27 DE JUNHO DE 2020
OPINIÃO DA RBS
PAZ NA EDUCAÇÃO
As primeiras entrevistas do novo ministro da Educação, Carlos Alberto Decotelli da Silva, permitem ter a esperança de que o obscurantismo e o conflito permanente que marcaram o primeiro ano e meio da pasta no governo Jair Bolsonaro ficaram para trás. Ao contrário principalmente de seu antecessor, Abraham Weintraub, que gastava mais horas e energia em temas ideológicos e discussões em redes sociais, Decotelli sinaliza que irá buscar a pacificação nas relações do MEC com os demais atores do ensino e fará uma gestão norteada por aspectos técnicos. Mesmo que ainda se conheça pouco sobre as ideias do novo ministro, é preciso reconhecer que as impressões iniciais são positivas.
Os últimos 18 meses foram para a educação brasileira um tempo perdido. As deficiências do ensino no país não começaram em janeiro de 2019, mas foram agravadas pela perda de foco, que deveria estar voltado a uma reflexão que levasse a uma profunda transformação em uma área em que o Brasil tem sérias deficiências, que comprometem o seu futuro. Não se espera que Decotelli tire da cartola soluções para reverter imediatamente um quadro que é resultado de décadas de desleixo. Mas a disposição ao diálogo que o novo ministro tem reiterado indica que está compromissado em construir de forma colaborativa saídas que, alguns anos à frente, melhorem o desempenho dos alunos de escolas e universidades do país.
A educação, como disse Decotelli em entrevista à Rádio Gaúcha, transforma sonhos em realidade. O poder do conhecimento é capaz de tanto proporcionar uma existência digna para os indivíduos, pela melhor compreensão do mundo e aquisição de habilidades que levem a uma vida profissional mais promissora, quanto de alterar o destino de uma nação. Não há país desenvolvido no mapa do mundo que não tenha priorizado a educação como uma base para o progresso. A rápida evolução tecnológica exige cada vez mais trabalhadores preparados para não apenas acompanhar, mas para serem protagonistas dessa transmutação constante. A demográfica, por outro lado, impõe uma mão de obra cada vez mais produtiva. Outro aspecto em que o Brasil vai mal.
Embora não se reivindiquem de Decotelli respostas para todas as carências da educação brasileira, muitas com soluções apenas de longo prazo, há problemas prementes que precisam ser atacados. Os desafios, que já seriam enormes em tempos normais, ganham um peso ainda maior com a pandemia que levou à paralisação de aulas presenciais, afetando principalmente jovens e crianças carentes, mas também traz sérias dúvidas sobre o ano letivo. Um dos mais urgentes é um cronograma para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o que prometeu para os próximos dias.
Terá ainda que trabalhar pela aprovação do novo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos profissionais da Educação (Fundeb) e pela implementação da Base Nacional Comum Curricular do Ensino Médio. Ex-presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, Decotelli conhece a área. Com a ajuda do currículo e da formação sólidos, da disposição ao diálogo e com superação, poderá suplantar as dificuldades que agora se apresentam para minimizar os impactos da pandemia e começar a recuperar o terreno perdido para dar a largada em um processo contínuo e consistente de melhoria da qualidade do ensino brasileiro.
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