25 DE JUNHO DE 2020
OPINIÃO DA RBS
Alerta verde
Mais uma vez vem do Exterior o alerta para os prejuízos que o país pode ter em razão da política míope do governo Jair Bolsonaro em relação ao ambiente e, especialmente, à Amazônia. A advertência não é de nenhuma ONG ligada à ecologia, mas de 29 investidores globais que administram US$ 3,7 trilhões em ativos no mundo. O aviso é de que, caso o Planalto não apresente uma mudança de postura sobre os temas do desmatamento e dos povos indígenas, poderão bater em retirada do Brasil, temerosos de danos também às suas reputações.
Seria um desastre para uma nação que, desde meados da década, atravessa uma crise econômica crônica e precisa de aportes de recursos estrangeiros para investimentos produtivos. Na carta aberta que divulgou, o grupo ressalta que gostaria de manter suas posições no Brasil, mas o desmantelamento de políticas ambientais traz uma série de incertezas que faz com que seus membros cogitem se afastar do país.
Nada arranha mais a imagem brasileira do que a péssima conduta do governo Bolsonaro nesta seara, com risco às exportações do agronegócio e, agora, um possível boicote também no direcionamento de investimentos. Muito mais do que fragilidades estruturais de qualquer país, danos ambientais são muito mais difíceis e custosos de serem revertidos no longo prazo. Goste ou não o presidente, a questão indígena e a Amazônia são dois temas que moldam a percepção sobre o Brasil mundo afora. Sempre que esses dois assuntos são mal administrados, desabam antipatias sobre o país.
Ambiente há muito deixou de ser um tema apenas de ecologistas. É uma matéria relacionada à própria sustentabilidade do capitalismo. Paira acima de partidos ou paixões políticas. É ciência pura que, se contrariada, trará prejuízos imensuráveis à saúde, ao futuro do Brasil, à economia presente, como se constata com o alerta dos investidores.
Apesar do esforço do vice-presidente Hamilton Mourão e da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, em melhorar a abordagem do Brasil em relação à Amazônia, parecem prevalecer as visões obscurantistas do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, do chanceler Ernesto Araújo e, principalmente, de Bolsonaro. O presidente comete um grave equívoco ao atribuir os reiterados puxões de orelha e as possíveis represálias externas à desinformação. Pelo contrário. São informações científicas que atestam o crescimento do desflorestamento e das queimadas, uma depredação que parece ter o endosso do Planalto pelo afrouxamento da fiscalização. O resultado, não poderia ser diferente, apenas conspurca a reputação do Brasil no Exterior.
A Amazônia está a milhares de quilômetros do Rio Grande do Sul, mas os gaúchos têm a perder com a postura temerária do governo federal. Um dos líderes do agronegócio nacional, o Estado conta com produtores rurais sérios e comprometidos com o ambiente, mas mesmo assim passa a estar sujeito a boicotes internacionais. A gigantesca floresta úmida tem ainda influência direta no regime de chuvas inclusive na Região Sul. E, como quarto maior PIB do Brasil, o Rio Grande do Sul também pode acabar perdendo oportunidades em várias áreas caso os investidores globais virem mesmo as costas para o país.
OPINIÃO DA RBS
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