sexta-feira, 19 de junho de 2020


19 DE JUNHO DE 2020
+ ECONOMIA

Queiroz é o maior de todos os ruídos


O susto que dominou a abertura do mercado, com alta acima de 2% no dólar, se prolongou até o fechamento. O câmbio fechou com alta de 2,1%, em R$ 5,373, maior valor em 17 dias. Analistas atribuem parte dessa reação ao corte do juro básico no dia anterior, que costuma provocar saída de investidores estrangeiros, mas também à prisão de Fabrício Queiroz, que foi assessor de Flávio Bolsonaro na Assembleia do Rio até outubro de 2018.

Na bolsa, a abertura foi em baixa, quando se esperava alta, mas ao longo do dia altas nas ações da Petrobras e de empresas do setor financeiro acabaram fazendo o Ibovespa fechar em 0,6% positivo. No radar de investidores e especuladores, a maior preocupação é a alta probabilidade de avanço nas investigações, com possível envolvimento de Flávio Bolsonaro e, portanto, repercussão negativa para o governo, dada a proximidade dos filhos à Presidência da República.

- Há preocupação sobre uma eventual interferência ou não do presidente na Polícia Federal e sobre os desdobramentos da investigação. Os investidores ficaram cautelosos - avalia Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating.

O câmbio tem sido o principal instrumento de contágio da crise política no mercado financeiro. Analistas consideraram que os efeitos da pandemia e da redução de juro, combinados, teriam efeito para levar a cotação a R$ 5. O que passa desse limite seria decorrência do "pandemônio", como acabou sendo chamado o conjunto de conflitos e suspeitas em torno do presidente Jair Bolsonaro.

Desse ponto de vista, a saída de Abraham Weintraub do Ministério da Educação poderia ser um alívio, já que o demissionário era fonte constante de instabilidade institucional. Roberto Padovani, que vem estudando o impacto da crise política na economia, avalia que a prisão e seus desdobramentos vão gerar mais "ruído". Pondera, no entanto, que com o nível atual de aprovação popular de Bolsonaro, "o risco de crise aguda é baixo".

- Continua gerando custos, mas não há espaço para ruptura nos dois sentidos: impeachment ou retrocesso institucional - interpreta Padovani.

MARTA SFREDO

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