05 DE OUTUBRO DE 2021
NILSON SOUZA
O mel e o ferrão
Neste dia de aniversário da nossa Constituição Cidadã que o Ulysses da mitologia política brasileira assinou com caneta de ouro antes de sumir no mar, faço um apelo aos todo-poderosos guardiões da Carta para que busquem urgentemente no artigo 225 algum dispositivo para conter o morticínio das abelhas no país.
Sei que corro o risco de levar ferroadas nas redes sociais por me preocupar com insetos num momento em que a família humana sofre perdas dolorosas com a pandemia, mas não posso deixar de me manifestar sobre um sinal tão evidente da catástrofe ambiental que pode ser evitada. Se continuarmos envenenando as plantações e as flores com esta mistura letal de ganância e pesticidas, acabaremos revogando aquela sentença emblemática do poeta Pablo Neruda: "Podes cortar todas as flores, mas não podes impedir a Primavera de aparecer".
A estação da beleza está aí e as abelhas estão sendo dizimadas. Como aqueles macacos que morrem de febre amarela antes do mal chegar aos humanos, é um indício claro de que os alimentos, a água e o próprio ar estão sendo contaminados por partículas nocivas à vida. O pretexto para tamanha insensatez todos conhecemos: reduzir a produção agrícola, dizem os defensores dos defensivos, seria o mesmo que semear a fome. Como se a desigualdade social, o desemprego e as más políticas públicas já não estivessem fazendo esse nefasto trabalho.
Defensivos agrícolas ou pesticidas, independentemente do embate ideológico pela nomenclatura, podem até ser necessários em certas situações, mas não podem ter um efeito colateral tão danoso. Assim como a ciência buscou e continua buscando vacinas eficientes para a triste peste que nos atormenta, devem os pesquisadores, as autoridades e os governos investir com a máxima urgência em novas soluções para produção de grãos. Enquanto isso, suspenda-se imediatamente a aplicação do veneno.
Quando assinou a Carta da esperança naquele 5 de outubro de 1988, o então presidente da Assembleia Nacional Constituinte avisou que aquele instrumento seria "o amparo dos fracos injustiçados e o castigo dos fortes prepotentes". Estamos, portanto, entre o mel e o ferrão. Artigo 225 da CF: Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado...
Inclusive as abelhas.
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