13 DE JUNHO DE 2020
POLÍTICA +
Chegou a conta pelo descaso com as regras de prevenção
A ideia de que o pior da pandemia já tinha passado, traduzida em aglomerações e no abandono de medidas de higiene e distanciamento social após a reabertura do comércio, vai custar caro aos gaúchos. Em Porto Alegre, a conta já chegou com o aperto anunciado pelo prefeito Nelson Marchezan no início da noite de sexta-feira, que inclui novo fechamento dos shopping centers a partir de segunda-feira.
No Estado, a conta virá em forma de bandeira vermelha, neste sábado ou nos próximos dias, numa tentativa de frear a demanda por leitos de UTI e evitar colapso no sistema de saúde. Em entrevista ao Gaúcha Atualidade, o governador Eduardo Leite confirmou o que o monitoramento dos indicadores do modelo de distanciamento controlado vinha indicando: a previsão é de bandeira vermelha em regiões onde a demanda por leitos de UTI chegou ao nível crítico.
Marchezan e Leite trabalham com a mesma lógica, a de que é preciso prestar atenção nas projeções. Pelo comportamento do vírus, os efeitos das medidas adotadas hoje aparecem nos hospitais de 10 a 14 dias depois. A chave para as decisões é "velocidade de crescimento", mais do que o número absoluto de leitos ocupados no momento.
Olhando o quadro apenas pelos leitos ocupados, a situação em Porto Alegre ainda não chegou ao ponto crítico. Está em 78,59%. O que preocupa é a curva de crescimento. No sábado passado, havia 46 leitos ocupados por pacientes com covid-19. Uma semana depois, são 66 (na quinta-feira chegou a 69). Esse aumento ocorreu duas semanas após a flexibilização.
- Se a velocidade da demanda dos últimos 12 dias se mantiver, no final de junho os 174 leitos destinados a pacientes covid estarão ocupados - alertou o prefeito.
Embora os decretos ainda não tenham sido finalizados, é possível dizer que Porto Alegre retroage à situação do início de maio, quando só o pequeno comércio, com faturamento abaixo de R$ 360 mil, recebeu autorização para funcionar.
Alcolumbre corta as asas de Weintraub
Quase desconhecido até ser eleito presidente do Senado em uma construção para tirar Renan Calheiros do comando do Congresso, Davi Alcolumbre (DEM-AP) disse a que veio na sexta-feira, ao devolver ao Palácio do Planalto a medida provisória que criava a figura do reitor biônico nas universidades. Cortou as asas do ministro Abraham Weintraub, a quem caberia escolher reitores temporários, e mostrou ao presidente Jair Bolsonaro que a Constituição de 1988 foi emendada, mas não revogada.
Alcolumbre devolveu a MP porque ela afronta a Constituição no trecho que trata da autonomia das universidades. Essa afronta vinha sendo apontada por juristas, deputados, senadores e pela comunidade acadêmica.
Desde que assumiu o Ministério da Educação, Weintraub expressa profundo desprezo pelas universidades federais, que já definiu como antros de balbúrdia, sexo, drogas e pregação esquerdista.
Além de volta e meia agredir a língua portuguesa, atacou os ministros do STF na reunião ministerial de 22 de abril:
- Eu, por mim, botava esses vagabundos todos na cadeia, começando no STF.
Aliás
Nelson Marchezan apelou aos prefeitos da Região Metropolitana para que repensem as restrições, já que mais da metade dos pacientes da rede hospitalar de Porto Alegre vem de outros municípios. A Capital recebe mais dinheiro do SUS para atender pacientes de outras cidades, mas quando se trata de prevenção é preciso pensar como região.
Topo do ranking
Graças à reformulação do site onde são publicados os dados epidemiológicos da covid-19, o governo de Eduardo Leite comemora a chegada ao topo do ranking da organização independente Open Knowledge.
O Rio Grande do Sul saiu do oitavo lugar em 3 de abril para o terceiro na semana passada e agora chegou ao primeiro, com cem pontos, ao lado de Ceará, Goiás, Minas Gerais e Rondônia.
PSOL contesta dados oficiais
A deputada Luciana Genro (foto) e o vereador Roberto Robaina, ambos do PSOL, apresentaram, na sexta, estudo que aponta "fortes indícios" de subnotificação de mortes por coronavírus no Rio Grande do Sul. A pesquisa foi realizada pela assessoria técnica da bancada do PSOL na Assembleia Legislativa.
O levantamento mostra que, neste ano, entre 1º de março e 9 de junho, houve 1.024 mortes por síndrome respiratória aguda grave (SRAG) no Estado, cerca de nove vezes mais do que no mesmo período de 2019. Conforme os parlamentares, isso sugere que parte dos óbitos por covid-19 pode estar registrado como SRAG e que o número de mortes pode ser até 3,4 vezes maior do que o oficial.
O levantamento apresentou dados locais de Porto Alegre e de Pelotas. Nesses casos, a subnotificação seria de até 3,79 e 5,40 vezes, respectivamente. O reitor da Universidade Federal de Pelotas, Pedro Hallal, participou da live, recebeu o resultado do estudo e prometeu avaliá-lo.
É dura a vida dos gestores que lidam com a pandemia. Enquanto integrantes do governo bolsonaro dizem que os governadores em geral inflam os dados sobre mortes causadas pelo coronavírus para receber mais dinheiro do ministério da saúde, no rio grande do sul o psol acusa o governo de subnotificação. Nos dois casos, há forte cheiro de disputa política.
Contraponto
O governador Eduardo Leite e o secretário da Saúde de Porto Alegre, Pablo Stürmer, rechaçam as acusações do PSOL de que há subnotificação nas mortes.
Leite assegura que todos os mortos por síndrome respiratória aguda grave são testados para covid-19 e diz que o Estado nada teria a ganhar adulterando as estatísticas.
Stürmer usa o mesmo argumento e garante que não faltam testes na Capital.
ROSANE DE OLIVEIRA
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