sábado, 30 de agosto de 2025


30 de Agosto de 2025
ANDRESSA XAVIER

Jogo jogado

Há julgamentos que começam antes de o tribunal se reunir. O do ex-presidente Jair Bolsonaro é um deles. A data no calendário do Supremo Tribunal Federal, que reunirá a atenção do país a partir desta semana, apenas oficializa o que já se desenha nos corredores, nas análises de bastidores e nas expectativas da opinião pública: o resultado é previsível. A condenação não será uma surpresa, mas a confirmação de um roteiro que o próprio Bolsonaro ajudou a escrever.

A insistência em flertar com o autoritarismo, a tentativa de mudar as regras do jogo e a incapacidade de aceitar a derrota nas urnas colocaram Bolsonaro e sua trupe diante de um tribunal que não julga apenas um ato, mas o modus operandi. É o acerto de contas entre o que se espera da liturgia democrática e quem a desrespeitou, ou a testou, de forma sistemática.

Não se trata apenas de um processo jurídico. É também um julgamento simbólico, de caráter histórico. A democracia brasileira, tão jovem e ainda marcada por cicatrizes, precisa dar respostas claras quando testada. O Supremo, desta vez, não julga apenas Bolsonaro, mas a resiliência das instituições diante de um projeto de poder que não se conforma com limites.

Todos sabem o que virá. Não haverá absolvição milagrosa, surpresas e nem espaço para vitimização convincente. O resultado já está assimilado até por aliados, que hoje medem cada palavra de apoio ou, em casos extremos, somem. Mas o que se abre depois da sentença é mais complexo. A condenação isola Bolsonaro politicamente, mas não elimina a polarização que ele consolidou. O eleitor que o seguiu, o fiel, não desaparece com a decisão do tribunal. O bolsonarismo, como fenômeno social, sobrevive, nesse caso apesar de seu líder. Assim como, lá atrás, o lulismo sobreviveu à série de escândalos de corrupção que culminaram na prisão de Lula.

Hoje todos sabem o desfecho jurídico do caso Bolsonaro, mas ninguém sabe qual será o desfecho político. Afastado do centro da disputa formal, o ex-presidente se torna ainda mais mito para os convertidos. A história brasileira, que acabo de citar, mostra que a prisão não significa necessariamente o fim de uma carreira política e que as brechas jurídicas e políticas podem nos surpreender. Lula esteve atrás das grades e voltou ao Planalto.

O Brasil assiste, assim, a um julgamento com duas camadas. Na superfície, a punição de um homem que afrontou a lei. Em profundidade, repetir que o país não aceitará mais aventuras golpistas. Por ora, o que todos sabem é o resultado que está para ser anunciado. O resto, como sempre na política brasileira, continua em aberto. Espero que o Brasil consiga enxergar além dos fanatismos em torno de dois nomes. O país é maior que isso. 

ANDRESSA XAVIER


30 de Agosto de 2025 
EUGÊNIO ESBER

Nós e o tribunal chinês

Aos brasileiros que sentem a temperatura da água subir, mas ainda consideram estar em uma tépida piscina e não em uma panela, recomendo prestar atenção ao termômetro. Os fatos, sempre eles, são implacáveis com quem os despreza, e os avisos do lento e progressivo cozimento das liberdades no Brasil se sucedem há pelo menos seis anos, quando a suprema corte brasileira se tornou o braço judicial do Partido dos Trabalhadores e a longa manus de perseguição aos dissidentes e de livramento dos corruptos apanhados pela Operação Lava Jato. 

Tudo o que se passou desde março de 2019, com a instauração do interminável e obscuro "Inquérito das Fake News", dá a medida de como uma pequena elite de burocratas pode subjugar um povo pela troca de favores com atores políticos, empresariais e intelectuais cujo cinismo foi magistralmente retratado por Verissimo em seu personagem "Queromeu, o corrupião corrupto", baseado nos corrupiões, aquele pássaro de peito laranja e que parece vestir um capuz preto.

A menos que as sanções norte-americanas funcionem para inibir os donos do poder, é do capuz do STF que sairá a decisão sobre quem pode concorrer a presidente em 2026; quem, se eleito, pode tomar posse; e quem, se empossado, pode governar sem a monolítica oposição do bloco STF-PT. O voto popular, portanto, torna-se secundário, e só não digo que é inócuo porque ainda atende a uma finalidade: produzir, para o mundo, a imagem de milhões de brasileiros acorrendo às cabines de votação. Uma bela coreografia, sem dúvida, a inspirar manchetes-clichês, como "Festa da democracia". Mas, passada a quarta-feira de cinzas, as alegorias são recolhidas. A real engrenagem do poder opera longe e à revelia das ruas.

A caminho de consolidar um regime de partido único, o STF, em coro com reiteradas manifestações de Lula, faz sucessivos acenos à China. Depois de Lula se dizer muito feliz por ter conseguido "colocar na suprema corte um ministro comunista", em referência a Flávio Dino, o futuro presidente do STF, Edson Fachin, recebeu ministros da suprema corte popular da China em abril. 

Os dois tribunais já haviam conversado em 2024, e agora firmaram um acordo de cooperação cujos termos exatos o STF decidiu manter em sigilo. Diante da estranha manifestação do ministro Gilmar Mendes em sessão do tribunal ("... nós todos somos admiradores do regime chinês, né?"), resta perguntar o que a mais alta instância do poder judiciário brasileiro tem a aprender com a corte que serve às diretrizes e interesses ditatoriais do Partido Comunista Chinês.

Não tente exigir, na justiça, o porquê do sigilo. A resposta será algo como "Porque sim. E não amola". _

EUGÊNIO ESBER

30 de Agosto de 2025
MARCELO RECH

Um basta ao Estado mafioso

A megaoperação de asfixia financeira ao PCC é um daqueles momentos em que o país precisa parar para ver onde estamos e como se conserta a situação. A descoberta da imensa rede de trambicagem levanta uma batelada de indagações sobre como, em última análise, chegamos até aqui - e se este é o ponto final ou inicial de algo maior.

É para lá de louvável a união de forças e o trabalho meticuloso dos órgãos de fiscalização para que fosse desfechado na quinta-feira o mais duro golpe nas finanças do crime organizado. Mas o fato de que o PCC estava se adonando dos postos de gasolina de São Paulo com métodos mafiosos era sabido e comentado há anos, com pouca ou nenhuma resistência à ação da facção.

Em abril do ano passado implodiu-se em São Paulo a infiltração do PCC no comando de duas das maiores empresas de ônibus da cidade. A velocidade com que o crime organizado se espraiou para refinarias, usinas de açúcar e o mercado financeiro assusta pela facilidade com que passou a movimentar bilhões nas sombras. A Receita Federal, a Comissão de Valores Mobiliários, o Banco Central, o Ministério Público, a Polícia Federal e entidades que representam o mercado honesto e legal tinham conhecimento das frestas e também há anos trabalham para fechá-las por meio de instrumentos legais, sem que eles conseguissem avançar.

E aqui é preciso parar e perguntar de novo. Por que não avançaram? A ex-senadora Ana Amélia Lemos apresentou há mais de seis anos um projeto sobre devedores contumazes que ajudaria a desmantelar as práticas criminosas de sonegação. Forças estranhas bloquearam o projeto. Agora, o senador Efraim Filho é relator de projeto semelhante. Segundo ele, 1.200 CNPJs devem mais de R$ 200 bilhões - e não por dificuldades financeiras mas porque tais empresas são criadas e fechadas exatamente para burlar o fisco. Com os holofotes acesos, ao menos será mais difícil agora que as forças do mal se movimentem no Congresso para barrar o projeto mais uma vez.

Outra história por ser contada é a resistência que se ergueu, sobretudo nas redes sociais, quando a Receita corretamente tentou aumentar a fiscalização sobre o Pix. Quem espalhou ou reproduziu a fake news de que o governo pretendia taxar o Pix acabou fazendo o trabalho sujo, ainda que indireta e involuntariamente, para que o crime organizado seguisse se valendo de fundos bilionários em fintechs suspeitas.

Agora, espera-se que os órgãos de fiscalização ganhem mais força e instrumentos para dar um basta ao Estado mafioso paralelo. Mas, como dito lá em cima, esse pode ser o ponto de partida. Quando as redes do tráfico, do contrabando e da pirataria forem atacadas com o mesmo vigor, talvez não se precise cobrar ainda mais impostos de quem já os paga e o Brasil ingresse de vez no rol dos países decentes. _

MARCELO RECH

30 de Agosto de 2025
OPINIÃO RBS

Raízes fortes

Não poderia ter sido melhor escolhido o slogan da 48a edição da Expointer, a maior feira agropecuária a céu aberto da América Latina, que começa neste sábado e vai até o dia 7 de setembro, no Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio. Quando anunciam aos visitantes que "nosso futuro tem raízes fortes", os agricultores, os criadores, os empresários e os governantes gaúchos não estão se referindo apenas à história de um Estado que cresceu e se desenvolveu a partir das lides do campo, mas também reafirmam a resiliência dos rio-grandenses para se reerguer depois de cada dificuldade.

Só mesmo um povo com raízes fortes seria capaz de organizar essa grande festa do setor primário depois de ter enfrentado três estiagens seguidas, uma grande enchente estadual e outras pequenas localizadas, o endividamento decorrente das intempéries que ainda não está equacionado e, por fim, os efeitos do recente tarifaço norte-americano. Porém, mesmo nesse contexto de obstáculos sequentes, todos podem ficar certos de que as raízes do trabalho e da coragem brotarão e produzirão árvores, frutos, grãos, alimento para o gado, animais saudáveis, carne, máquinas agrícolas, novas tecnologias, inovação, todo o progresso contido na semente milagrosa da determinação.

A feira será, novamente, um grande palco para o desfile de animais, para as novidades tecnológicas da indústria do campo e para os produtos da agroindústria e da agricultura familiar. Mas pretende ser, igualmente, um espaço estratégico para negócios, para o contato dos brasileiros com representantes internacionais de mais de 25 países, para a abertura de novos mercados, para a presença de autoridades e para a renegociação das dívidas dos produtores rurais. Um dos eventos previstos pelos organizadores é a reunião dos 27 secretários estaduais de Agricultura do país, que já confirmaram presença. Além disso, todos os governadores estão convidados e é esperada, também, a participação de representantes do Ministério da Agricultura e do alto escalão do governo federal.

Mais de 25 países estarão representados na 48ª Expointer. Entre os estrangeiros, estão confirmadas as presenças de autoridades da Ásia, que é um grande e potencial mercado consumidor, das Américas, da África e da Europa, com destaque especial para a Itália, que terá estande próprio em homenagem aos 150 anos da imigração italiana no Estado.

Público e autoridades terão a oportunidade de acompanhar uma programação intensa e atraente, que inclui o maior concurso de cavalos crioulos da América Latina - o Freio de Ouro -, para cuja final, no dia 6 de setembro, são esperadas mais de 200 mil pessoas. Além disso, os visitantes poderão conhecer e fazer negócios no parque de máquinas agrícolas, onde estarão 120 expositores dos mais modernos equipamentos fabricados no Rio Grande do Sul, responsável por 70% da produção nacional nessa área específica.

Como sugere o slogan da Expointer, vamos mostrar nossas raízes fortes, mas o futuro também estará presente. 

OPINIÃO RBS

30 de Agosto de 2025
POLÍTICA E PODER - Rosane de Oliveira

Federação PP-União aposta em Covatti Filho para o Piratini

Quando Covatti Filho se lançou candidato ao Piratini, o objetivo era evitar a divisão entre o grupo que defende o apoio a Gabriel Souza, com Ernani Polo na vaga de vice, e o que prefere uma aliança com o PL, na qual o PP indicaria o companheiro de chapa. A situação mudou nos últimos dias, a ponto de o secretário do Desenvolvimento Rural, Vilson Covatti, dizer para quem quiser ouvir que o filho será governador, com o deputado Sanderson (PL) de vice e Luciano Zucco na disputa por uma das duas cadeiras do Senado.

Nesta sexta-feira, no almoço de abertura da Casa da RBS na Expointer, Covatti repetiu essa história sem pedir segredo - e os trechos principais puderam ser ouvidos nas mesas vizinhas. Um dos líderes envolvidos nas negociações com o PL confirma que as conversas estão bastante avançadas e envolvem figuras como Ciro Nogueira (PP) e Valdemar Costa Neto (PL).

Os líderes dos dois partidos ficaram alarmados com uma pesquisa encomendada pelo PL. Segundo líderes, ela mostra que, se a eleição fosse hoje, a direita no RS estaria em maus lençóis. Zucco aparece tecnicamente empatado com Juliana Brizola (PDT). No Senado, Marcel van Hattem (Novo), que concorreria em aliança com o PL, perderia para Eduardo Leite (PSD) e Manuela D?Ávila, que ainda não escolheu seu partido.

A pesquisa fez soar o alerta entre os caciques, que consideram fundamental aumentar a relevância da direita no Senado. Zucco seria, na avaliação desses líderes, mais viável do que Van Hattem, por ser o homem mais próximo de Bolsonaro no RS.

Zucco garante que é candidatíssimo

O deputado Luciano Zucco disse que não existe hipótese de desistir da candidatura a governador para concorrer ao Senado. Contou que há alguns dias almoçou com os presidentes nacionais do PP, Ciro Nogueira, e do PL, Valdemar Costa Neto, e nada foi dito sobre a hipótese levantada por Vilson Covatti de ter o deputado Ubiratan Sanderson como vice e ele como candidato ao Senado.

- Não existe isso. Não sei de onde Covatti pode ter tirado essa ideia e não é verdade que o PL tenha encomendado alguma pesquisa que mostre os resultados mencionados. Sou candidatíssimo ao Piratini, com Sanderson e o deputado Marcel van Hattem disputando as vagas no Senado - disse Zucco, preocupado com o prejuízo que a afirmação de Covatti pai possa causar a sua candidatura.

Zucco diz que o PL está conversando com o PP e que ele tem interesse em ver a direita unida na eleição. 

Pimenta visita Juliana de olho em união da esquerda no RS

Não foi só uma visita de cortesia a que o deputado Paulo Pimenta (PT) fez a Juliana Brizola (PDT) nesta sexta-feira. Empenhado em trabalhar para que a esquerda concorra unida em 2026, o PT quer mostrar ao PDT que os dois partidos podem reproduzir no RS a aliança que buscará a reeleição de Lula.

Como Juliana aparece à frente do pré-candidato Edegar Pretto (PT), o PDT vem dizendo que a aliança só prospera se ela for a candidata. Já os petistas adotaram o discurso de que primeiro é preciso discutir a aliança sem impor nomes. Pimenta foi ao encontro de Juliana com esse espírito: tentar convencê-la de que a união é necessária para evitar a vitória da extrema direita. _

Como Heinze explica seu voto contra o "PL da Adultização"

Como pode um senador votar contra um projeto para proteção das crianças e adolescentes nas redes sociais? A pergunta tem se repetido desde quarta-feira, quando o Senado aprovou o PL da Adultização, com apenas três votos contrários - um deles o do gaúcho Luis Carlos Heinze (PP).

Questionado pela coluna, Heinze respondeu com uma extensa nota. Ele reconhece a necessidade de proteger menores no ambiente digital, mas argumenta que o projeto é "deficiente pela falta de especificidade". Entende que o texto não deixa claro o que seria "conteúdo impróprio" e supõe que a lei possa ser usada com interesses políticos, para "ações indevidas de controle das redes". _

Para onde vão os novos helicópteros da Brigada Militar

Um dos novos helicópteros da Brigada Militar destinados a operações de segurança e resgates deverá pousar em Santa Maria, onde ainda este ano será criado o 3º Esquadrão de Aviação. O novo grupamento faz parte da expansão do serviço de aviação da BM.

A opção por Santa Maria é explicada pela geografia, já que fica na Região Central. De lá, o helicóptero pode atender outras regiões com viagens mais curtas em comparação às aeronaves que partem de Porto Alegre, por exemplo.

Ter um helicóptero da Brigada em Santa Maria é uma demanda de toda a região, com apoio dos setores político e empresarial. O presidente da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços da cidade, Luiz Fernando Pacheco, diz que há um movimento da sociedade civil e da prefeitura para a construção do hangar, dentro da Base Aérea de Santa Maria.

- A prefeitura se comprometeu em fazer a terraplenagem no entorno, asfalto, piso, e a sociedade civil vai custear o hangar - revela Pacheco.

No total, são quatro helicópteros adquiridos pela BM, dois deles com verba do fundo da reconstrução (Funrigs). Também há expectativa de que uma das aeronaves seja destinada à Fronteira Oeste. 


A Expointer da sustentabilidade

Se o agro e os humores do clima já eram temas inseparáveis, os eventos extremos que vêm acometendo o RS nos últimos anos tornaram essa relação ainda mais evidente. O produtor rural gaúcho sofre pelos dois lados - com a falta e com o excesso de chuva.

Os efeitos do aquecimento global prejudicam a produção e aumentam os custos, encarecendo o preço final, que é sentido no bolso de todos nós, principalmente nos supermercados.

Por isso, no início de mais uma Expointer, é importante destacar o papel do agronegócio como parte fundamental da solução diante do desafio das mudanças climáticas. Se em muitos campos políticos a polarização é fenômeno recente, no campo a dualidade agronegócio x ambientalismo é antiga. Felizmente, essas rusgas, hoje, limitam-se a pequenos nichos. Quase nenhum produtor rural nega os efeitos climáticos, assim como poucos ambientalistas defendem o ambiente sem incluir o homem do campo no debate. Ano passado, houve a maior tragédia climática do Estado, e, mesmo assim, a feira foi realizada. Agora, é hora de dar novo impulso.

A Expointer é mais do que o Freio de Ouro, a exposição e a premiação de animais. É da agricultura familiar, das máquinas e dos negócios. Mas é um momento de debater pesquisas, compartilhar conhecimentos e reafirmar compromissos com a sustentabilidade. _

Melo vai à COP30

O prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, confirmou participação na COP30. A presença estava em avaliação devido aos altos custos de hospedagem em Belém (PA).

A comitiva ficará em um apartamento de Airbnb, com diária de R$ 7 mil. A vantagem é a capacidade de acomodar até seis pessoas, permitindo dividir o custo.

O valor da diária por pessoa ficará em aproximadamente R$ 1,1 mil. Esse valor supera o limite de R$ 800 estabelecido pela prefeitura para eventos nacionais. No entanto, como a COP30 é um evento internacional, a gestão entende ser possível aumentar para até R$ 2,5 mil, valor que será ultrapassado com a hospedagem coletiva.

A comitiva ficará em Belém de 9 a 15 de novembro. _

A COLUNA ERROU

A China ultrapassou os Estados Unidos em PIB por paridade de poder de compra, e não em PIB per capita, conforme informamos na edição de sexta-feira. _

Entrevista - Marcelo Gleiser - Físico e astrônomo brasileiro

"A natureza é mais poderosa do que qualquer solução tecnológica"

Marcelo Gleiser fará palestra de encerramento do 16º Congresso Estadual da Magistratura, da Ajuris, entre 17 e 19, em Garibaldi. No dia 22, às 10h, fará a palestra "Reconstruir e reencantar: ciência, consciência e o cuidado com a vida". O evento, do Instituto Cidadania Cabanellos, será aberto ao público, no prédio 40 da PUCRS, na Capital.

O que é mais importante: ação coletiva ou ação individual na pauta da sustentabilidade?

Há um problema que chamamos de dissonância cognitiva. O indivíduo, em geral, acha que é muito pequeno para fazer diferença. "Quem sou eu para tomar uma atitude e começar a cuidar das minhas emissões, quando a minha participação nesse processo é tão mínima?". As pessoas desistem antes de começar, e isso para mim é um problema seríssimo. Porque eu acredito em democracia. Acredito na pressão para que os governos também façam alguma coisa, adotem medidas. Você faz a sua reciclagem de lixo, usa menos água, menos energia, usa mais transporte público. Chamo de "a doutrina do menos": menos lixo, menos energia, menos água, menos carro e menos energia. Por que isso é importante? Porque a pessoa, então, fala: "Estou fazendo o meu papel". As pessoas da família podem se mobilizar. Como os governos não estão fazendo muito, acredito muito na força das pessoas.

Qual é o papel das empresas?

Essa é parte desse projeto que começamos aqui na Toscana. Estou extremamente surpreso com o interesse das lideranças brasileiras nesse tipo de conversa. Quando falamos sobre isso, não temos aquela coisa evangélica: "Vocês têm de fazer isso". Algo do tipo alarmista, distópico. Ninguém vai mudar de opinião. Vão começar a mudar de opinião não é só com a cabeça, mas com o coração. A emoção é que gera esse tipo de transformação, de atitude no âmbito pessoal e de liderança corporativa. As pessoas vêm aqui e recebem um tratamento tanto emocional quanto racional. O líder empresarial precisa entender o impacto ambiental que pode ter no processo decisório. É por isso que estamos investindo tanto nessas conversas com lideranças empresariais. O líder sai mexido pessoalmente. Isso gera a transformação que queremos.

É possível conciliar a ciência e a espiritualidade?

A ciência continua sendo objetiva sempre. O que difere a ciência de uma fé é que existe uma objetividade concreta na ciência baseada no processo de validação empírica. Quando as pessoas, no Brasil, falam sobre espiritualidade, começam a achar que é coisa de alma, de espírito, de sobrenatural. Aqui, não estamos falando de nada disso. A ideia é uma espiritualidade ligada com a compreensão de que somos parte de um processo natural muito maior. Não tem a ver com Deus ou deuses. É um processo de pertencimento ao mundo natural. A natureza é muito mais poderosa do que qualquer tipo de solução tecnológica que possamos ter. A tecnologia auxilia, mas ela não resolve. O que resolve é uma mudança de mindset, de ideologia. E é essa mudança que eu estou pregando. Estou propondo o que eu chamo de espiritualidade secular, completamente desvinculada de qualquer tipo de religião. _

INFORME ESPECIAL 

sexta-feira, 29 de agosto de 2025


29 de Agosto de 2025
CARPINEJAR

Palavras proibidas a quem ama

Promessas no campo do amor são sempre contornáveis.No terreno imprevisível das emoções, você não pode dizer "nunca" ou "jamais". São palavras proibidas.

É provável que morda a língua com um beijo. E nem sentirá o gosto do próprio sangue. É provável que se hidrate com a água que jurou que não beberia mais. O extremismo é temerário quando envolve sentimentos profundos por um ideal. A razão não manda, resta-lhe o papel secundário e tardio de apagar incêndios.

O empresário Marcelo Marques, herói da torcida tricolor, suspendeu sua candidatura à presidência do Grêmio no programa Sala de Redação de quarta-feira. Mesmo depois da mais alta filantropia: comprar a Arena por R$ 145 milhões e devolvê-la ao clube do coração. Mesmo depois de deixar um aporte de R$ 10 milhões para contratações, do qual parte já foi usada para o retorno do volante Arthur, que estava na Juventus da Itália. Mesmo depois de ser considerado e festejado como um Sassá Mutema, personagem de Lima Duarte na novela de sucesso O Salvador da Pátria (1989).

Marcelo chegou a ser peremptório na coletiva: É uma decisão irreversível. Sua alegação é a falta de disposição para lidar com os arranjos políticos. Assustou-se com a oposição e a resistência de dirigentes ao tentar compor nomes para formar a sua chapa. Isso que buscava ser consensual, trazendo suportes ligados ao atual presidente Alberto Guerra e ao antigo Romildo Bolzan.

Ele confiava que a esperança pelo bem comum seria colocada acima das intrigas palacianas. É bom ver alguém puro, ingênuo, com intenções nobres se metendo na fogueira das vaidades de um dos maiores patrimônios do esporte gaúcho. Não sairia ileso. Os conflitos são esperados, os atritos são fatalidades do processo, as rusgas no poder são rotineiras.

Até porque sua trajetória é de fora para dentro: não era conselheiro, mal conhece 10 conselheiros. Seu cabo eleitoral é o seu discurso e o seu histórico como o empreendedor que transformou uma padaria no fundo de um quintal em Gravataí na Marquespan, império do cacetinho no país, produzindo diariamente 17 milhões de pães.

Se fosse no campo de negócios, eu acreditaria no seu recuo. Mas, já que ele é um torcedor apaixonado, não levo ao pé da letra. Vai mudar de ideia. Sonhos não abrem mão dos encontros, apenas trocam a data e o local.

Nele, existe o hino de Lupicínio ecoando mais forte do que a voz da sua consciência: "Até a pé nós iremos / Para o que der e vier / Mas o certo é que nós estaremos / Com o Grêmio onde o Grêmio estiver".

Não negará um chamado. Não se indisporá com uma missão. No máximo, dá para pensar que adiou sua nominata para a próxima eleição. Contudo, não duvido que ainda volte atrás antes das urnas de novembro.

Para rever seu posicionamento, Marcelo Marques nem precisa consultar o claro e cristalino apoio da massa do Grêmio. Basta escutar o coro da torcida colorada, rival, que vibrou com a sua desistência como se fosse um título inusitado. O medo é sinal de respeito, e eu não desprezaria tamanho ibope. _

CARPINEJAR

29 de Agosto de 2025
OPINIÃO RBS

O inacreditável poder do crime

A maior operação policial contra o crime organizado da história do país, deflagrada nesta quinta-feira por diversos órgãos de fiscalização e segurança - entre os quais o Ministério Público de São Paulo, o Ministério Público Federal, as Polícias Federal, Civil e Militar de São Paulo, e a Receita Federal -, atinge em cheio o principal grupo criminoso brasileiro e suas ramificações na área econômica, especialmente no mercado financeiro e na rede de postos de combustíveis.

Tudo é superlativo nesta megaoperação que abala o país e causa perplexidade mundial, da força-tarefa de 1.400 agentes que apenas ontem cumpriram 200 mandados de busca e apreensão contra 350 alvos em 10 Estados aos valores estratosféricos movimentados pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) por meio de suas lavanderias de dinheiro. Só na badalada avenida paulista Faria Lima - considerada o epicentro financeiro e econômico do país, com sedes de grandes empresas, fundos de investimento, bancos e startups - estão localizados 42 alvos da operação policial, empresas, corretoras e fundos de investimento que operam fortunas para a organização criminosa.

Estimam os investigadores que o PCC controla milhares de postos de combustíveis em vários Estados e movimenta o dinheiro ilícito por meio de 40 fundos de investimento, com patrimônio líquido superior a R$ 30 bilhões. A investigação já apurou também que, entre 2020 e 2024, mais de R$ 10 bilhões em combustível foram importados pelos investigados. Segundo a Receita Federal, os fundos financiaram a compra de um terminal portuário, quatro usinas de álcool, 1.600 caminhões para transporte de combustíveis e mais de 100 imóveis, como fazendas milionárias no interior de São Paulo.

Embora se perceba uma certa disputa de protagonismo pelas corporações federais e estaduais que comandam o trabalho investigativo, a megaoperação policial já revelou ao país e ao mundo a inacreditável dimensão atingida pelo crime organizado no Brasil, comparável às grandes máfias internacionais tanto pela ousadia quanto pela diversificação em negócios aparentemente legais que possibilitam a movimentação do dinheiro mal havido. Inserida na economia formal por meio de atividades regulares, a rede criminosa coordenada pelo PCC inclui a sonegação fiscal e a lavagem de dinheiro entre suas especialidades, além de crimes ambientais e estelionato.

O governo federal está fazendo um esforço para coordenar as ações, como ficou claro nas entrevistas coletivas dos ministros Ricardo Lewandowski (Justiça e Segurança Pública), Fernando Haddad (Fazenda), e do diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, juntamente com a subsecretária de fiscalização da Receita Federal, Andrea Costa Chaves. Depois de anos de omissão e inoperância, é o mínimo que se espera do poder central para impedir que alguma disputa de vaidades comprometa esta grande oportunidade de aniquilar de vez a central criminosa que atormenta os brasileiros, ameaça a ordem pública e a própria democracia. 

29 de Agosto de 2025
GPS DA ECONOMIA  - Marta Sfredo

Como e por que o PCCse infiltrou na Faria Lima

Se na revenda de combustíveis a infiltração do crime organizado já era denunciada por integrantes do segmento, a presença do PCC no coração da Faria Lima, símbolo do mercado financeiro no Brasil, era menos óbvia. E chegou não só a operadoras digitais (fintechs) pouco conhecidas, mas a grandes empresas, com ações negociadas na bolsa de valores, em tese entre as mais vigiadas do país.

Dos 350 alvos de busca e apreensão, 42 foram na Faria Lima, dos quais o mais impactante foi na Reag Investimentos, uma das maiores gestoras independentes (sem ligação com bancos). Conforme a Polícia Federal (PF), cerca de 40 fundos estão sob suspeita de utilização pelo PCC. É um alerta para o elevado grau de profissionalização do crime organizado. Em um país em que a digitalização cresceu, os delinquentes acompanharam.

Até agora, a maior suspeita sobre a Reag era sua forma não ortodoxa de ter ações negociadas na bolsa, alvo de investigação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), conhecida como "xerife do mercado". Em janeiro, havia comprado a GetNinjas, que já tinha credenciais para operar até no chamado Novo Mercado. Em tese, esse nicho exige controles mais rigorosos do que a média das companhias de capital aberto (como são chamadas as empresas que negociam na bolsa). Em nota, a empresa informa que está "colaborando integralmente com as autoridades".

Se as suspeitas da PF se comprovarem, os motivos da infiltração estão claros. Ter uma operação com essa chancela é importante para quem precisa de credibilidade - e liberdade - para lavar grandes quantias de dinheiro. E a forma de desembarque em um setor considerado elitizado no Brasil foi semelhante à forma de chegada à produção e revenda de combustíveis: a compra de participações em empresas estabelecidas do segmento. Os fundos geridos por esse tipo de empresa permitem que a origem dos recursos seja camuflada a ponto de tornar quase impossível o rastreamento. Ao que tudo indica, quase. _

Ultra (Ipiranga) decolou 8,6%, Vibra (BR) saltou 4,7% e Cosan (Raízen e Shell) subiu 2,5%, mas Reag despencou 13,5% ontem.

Como Al Capone e "os intocáveis"

Na entrevista em que detalhou a megaoperação contra o PCC, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, revelou que, em 2023, foi criada uma equipe na Receita Federal para investigar fraude estruturada. A ideia era estudar e identificar mecanismos financeiros sofisticados, como os usados pela facção criminosa.

Segundo o ministro, foi um dos instrumentos que permitiram detectar o complexo esquema financeiro usado tanto para organizar desde o controle de empresas quanto produtoras de etanol até a ocultação e gestão de patrimônio obtido de forma criminosa nos fundos protegidos por várias camadas de "investidores".

Em vez de combater o crime pela ponta do varejo, no pequeno traficante ou golpista de ocasião, desta vez a operação mira o atacado, ou seja, nos donos do dinheiro. Tem semelhança, guardados os cenários históricos e tecnológicos diferentes, com a montagem do time conhecido como "os intocáveis", comandado por Eliot Ness, agente do Departamento do Tesouro (nos EUA, o equivalente ao Ministério da Fazenda no Brasil).

A equipe desvendou o esquema e condenou Al Capone por "simples" (perto dos assassinatos ordenados pelo mafioso) evasão de imposto de renda.

Desta vez, ponto para Eliot Ness. Mas esse tipo de operação não pode ser um raro ponto fora da curva. Precisa ser recorrente para asfixiar de fato o crime cada vez mais organizado. E digitalizado. _

Sobretaxas e ação antidumping beneficiam Braskem e Gerdau

Depois de dois anos de pressões, o Brasil adota sobretaxas a resinas plásticas vindas de EUA e Canadá. Na quarta-feira, o Comitê Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior (Gecex/Camex) decidiu aplicar cobrança temporária por seis meses sobre a importação de resinas de polietileno (tipo de plástico) dos dois países.

Em agosto de 2023, em evento da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) para "sensibilizar" parlamentares, o problema da importação via Zona Franca de Manaus (ZFM) havia sido exposto no polo de Triunfo. A principal empresa beneficiada é a Braskem, que teve prejuízo no segundo trimestre.

Em tese, a ZFM permite importar sem impostos insumos, partes e peças que teriam lá um processo industrial, ainda que simplificado, e o produto final fica isento de tarifas. No caso das resinas plásticas, segundo diagnóstico feito na época, o material importado em condições benéficas não passava por transformações posteriores.

Além da sobretaxa sobre resinas plásticas, o Gecex também contemplou parcialmente um pedido da indústria siderúrgica: tarifas antidumping sobre folhas metálicas de aço carbono da China. A "invasão chinesa" havia sido apontada pela Gerdau, de origem gaúcha, como principal motivo da demissão de 1,5 mil funcionários entre janeiro e julho e uma anunciada, mas não detalhada, desistência de investimentos no Brasil. _

GPS DA ECONOMIA


29 de Agosto de 2025
INFORME ESPECIAL - Rodrigo Lopes

Trump empurrou a Índia para a órbita da China

Se você acha que o mundo está preocupado com disputa tarifária entre EUA e Brasil, reveja seus conceitos. Do ponto de vista geopolítico, a tensão que realmente interessa é entre EUA e China: a grande disputa do século 21, que faz mover placas tectônicas do sistema internacional.

Os Estados Unidos estariam enfrentando perda relativa de poder político, econômico e militar, e estaríamos em um turbulento período de transição hegemônica. Ninguém sabe se a ordem internacional será liderada pela China. Mas o fato é que o dragão asiático, que já ultrapassou os EUA em PIB per capita, vem representando, na visão americana, ameaça à liderança americana.

É importante prestar atenção à reunião que começa domingo, em Tianjin, onde Xi Jinping receberá Vladimir Putin, Narendra Modi e outros líderes, na cúpula da Organização de Cooperação de Xangai. Foquemos em Modi, primeiro-ministro indiano que, pela primeira vez em sete anos, irá à China. A relação entre os países estava congelada desde a guerra, nas alturas do Himalaia, havia cinco anos.

China e Índia são dois gigantes - em território e população -, que disputam a liderança no sul da Ásia e no Oceano Índico. A China expande presença militar em países vizinhos, como Sri Lanka, Maldivas e Mianmar, o que gera receio de cerco estratégico na Índia, que, por sua vez, busca contrabalançar essa influência com sua própria diplomacia e presença naval. Os dois divergem não só no campo estratégico, mas em valores políticos: a Índia enfatiza a democracia, enquanto a China reforça o modelo iliberal.

Rivalidade

Do ponto de vista militar, a China é próxima do Paquistão, rival histórico da Índia, inclusive fornecendo armamentos. De olho nessa rivalidade, os EUA, por anos, vêm investindo em Modi como contraponto à ascensão chinesa.

Só que recentes movimentos de Trump mudaram tudo. Aqui, vale a frase "o inimigo do meu inimigo é meu amigo", princípio que os EUA souberam aproveitar para explorar a cisma sino-soviético nos anos 1970. Embora o degelo da relação Índia-China estivesse em andamento, a metralhadora tarifária trumpiana acelerou o processo. A Índia segue com apoio americano, mas, como os EUA recuaram, está recalibrando a política externa e melhorando a relação com a China. O movimento indiano segue a política de autonomia estratégica, que prioriza interesses nacionais em vez de alianças em blocos. Na prática, Trump jogou a Índia no colo da China. _

The Economist: "Golpe acabou fracassando por incompetência"

A revista britânica The Economist, considerada a bíblia do liberalismo, destacou como capa desta semana o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro. Abordando temas que vão da democracia à tentativa de golpe, a publicação traz como título: "O que o Brasil pode ensinar à América".

Logo de início, chama a atenção a ilustração da capa, que mostra Bolsonaro com o rosto pintado de verde-amarelo, usando um "chapéu de viking" - similar ao utilizado por Jacob Anthony Chansley, um dos apoiadores do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que invadiu o Capitólio em 2021. Chansley foi condenado a 41 meses de prisão, mas perdoado pelo republicano.

No início da reportagem, a revista destaca que Bolsonaro "perdeu sua tentativa de reeleição e se recusou a aceitar o resultado", chamou a votação de fraudulenta e usou as redes sociais para incitar seus apoiadores a se rebelarem.

Referindo-se a Bolsonaro como "Trump dos trópicos", a publicação o descreve como um ex-general de quatro estrelas que conspirou para anular o resultado das eleições. Segundo a revista, em seu governo "assassinos planejaram matar o verdadeiro vencedor" (em referência a Lula), embora destaque que "o golpe acabou fracassando por incompetência".

The Economist também afirma que o ex-presidente e seus aliados "provavelmente serão considerados culpados" no julgamento que se inicia na próxima terça-feira.

Fortalecimento da democracia

A revista ainda traça um paralelo entre Brasil e Estados Unidos e afirma que os dois países "estão trocando de papel": "Em contraste, mesmo com o governo Trump pressionando o Brasil por processar Bolsonaro, o país está determinado a salvaguardar e fortalecer sua democracia."

De acordo com a revista, a maioria dos brasileiros "não tem dúvidas sobre o que Bolsonaro fez" e que "a maioria acredita que ele tentou dar um golpe para se manter no poder."

E finaliza afirmando que: "a maioria dos políticos brasileiros, de esquerda e direita, quer deixar para trás a loucura de Bolsonaro e sua polarização radical". _

Gaúcho na Academia Nacional de Medicina

O urologista André Kives Berger, coordenador da Medicina Robótica do Hospital Moinhos de Vento, tomou posse como novo acadêmico da Academia Nacional de Medicina. Na cadeira 69, tornou-se o primeiro urologista fora do Rio de Janeiro a ser eleito membro titular e é o mais jovem a ocupar a posição, com 46 anos. O grupo reúne-se semanalmente com o objetivo de contribuir com o desenvolvimento da Medicina, além de servir como órgão de consulta do governo. _

Alerta aos brasileiros em Portugal

O Consulado Geral do Brasil em Lisboa emitiu alerta aos brasileiros que vivem em Portugal devido ao início das operações da recém-criada unidade da polícia responsável por fiscalizar a presença de migrantes. A mensagem da representação diplomática, feita no Instagram, recomenda que os brasileiros portem sempre documento de identificação que comprove a sua situação legal no país. _

INFORME ESPECIAL

quinta-feira, 28 de agosto de 2025



28 de Agosto de 2025
CARPINEJAR

Banheiros de estrada

Não há nada mais impactante do que banheiro de estrada. Todos se parecem, mas é sempre uma experiência visual inédita, e uma provação da sua resiliência.

Por mais que se espere o básico - aguaceira de origem duvidosa no piso, papelões no chão para não escorregar, naftalinas nos mictórios, baias com fechaduras defeituosas, saboneteira de parede com um conteúdo verde ou vermelho de detergente -, reina um modus operandi insólito.

Se o frentista ou o atendente falar que é "lá atrás", prepare seus nervos de aço. Quanto mais distante o banheiro, pior o seu estado. Quando o toalete é menor, você não tem escolha: precisa buscar a chave, ligada a um chaveiro do tamanho de uma calota de carro. Se pretendia não chamar atenção para as suas necessidades, acabou dando um espetáculo.

Já vi postos de gasolina em que a chave estava presa por uma cordinha a um pote de ketchup. Ou a um pedaço de madeira (tronco, ripa, tábua). Ou a uma garrafa PET esmagada. Ou a um aro de bicicleta.

Tudo para não perder, e também para não levar junto e esquecer de devolver. No bolso, nem cabe. Só botando na mochila. Não deixa de ser um objeto artístico, manufaturado por uma mente extravagante.

O chaveiro do banheiro de um posto não é um adereço, é um castigo. Você carrega um trambolho que aparentemente foi resgatado de um ferro-velho ou do lixo. Qualquer pessoa nota que você está apurado. Apartado da discrição que o momento exige. Um escândalo em movimento, andando com as pernas coladas.

As sinalizações de "feminino" e "masculino" das portas tampouco orientam e amparam em sua urgência. Alguns banheiros apresentam gravuras tão abstratas, desprovidas de saia ou calça, que o comum é se sentir um analfabeto funcional. São bonecos genéricos, mal diagramados.

Já hesitei diante de tabuletas com personagens, cartas ou animais. Uma vez enfrentei uma crise de consciência entre a figura de um playmobil com peruca e outro sem peruca. O que significava? Desde quando cabelo indica o gênero? Para mim, ambos eram homens. Sou careca: optei pelo espaço que me representava. Não sei se acertei.

O que mais me apavorou foi uma parada em cidade litorânea. O lugar homenageava os frutos do mar com placas de camarão e lagosta. Supus que camarão fosse masculino. Mas mijei e saí correndo. Não permaneci por muito tempo para tirar a cisma. Quando o WC é maior, ainda assim me deparo com enigmas.

Lembro que, numa rodovia gaúcha (melhor não nomear o paradeiro), entrei num sanitário coletivo que possuía, além das privadas tradicionais, algo que se assemelhava a uma churrasqueira ou lareira no fundo - com as achas de lenha encaixadas para o fogo.

Será que servia para aquecer? Ou fazer um churrasco? Ou disfarçar o cheiro? Não imagino espetos corridos ou uma confraternização naquele ambiente de passagem. O usuário apressado, surgindo por acaso na área, poderia ser surpreendido com uma gamela de coraçõezinhos e salsichões fincados em palitos.

Minha fantasia não vai tão longe. Por pudor, fico por aqui. _

CARPINEJAR

A trilha sonora das nossas vidas

O último filme exibido no recente Festival de Gramado foi o documentário Até Onde a Vista Alcança, sobre a luta dos Kariri-Xocó pela homologação de suas terras em uma região de Alagoas. Um dos aspectos que mais chama a atenção no longa é a centralidade da música no cotidiano desse povo. Quase tudo o que fazem é acompanhado de cânticos e danças: da invocação aos ancestrais à elaboração da comida, da preparação para o combate ao folguedo comunitário. Não há situação da rotina em que esses indígenas não encaixem um som bonito.

Me identifico com essa necessidade constante de fundo musical. Se Nietzsche afirmou que a vida sem música é um erro, avanço para além do bem e do mal: ela simplesmente não faria sentido algum sem melodia. A música ajuda a sedimentar lembranças, evocar emoções, enraizar a identidade, exumar do passado afetos e dores, pessoas e lugares.

Amplifica e cristaliza os significados das experiências, compondo a trilha sonora das nossas vidas. Essa espécie de sinestesia entre sons e vivências me abalroou de frente nestes dias escutando dois grandes artistas internacionais ao vivo.

No domingo, o CHC Santa Casa recebeu o cantautor Fernando Cabrera. Acompanhando-se na guitarra, o reverenciado poeta da canção uruguaia apresentou um comovente desfile de temas encharcados por lirismo e melancolia platina, que me trouxe recordações de passeios românticos pelas ruas gastas e acolhedoras de Montevidéu e temporadas tépidas nas praias abertas do "paisito" - como os uruguaios chamam carinhosamente seu lugar no mundo. "A primavera naquele bairro se chama solidão", cantou Cabrera em El Tiempo Está Después - e me desbordei todo na plateia.

Na terça, outro músico com suas cordas remexeu em suvenires da minha história. Um dos maiores nomes do jazz contemporâneo, o guitarrista estadunidense Pat Metheny conduziu o público em seu show solo no Auditório Araújo Vianna por caminhos musicais maravilhosos e surpreendentes. No bis, quando ouvi Sueño con Mexico, revisitei em sonho acordado as amizades de faculdade, as noites de boemia no Bom Fim, os discos do selo ECM gravados em fita cassete, as paixões de juventude, o frescor das primeiras vezes. Música serve pra isso. _

ROGER LERINA 



28 de Agosto de 2025
GPS DA ECONOMIA - Anderson Aires

O recado do emprego formal para o BC

O mercado de trabalho brasileiro apresentou nova desaceleração. O país abriu 129.775 vagas com carteira assinada em julho, segundo dados do Novo Caged. O dado veio abaixo do esperado.

Apesar de mais um mês no azul, a criação de postos formais é 32% menor do que o registrado no mesmo mês do ano passado. Além disso, é o menor montante para julho desde 2020.

Em 12 meses, o indicador também mostra perda de ritmo, com acumulado 14% menor ante o mesmo período do ano passado.

Esse conjunto de informações é mais um ingrediente que reforça a ideia de um mercado de trabalho em processo de desidratação após picos históricos. E esse movimento tende a dar mais conforto para o Banco Central (BC) na política monetária.

Apesar de soar estranho, mercado de trabalho aquecido e resiliente preocupa o BC no combate à inflação. Um nível alto de emprego no país costuma pressionar a inflação via demanda maior por produtos e serviços. Quando o emprego retrai, cresce o espaço para preços mais comportados, logo, inflação menos persistente.

Movimento ainda incipiente

Rodolpho Tobler, pesquisador e economista do FGV Ibre, afirma que a pisada de freio no emprego responde a dois fatores principais. O primeiro, e com peso maior, é o arrefecimento da atividade econômica, espraiado entre os setores, na esteira do juro alto. O segundo, com influência menor, é a incerteza gerada pelo tarifaço dos EUA nas companhias brasileiras.

O pesquisador afirma que os dados do Caged deixam o BC com menos dúvidas sobre o andamento da política monetária, mostrando a eficácia do aperto via juro básico. No entanto, lembra que o mercado ainda mostra sinais de resiliência, não abrindo espaço para medidas mais contundentes no curto prazo:

- São dados ainda muito incipientes. Estamos falando de uma desaceleração, mas de um emprego ainda aquecido, com saldos positivos. Não muda muito o cenário do BC, mas tem um tom positivo, que parece estar confirmando a perda de ritmo esperada. _

Em dia com dados de desaceleração no mercado de trabalho brasileiro, que indica efeitos da política monetária, e alta forte no Ibovespa (1,04%), o dólar fechou ontem com leve queda de 0,32%, cotado a R$ 5,416.

Burguer no Harmonia

Conhecida pelos hambúrgueres artesanais, a Mark Hamburgueria terá unidade no Parque Harmonia, a partir de segunda-feira. Será a sexta loja da rede na Capital e a terceira aberta em menos de um ano.

Com 60 metros quadrados, a nova operação aposta em formato mais compacto, com cardápio reduzido e sistema de autoatendimento. A unidade comportará cerca de 40 clientes.

- Escolhemos o Harmonia porque é um espaço público em transformação - diz o proprietário da rede, Mark Bandeira. _

México como alternativa ao tarifaço para móveis

O governo brasileiro avalia que o México tem potencial de ser um mercado alternativo à indústria de móveis, que tem polo importante em Bento Gonçalves, em meio ao tarifaço de Donald Trump. O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), Geraldo Alckmin, lidera uma missão oficial na Cidade do México, que termina hoje.

Segundo a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), as importações mexicanas de móveis somaram US$ 659,7 milhões em 2024, mas só 2,6% (ou US$ 16,9 milhões) vieram do Brasil. Por outro lado, exportadores nacionais venderam US$ 216,5 milhões em móveis aos Estados Unidos, onde os produtos são taxados em 50%.

Um acordo comercial viria em bom momento não só para o Brasil, mas também para o México, que tem considerável dependência da economia americana. O país envia para lá 83% de tudo que exporta e enfrenta taxas de 25%, com exceções.

Conforme a Associação das Indústrias de Móveis do Estado (Movergs), o México está entre os cinco principais importadores de móveis gaúchos. A representante do setor no Rio Grande do Sul diz que "ações que facilitem relações comerciais com outros países com certeza seriam bem-vindas". _

Dados da ApexBrasil de exportações em 2024 (em US$)

99,4 milhões

é quanto o México compra em equipamento médico-odontológico do Brasil (2,5% do total importado)

30,8 milhões

é quanto o México compra em máquinas agrícolas do Brasil (15%)

16,9 milhões

é quanto o México compra em móveis do Brasil (2,6%)

4 milhões

é quanto o México compra em mármore do Brasil (9,2%)

GPS DA ECONOMIA

28 de Agosto de 2025
POLÍTICA E PODER - Rosane de Oliveira

Prefeito Melo, o senhor precisa ir à COP em Belém

Mesmo com a ressalva de que a rede hoteleira de Belém ultrapassou todos os limites da razoabilidade, o preço da hospedagem não pode ser desculpa para o prefeito Sebastião Melo cogitar a possibilidade de não participar da COP30, em novembro.

Vale o mesmo para o governador Eduardo Leite, que estuda fazer um bate-volta Brasília-Belém, por falta de hospedagem. Convenhamos que é pouco passar apenas um dia no evento mais importante do ano.

As agências de viagens que atendem os governos pensam nos limites das balizas colocadas nas licitações. Hospedagem tem de ser em hotel de pelo menos quatro estrelas etc etc. Por que não pensar "fora da caixa", com o perdão pelo uso desse clichê miserável? Por que não alugar um apartamento pelo Airbnb ou pelo Booking, e hospedar a delegação em uma casa que tenha cama decente, bom banho e ar-condicionado?

Nós todos temos obrigação com as futuras gerações em relação ao clima. Precisamos saber o que está sendo discutido, mesmo que a COP30 seja esvaziada pela ganância dos hoteleiros. Está na hora de as autoridades procurarem alternativas.

Irritado com a liminar que suspendeu o leilão para concessão da Usina do Gasômetro ao setor privado, o prefeito Sebastião Melo vai perguntar ao governo federal se quer assumir a gestão do centro cultural recém-reformado.

Bolsonaro dá uma espiadinha no policiamento reforçado

Diante do reforço do policiamento no condomínio onde mora, solicitado pela Procuradoria-Geral da República, o ex-presidente Jair Bolsonaro foi fotografado na porta de casa, dando uma espiadinha no movimento. No Instagram, Michelle Bolsonaro fez um desabafo. Disse que está sendo um desafio enorme lidar com as incertezas e suportar as humilhações. _

Capital cria seu próprio Ideb

Para não depender exclusivamente do Ideb e das avaliações estaduais e nacionais para ter noção de como anda a educação na Capital, a prefeitura criou o Sistema de Avaliação Municipal da Educação Básica (Sameb-POA).

Um indicador semelhante ao Ideb, o Idepoa, também foi estabelecido para sintetizar os resultados das escolas. _

Stihl vai doar coletes a fiscais

A empresa Stihl se dispôs a doar coletes adaptados à utilização de câmeras para agentes da Vigilância Sanitária de Porto Alegre. O uso desses equipamentos pelos fiscais foi anunciado pela prefeitura, após críticas a ações de fiscalização.

A doação foi confirmada pelo vice-presidente de Marketing da Stihl, Romário Britto, após articulação do vereador Ramiro Rosário (Novo). Britto diz que a empresa aguardará a indicação dos modelos adequados para ceder à prefeitura.

As primeiras câmeras usadas pela Vigilância Sanitária serão cedidas pela Guarda Municipal. Os coletes da corporação têm espaço adaptado para acoplar o equipamento, o que não ocorre com a roupa usada pelos fiscais.

Ontem, Ritter esteve na Câmara de Vereadores explicando o trabalho da Vigilância Sanitária. Para surpresa de quem assistiu, ganhou mais apoio da oposição do que dos aliados do prefeito Sebastião Melo. 

POLÍTICA E PODER

28 de Agosto de 2025
INFORME ESPECIAL - Rodrigo Lopes

O elo invisível entre o furacão Katrina e o RS

O Katrina foi a minha primeira cobertura de uma tragédia ambiental. Há exatos 20 anos, o furacão de categoria 5, com ventos de 280 quilômetros por hora, devastou New Orleans, nos EUA, matando 1.833 pessoas e ensinando muito que desigualdades sociais e raciais são decisivas entre quem morre e quem sobrevive.

A resposta lenta e desorganizada das autoridades deixou lições: no ano seguinte, a Fema, agência de gestão de emergência dos EUA, passou por uma ampla reforma, os diques foram reconstruídos, projetos de drenagem e bombas de alta capacidade foram implementados, houve avanços em monitoramento e aprimorados os alertas de evacuação.

Como enviado do Grupo RBS à Louisiana naqueles dias, dormi noites no carro na zona de desastre e circulei pelos nacos de terra poupados pela água que invadiu 80% da metrópole. Quando me perguntam, duas décadas depois, o que eu teria feito diferente naquela cobertura, não tenho dúvidas: teria alugado um barco para chegar mais perto das pessoas que mais sofriam.

No ano passado, quando uma tragédia semelhante se abateu sobre o Rio Grande do Sul, eu e alguns colegas circulamos, de bote, por ruas transformadas em rios. Eu poderia dizer que "quis o destino que pudesse acertar as contas com o passado". Mas não foi culpa do destino. É ciência. Um elo invisível une a primeira grande tragédia ambiental do século 21, o Katrina, e o desastre que engolfou o Rio Grande em 2024: a forma como nos relacionamos, como sociedade, com o ambiente. O descaso antecipou, em décadas, as previsões dos pesquisadores sobre as consequências das mudanças climáticas.

Inundada, saqueada e destruída, New Orleans também virou símbolo da incompetência governamental. Na teoria, a cidade estava preparada. Um ano antes, 40 órgãos públicos atuaram em conjunto durante um exercício para evacuar moradores, evitando danos de um fictício furacão chamado Pam. Mas, quando foi preciso colocar o exercício em prática, deu tudo errado.

Não acho que alguém tenha previsto o rompimento dos diques - disse o então presidente George W. Bush.

Previram. Desde 2002, engenheiros da Universidade da Louisiana trabalhavam exatamente com essa hipótese, chamada de The Big One. Ele chegou a New Orleans em 2005. Porto Alegre e o Rio Grande do Sul viveram sua maior tragédia climática no ano passado. Alguma coisa foi feita em termos de prevenção e resposta. Mas não o suficiente. Terá sido o The Big One dos gaúchos? Ou ele ainda virá? Como estaremos preparados? _

Vigilância Sanitária vai usar câmeras da Guarda Municipal

Diante das críticas sobre os métodos de abordagem das equipes da Vigilância Sanitária da Capital, a prefeitura de Porto Alegre informou que os fiscais começarão a usar câmeras corporais. Contudo, como o processo é burocrático e moroso, a Guarda Municipal irá emprestar 20 equipamentos para os agentes utilizarem nas inspeções, enquanto aguardam o trâmite de compra.

A informação foi confirmada pelo secretário municipal de Saúde de Porto Alegre, Fernando Ritter, em entrevista ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha. Conforme o gestor, o processo de implementação das câmeras já estava em andamento e foi acelerado devido aos recentes acontecimentos.

No entanto, há um problema técnico temporário: as câmeras da Guarda Municipal são acopladas a coletes balísticos, o que não faz parte do uniforme dos agentes sanitários. Assim, será necessária uma adaptação para o uso adequado dos equipamentos.

Segundo Ritter, a implementação completa da medida deve levar cerca de 15 dias, incluindo o período de capacitação dos agentes para o manejo dos dispositivos. Atualmente, 30 fiscais atuam em Porto Alegre. _

Preço médio das diárias cai em Belém

Caiu 22%, de fevereiro a agosto de 2025, o preço médio das diárias no Airbnb em Belém (PA), no período da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30). Em relação a julho, a queda foi de 9%. Os dados foram divulgados pela Folha de S.Paulo e confirmados pela coluna. Conforme o Airbnb, Belém tem 27.848 leitos e 19.274 quartos disponíveis. A plataforma comparou dados dos primeiros semestres de 2024 e de 2025 e observou crescimento de 115% nas buscas pelo período da conferência. _

Gaúcha a caminho da Faixa de Gaza

A presidente do PSOL-RS, Gabi Tolotti, integrará a delegação brasileira que participará da Global Sumud Flotilla, missão que navegará com barcos em direção à Faixa de Gaza para fornecer ajuda humanitária aos palestinos. Ela será a única gaúcha.

Diferentemente das flotilhas anteriores - que tiveram participação dos ativistas Thiago Ávila e da sueca Greta Thunberg -, desta vez serão diversos barcos partindo simultaneamente em ação coordenada por cerca de 40 países.

As embarcações levarão comida e suprimentos médicos. Os primeiros barcos partem de Barcelona, sábado. Os demais sairão da Itália, da Tunísia e de outros portos, com previsão de chegada em 13 de setembro.

Iniciativas semelhantes, anteriormente, foram interceptadas pela marinha israelense antes de chegarem à área palestina. _

INFORME ESPECIAL

quarta-feira, 27 de agosto de 2025



27 de Agosto de 2025
CARPINEJAR

Rumo ao centenário

Queria denunciar o restaurante Santo Antônio. Tem algo de sobrenatural ali: como pode permanecer tão bom durante 90 anos recém-completos? Que me passe a receita da longevidade. É a churrascaria mais antiga do país.

Entre os bairros Floresta e Moinhos de Vento, o negócio familiar surgiu do boca a boca das marmitas e viandas entregues aos vizinhos, em seguida se transformou em café, até se materializar na tradicional casa da Rua Dr. Timóteo.

São italianos gaudérios. Contra o desperdício, dispensaram o espeto corrido pela carne à la carte.

Jorge Aita e Elaine Congetta Aita, os irmãos proprietários, me conhecem desde pequeno. Desde quando eu tinha fartos cabelos loiros e fazia birra para ganhar a caixa de docinhos que vinha após a refeição.

É evidente que meus pais não cediam à chantagem dos quatro filhos. Era uma vitrine de guloseimas que meus irmãos e eu não ousávamos tocar. Almoço fora já era sobremesa. Meus velhos foram crianças naquelas mesas, assim como eu. Nossa família já está na quarta geração como clientela.

Pedimos sempre os mesmos pratos: ovos com gema mole para comer com pão, filé alho e óleo e fritas. Incrivelmente, nunca consultei o cardápio. Nem sou capaz de opinar sobre o que mais oferecem.

Convivo com a brigada de garçons há quatro décadas. Vi seus rostos mudarem, como numa vida concentrada em duas horas de filme. Sei seus nomes, seus sonhos, seus times de futebol. Humilham as facas: eles cortam bifes de dois andares com colher. 

Lembro que o restaurante assumiu pioneirismo na capital gaúcha ao criar uma brinquedoteca, uma salinha com jogos e brinquedos, que servia de luxuosa creche para nossos pequenos enquanto nós, adultos, prolongávamos a saideira com fofocas e chopes. Cuidavam de nossas crianças e não apressavam a conta - não havia domingo mais perfeito.

Estive lá quando a maioria fumava, depois quando se reservou um anexo para fumantes, depois quando os fumantes sumiram. O estabelecimento segurou valentemente suas portas abertas. Não sucumbiu à pandemia. Nem às duas enchentes - a de 1941 e a de 2024. Nem ao Plano Cruzado e aos fiscais do Sarney. Nem ao Plano Collor e ao confisco da poupança.

Em seu quase centenário caixa, já mexeu com real brasileiro, com cruzeiro, com cruzeiro novo, com cruzado, com cruzado novo, com cruzeiro outra vez, desembocando na moeda atual.

É uma teimosia que se mescla à esperança. Uma tenacidade que se mistura à loucura. Não é pequena a proeza de manter um comércio tão constante em igual ponto. Basta pensar que Porto Alegre só tem 163 anos a mais do que ele. É cartão-postal do nosso fim de semana, um endereço tombado pela paixão, um "aquece" antes do Beira-Rio e da Arena.

Em nenhuma visita deixo o portal da gula decepcionado, frustrado, ressentido. Acho apenas que comi demais. Prometo moderar numa próxima oportunidade, o que felizmente não cumpro.

E o mais curioso: por respeito aos meus pais, jamais provei sequer um dos brigadeiros e quindins da tentadora caixa de Pandora. Sigo obediente. Por mais que eu possa, não devo. Não pretendo obter vantagem alguma sobre o meu passado. 

CARPINEJAR