terça-feira, 9 de junho de 2020



09 DE JUNHO DE 2020
CRISE FINANCEIRA

Déficit do RS cai pela metade no primeiro quadrimestre

Início deste ano foi considerado positivo na comparação com 2019, mas cenário é crítico em razão da pandemia. 

Enquanto espera pelo socorro financeiro da União para terminar de pagar a folha de abril do funcionalismo, a Secretaria Estadual da Fazenda vê a arrecadação despencar em razão do coronavírus e vive reversão de expectativas. De janeiro a abril de 2020, o rombo chegou a R$ 635,7 milhões, segundo dados divulgados ontem pelo órgão. Não fosse a covid-19, o balanço poderia ter sido positivo.

O déficit contabilizado equivale a metade do valor registrado no mesmo período de 2019, mas não traduz a amplitude da crise desencadeada pela pandemia. Os efeitos financeiros do coronavírus começaram a ser sentidos a partir do fim de março. Até então, a contabilidade vinha sinalizando melhora - em janeiro e fevereiro, o desequilíbrio entre receitas e despesas foi 10 vezes menor do que o verificado nos mesmos meses de 2019.

A situação mudou quando o coronavírus passou a impor restrições de circulação e distanciamento social. Em março, a arrecadação caiu R$ 112 milhões e, em abril, despencou mais R$ 659 milhões.

Economia

O revés levou o Tesouro do Estado a reforçar os controles e a fechar os cofres. Descontada a inflação do período, as despesas totais caíram 17,4% no primeiro quadrimestre e as receitas diminuíram 15,7%. Os dados levam em conta todos os valores, inclusive transferências para municípios e entre órgãos do governo. Desconsiderando tais repasses, a variação foi menor, mas o Estado seguiu despendendo mais do que foi capaz de arrecadar. Com a pandemia, os depósitos para a saúde aumentaram 16,7% no período. Se a nova doença não tivesse paralisado o Rio Grande do Sul, o secretário estadual da Fazenda, Marco Aurelio Cardoso, sustenta que o desfecho seria outro. Pelos cálculos da instituição, o Piratini poderia estar celebrando saldo positivo de R$ 215 milhões. Mas a realidade é diferente - e nada otimista.

Diante do avanço da enfermidade e da perspectiva de continuidade da crise, a tendência é de que a situação piore. Só em maio, a Receita Estadual prevê retração de cerca de R$ 900 milhões na arrecadação, somando R$ 1,7 bilhão desde março. Para junho, está previsto novo decréscimo, de R$ 700 milhões a R$ 750 milhões. As perdas tendem a se acumular.

Preocupado com o cenário, Cardoso segue destacando a importância do auxílio federal, embora reconheça que o valor prometido é insuficiente. O projeto que autoriza a operação foi aprovado no Senado em 6 de maio e só foi sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro no fim do mês passado, com vetos. Desde então, o dinheiro segue pendente, e as contas se avolumam.

- A expectativa é de que a primeira parcela chegue terça (hoje) ou quarta-feira. Não será suficiente para compensar todas as perdas e vai chegar deslocada no tempo, mas é muito importante. Estamos, especialmente em maio, no pior momento, porque é o mês de maior queda na arrecadação - diz Cardoso.

Para o Estado, estão reservados R$ 1,95 bilhão, em quatro parcelas (leia mais na página 12). Com a primeira parte, Cardoso garante que será possível quitar o que resta da folha de abril, com aproximadamente 40 dias de atraso.

JULIANA BUBLITZ

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