15 DE JUNHO DE 2020
CAPA
Reencontro sem beijos e abraços
Novas regras para a retomada da produção audiovisual no Estado podem variar conforme o potencial de risco de cada região
Cerca de 200 profissionais elaboraram, durante dois meses, um protocolo para a retomada das atividades do setor audiovisual no Rio Grande do Sul. O documento leva em conta o modelo de distanciamento controlado e a coloração das bandeiras que indicam o risco de contaminação por coronavírus no Estado. Por conta disso, as novas normas de segurança para a realização de filmes, séries e outras produções podem ser diferentes para cada região.
Ficou definido que, em caso de uma cidade estar com bandeira preta ou vermelha (cores que representam maior risco de transmissão da doença e/ou pouca capacidade no sistema de saúde), as atividades no set não serão permitidas. Já para localidades com coloração laranja ou amarela (média/baixa propagação do vírus), as filmagens presenciais estão autorizadas, desde que sejam obedecidas normas de higiene e convívio.
As regras foram elaboradas pela Associação Profissional de Técnicos Cinematográficos do Rio Grande do Sul (APTC-RS) e pelo Sindicato da Indústria Audiovisual (SIAV-RS), com o apoio da Secretaria Estadual da Cultura e outras entidades do setor.
Além das bandeiras, o documento elenca regras gerais devem ser obedecidas da pré até a pós- produção. A ideia é que, quando as equipes chegarem ao set, todos os processos já estejam prontos e que, naquele local, ocorra apenas a filmagem. Ou seja, é preferível que a seleção da equipe, do elenco e até a escolha da locação seja feita de forma remota.
Entre as novas diretrizes, está a recomendação de evitar cenas com abraços, beijos e contato físico entre os atores, com exceção de profissionais que formam um casal ou morem juntos na vida real. Filmagens com aglomerações ou uso de figuração também estão descartadas por enquanto. Haverá pausa no trabalho para higienização da equipe e da locação e é recomendada a restrição de objetos no set, como figurinos e móveis.
Todas essas normas, além de mudar o jeito de fazer cinema e TV, também vão influenciar o produto final. Com equipe mais enxuta, restrição de horários e cuidados máximos com a saúde, a tendência é de que as produções sejam menores, mais simples, e restritas a um lugar só, de preferência ao ar livre.
- Não teremos condições de isolar o elenco em hotéis, como está acontecendo em outros países. Isso não faz parte da nossa realidade. Trabalhamos com orçamentos muito menores. Vamos viver um momento bem complexo, em que projetos mais antigos vão ficar pausados. Vai se abrir um espaço para produções menores, como documentários sobre o momento atual, sitcoms com poucos personagens e peças publicitárias - explica Daniela Strack, presidente da APTC-RS.
Adaptação
Mesmo com o protocolo, o audiovisual gaúcho percorre um caminho incerto e cauteloso, mas, durante essa trajetória, poderá viver um momento de renovação. O diretor de fotografia Bruno Polidoro, que ajudou na elaboração do documento, entende que os roteiros e projetos que estavam em andamento e que foram paralisados pela pandemia devem passar por modificações.
- Cinema é contato com pessoas, é aglomeração. Se pegarmos os roteiros já prontos para produzir desta nova forma, teremos dificuldades e aumento no orçamento. Vamos ter que mudar a gênese da produção, criando roteiros que possam ter menos pessoas envolvidas e menos locações - avalia Polidoro.
Com menos pessoas no set, mas com a mesma demanda de trabalho, pode ocorrer a sobrecarga dos profissionais. O protocolo recomenda evitar ao acúmulo de funções na produção.
- Vamos ter que entender esse balanço de ter menos profissionais dentro do set e trabalhar mais de forma remota. Temos que pensar em estratégias para proteger os profissionais do contágio e também no bem-estar deles. Haverá outras formas de contratação de profissionais para evitar essa sobrecarga - entende Daniela.
MARINA PAGNO
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