quinta-feira, 18 de junho de 2020


18 DE JUNHO DE 2020
+ ECONOMIA MARTA SFREDO

40 dias no deserto da crise com só uma gota de crédito

O novo corte de 0,75 ponto percentual no juro básico, para 2,25% ao ano, ocorre exatos 40 dias depois de decisão anterior, com redução de mesmo tamanho. Nesse intervalo, o governo federal pouco fez para que a medida cumpra seu papel: reduzir o custo do crédito na vida real.

Em abril, a economia brasileira tocou o fundo do poço, com quedas de 18,8% na indústria, 16,8% no comércio e 11,7% nos serviços, como anunciado pelo IBGE ontem. Naquele mês, em vez de compensar perdas impostas pela pandemia, novas concessões de crédito para empresas encolheram 25%.

Na véspera da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), a Caixa anunciou que vai começara a operar, depois de dois meses de suspense, a linha para pequenas e microempresas que inclui garantia do Tesouro Nacional. O total disponível é de R$ 3 bilhões. Parece muito, mas é quase nada diante do tamanho das necessidades. E a Caixa é o banco público mais equipado para atuar na crise, por ter 100% do capital nas mãos da União. Assim, não precisa entregar lucros bilionários a acionistas privados.

Na semana passada, na reunião ministerial ensaiada para compensar o estrago na imagem do governo provocado pelo vídeo de encontro semelhante realizado em 22 de abril, o ministro Paulo Guedes se comprometeu a "desentupir os canais" do crédito. Reconheceu, portanto, que os recursos destinados a socorrer as empresas não estão fluindo. Mencionou até a possibilidade de que o BC anunciasse mudanças em outra linha essencial, a destinada a pagamento de salários, no mesmo dia. Passou-se uma semana, e nada aconteceu.

Fornecer crédito com garantia do Tesouro Nacional é, sim, uma medida extraordinária. Mas, na crise, já foi adotada em países como Estados Unidos e Alemanha, para citar os ricos, e Argentina, para mencionar um em pior situação econômica do que o Brasil. É dever do governo federal fornecer meios de sobrevivência às empresas que têm atividades interrompidas como única medida eficaz de controle da pandemia. Até porque, caso não o faça, terá de assumir os custos sociais e econômicos da quebra de empresas e do desemprego.

MARTA SFREDO

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