27 DE JUNHO DE 2020
FLÁVIO TAVARES
NOVOS OÁSIS
Uma semana atrás, festejamos os 50 anos do tricampeonato mundial de futebol em 1970, no México, e, ao mesmo tempo, passaram-se 16 anos da morte de Leonel Brizola, em 2004. O notório é sempre atual e, assim, as duas datas seguem vigentes.
O Mundial de 1970 deu ao Brasil a posse definitiva da Taça Jules Rimet, em ouro maciço, mas cujo valor intrínseco ia além e era o "tri". Eu estava lá, no estádio Azteca, e assisti à conquista, da qual hoje só resta nostalgia. Até o futebol (mesmo com exceções) imita o caos político.
A taça de ouro já não existe. "Desapareceu" da sede da CBF, no Rio, num roubo simbólico do próprio Brasil. Tudo em surdina, mas com a conivência de muitos. A taça foi derretida num alto-forno e sumiu até a bela ourivesaria.
Antes, no México, ao festejar o jogo, um jornalista italiano me advertiu: "Cuidado. Mussolini usou a vitória na Copa de 1939 e tornou-se mais feroz". A profecia se fez verdade aqui e, com a euforia, o general-ditador Emílio Medici aprofundou o terror.
Naquele 1970, fazia seis anos que Brizola se exilara. Saiu do país após o golpe militar de 1964, quando sua casa em Porto Alegre foi invadida e saqueada pelos golpistas. Até a roupa pessoal foi rasgada com tesoura, sob pretexto de que "podia esconder dólares".
Em 1959, Brizola começa no RS um governo inovador. Dota o Rio Grande de eletricidade, estradas e comunicação telefônica, constrói escolas, faz do magistério uma profissão digna e cria a pesquisa agrícola, como no trigo. Inicia a reforma agrária, além de ações de infraestrutura que, depois, passam ao setor privado. A cana do litoral vira usina de açúcar.
Em 1961, na renúncia do presidente Jânio Quadros, ele se agiganta: derrota o golpe de Estado dos três ministros militares, que impedia a posse do vice-presidente João Goulart. Os adeptos da ditadura jamais o perdoariam.
Ao voltar do exílio, é o único a falar da defesa do meio ambiente, das "perdas monetárias" geradas pelas multinacionais e de criticar a submissão da mulher na sociedade.
No deserto político atual, falar de Brizola leva a um oásis.
Mas surgem, também, novos oásis. Os presidentes dos dois maiores bancos privados do país, Cândido Bracher, do Itaú, e Octávio De Lazari, do Bradesco, alertaram sobre as terríveis consequências da degradação ambiental no Brasil.
Em reunião do setor bancário em São Paulo, Bracher advertiu que "as consequências ambientais são mais lentas do que as da covid-19, mas duram mais e são difíceis de reverter". Lembrou que 29 grandes investidores de oito países europeus ameaçam retirar-se do Brasil se o governo não mudar a política que destrói a Amazônia.
Lazari, do Bradesco, alertou que "muito se fala em aquecimento global e sustentabilidade, mas se faz pouco". O inesperado é um oásis florido.
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