24 DE JUNHO DE 2020
OPINIÃO DA RBS
MOMENTO CRÍTICO
A despeito de grandes sacrifícios a que o mundo todo se submete desde os primeiros meses do ano, o planeta vive seu momento mais crítico no enfrentamento da pandemia. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a contagem da Universidade Johns Hopkins, referência nas estatísticas sobre a covid-19, o mundo vem registrando em torno de 150 mil casos por dia. Os aprendizados desse enfrentamento encerram uma série de divergências, como seria de esperar para uma doença que se abateu sobre a comunidade internacional de forma inédita.
Mas um dos consensos é de que todos os planos implementados até agora preveem avanços e recuos nas medidas restritivas, conforme o novo coronavírus recrudesce ou retrocede e, sobretudo, de acordo com a capacidade de atendimento médico. Onde essa regra não foi respeitada, seja por desconhecimento, seja por irresponsabilidade, pessoas morreram em casa ou nas portas de hospitais, como já se testemunhou em cidades como a chinesa Wuhan, a equatoriana Guayaquil e em Manaus.
O efeito sanfona do abre e fecha de atividades é uma nova realidade com a qual o mundo e os gestores públicos ainda estão se familiarizando. Até que surja uma vacina ou tratamento efetivo, mais do que medidas legais ou administrativas, é a responsabilidade coletiva que será capaz de dominar o vírus para ser possível retomar um nível praticável de normalidade.
Infelizmente, responsabilidade e disciplina não são traços da cultura geral brasileira. Do presidente da República, que insiste em dar maus exemplos de comportamento, aos bairros de pequenas e grandes cidades brasileiras, é ainda surpreendente o número de pessoas que desdenham da doença. O não uso de máscara e a insistência em ignorar o distanciamento social formam condições propícias para o vírus se espalhar. A maior parte dos shoppings, comércios, restaurantes e das indústrias adotou protocolos responsáveis e teoricamente eficazes, mas de nada valem se muitos continuarem teimando em menosprezar a utilização das máscaras e, fora do olhar público, promovam ou participem de festas e confraternizações.
O endurecimento das medidas de restrição a que se assiste em algumas partes do Brasil, as três capitais do Sul incluídas, é resultado de uma falsa percepção de que os moradores dessas cidades vinham passando virtualmente ao largo dos efeitos da pandemia. Esse erro de avaliação aparece a cada vez que se abdica de medidas protetivas e se relaxa na mudança de comportamento que cada indivíduo deve adotar para sair coletivamente de mais uma série de restrições e vencer-se o quanto antes a crise.
Ao longo dos últimos meses, foram reiterados os avisos de que a continuidade da flexibilização dependeria do engajamento de cada cidadão às práticas e comportamentos preconizados pelas autoridades sanitárias e gestores responsáveis. Os dados à disposição mostram que se impõe um passo para trás. Que ao menos este momento sirva de lição definitiva, para que as próximas concessões, quando vierem, não precisem ser outra vez seguidas de novos retrocessos drásticos.
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