disse Lula, que criticou duramente o antecessor, Roberto Campos Neto, por elevar a Selic.
Durante a entrevista, o dólar, que retomara o patamar de R$ 5,90 antes do início, voltou ao de R$ 5,80. Com um detalhe: chegou a reduzir a alta de 0,7% para 0,3%, mas voltou à de 0,5% depois de Lula afirmar:
- Se depender de mim, não haverá outra medida fiscal.
O câmbio fechou com oscilação para baixo de 0,24%, a nona seguida, na maior sequência desde 2017, acumulando queda de 3,53%. Ajudou o fato de Lula ter ressalavado que, se houver necessidade de redução de gastos, "vamos sentar e discutir".
Tom tranquilo ajudou
Mesmo com a afirmação de Lula de que a polêmica proposta de isentar de Imposto de Renda para quem ganha mais de R$ 5 mil está em "reformulação" e vai para o Congresso, economistas atribuíram parte do alívio ao tom tranquilo usado pelo presidente.
E, embora tenha reiterado que Galípolo terá "toda a autonomia", Lula disse que "o povo e o Brasil esperam que a taxa de juro seja a menor, dentro do possível, para que possa haver mais investimento e crescimento sustentável, para gerar mais emprego".
Depois de ser acusado de minar seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e virtual sucessor para disputar a Presidência, Lula também fez um desagravo:
- As pessoas que passaram o ano inteiro falando do famoso déficit deveriam pedir desculpas a Haddad, dizer "a gente não acreditou em você, a gente duvidou de você". As pessoas que falam coisas erradas não têm hombridade para dizer "nós erramos".
Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) abaixo do esperado também contribuíram para acalmar o câmbio. _
Não foi só o mercado de câmbio que teve alívio ontem. Ainda mais intensa foi a reação da bolsa de valores, que andava murchinha. O Ibopesva teve uma disparada de quase 3% (2,7%). Até os juros futuros tiveram redução forte.
Duas multinacionais brasileiras reconstroem escola na Capital
Maior instituição municipal de ensino de Porto Alegre, a Escola Doutor Liberato Salzano Vieira da Cunha, no bairro Sarandi, teve de ser reconstruída depois da enchente. Para fazer a obra de R$ 8,8 milhões, uniram-se duas multinacionais brasileiras, Gerdau e Ambev, com participação de Movimento União BR, Dolphin e Brasil ao Cubo.
A Ambev foi responsável pela gestão da obra, incluindo a criação de quadras esportivas profissionais, revitalização estrutural e escadas de emergência.
A Gerdau, maior empresa brasileira produtora de aço que nasceu não muito longe dali, na Avenida Voluntários da Pátria, fez doações com o Movimento União BR, especializado na criação de hubs emergenciais, que atua no Estado desde setembro de 2023. A Dolphin foi responsável pela revisão elétrica.
A iniciativa tem apoio e tecnologia da Brasil ao Cubo, construtech que integra a Gerdau Next, braço de novos negócios da Gerdau. A obra levou 80 dias.
Segundo Paulo Boneff, líder global de responsabilidade social e desenvolvimento organizacional da Gerdau, a escola ficou dias inundada, o que corrompeu a parte elétrica.
O estrago foi tamanho que foi preciso refazer as estruturas de sustentação da escola, relata o executivo. Também foi preciso refazer os banheiros, quase destruídos, e trocar o piso de todas as salas de aula.
- O retorno à escola é uma ação de apoio à educação e, indiretamente, para as famílias e a economia - diz Boneff. _
Governo cumpre meta fiscal, mas resultado não é o suficiente
Para efeito de cumprimento do arcabouço fiscal, o rombo nas contas do governo federal foi de R$ 11 bilhões, ou 0,09% do PIB. Como havia margem de tolerância de até 0,25% do PIB, pode-se dizer que, sim, o governo cumpriu a meta.
Contabilizadas despesas como a ajuda ao RS, que ficaram fora desse cálculo, o rombo foi de R$ 43 bilhões, equivalente a 0,36% do PIB, acima da margem de tolerância. Analistas consideram o resultado positivo, porque "salva" o arcabouço fiscal. Mas não é suficiente. O resultado líquido é que o governo precisou se endividar em mais R$ 43 bilhões. E para estabilizar a dívida são necessários superávits estimados de 1% a 2,5% do PIB. _
Mercado discute postura de Galípolo na presidência do BC
No day after da primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) comandada por Gabriel Galípolo, o mercado discutiu se o novo presidente do Banco Central (BC) atuou como "falcão" ou "pomba". A primeira característica (hawk/hawkish) é ser duro, pegar pesado na taxa de juro ante risco inflacionário; a segunda (dove/dovish) é ser suave, menos agressivo no controle da alta de preços. E qual foi o comportamento de Galípolo e sua diretoria, afinal? Cada um vê de uma forma.
- O tom da decisão foi hawkish, destacando a conjuntura da política econômica nos EUA e a desancoragem das expectativas de inflação dos agentes econômicos no Brasil - avalia Raphael Vieira, colíder de Investimentos da Arton Advisors.
- Dada a desancoragem das expectativas, acho perigoso o BC correr o risco de ser lido como dovish, e ele tomou esse risco - opina Natalie Victal, economista-chefe da SulAmérica Investimentos.
É importante entender por que a classificação "falcão" ou "pomba" importa. Neste momento em que o Brasil vive risco inflacionário, ter uma imagem hawkish contribuiria para a percepção de que o BC "fará o necessário" para frear a alta de preços. Ser dovish agora seria contraproducente, porque o país paga caro, sob a forma de juro alto, para controlar a economia. A percepção de um BC suave contribuiria para reduzir a potência da política monetária, já sob certa desconfiança.
Talvez o melhor resumo tenha vindo de Cristiano Oliveira, economista-chefe do banco Pine:
- Mantém o tom hawk, pois sinaliza a continuidade do aperto monetário enquanto a inflação não convergir para a meta. Ao mesmo tempo, o comitê mostrou preferência por ganhar graus de liberdade diante das incertezas globais e domésticas. Nesse sentido, o documento é menos hawk do que o anterior (que comunicou o choque de juro), mas definitivamente não é dove. _
Que ave é esta? argumentos de "falcão"
A citação da desancoragem das expectativas de inflação, ainda muito acima da meta.
O alerta sobre o papel da política fiscal e "seu impacto sobre a política monetária e os ativos financeiros".
argumentos de "pomba"
Ter deixado em aberto a decisão da segunda reunião à frente, de 7 de maio.
A citação de possível baixa da inflação a desaceleração da atividade econômica doméstica, ainda não caracterizada.
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