13 DE JUNHO DE 2020
ARTIGO
HORA DE SERMOS OS GUARDIÕES DA INFÂNCIA
É IMPORTANTE DAR AOS NOSSOS FILHOS A NOÇÃO DA REALIDADE, MAS AINDA NÃO A NOÇÃO DO TODO
Uma guerra está posta lá fora, a luta contra um vírus letal é diária, nossas mentes se preocupam constantemente. Porém, ao nosso lado uma criança sorri e nos convida para brincar.
Vivemos um tempo de apreensão e incerteza, mas as infâncias ao nosso lado dão sequência as suas histórias. Dia a dia, assim como nós, buscam entender o significado deste tempo. Buscam entender por que os adultos se preocupam, por que estamos em casa e por que usamos máscaras para sair. Questionam e investigam as mudanças, porque as crianças são especialistas nisso, são curiosas, são inquietas. Os adultos se preocupam, mas de alguma forma se acostumam, se acomodam, se adaptam. As crianças não, elas querem mais, querem novidades, querem aprender, querem desvendar o mundo.
Em meio a tantos afazeres e tantas preocupações, os adultos encontram uma nova missão: de agora em diante, são guardiões da infância, ou pelo menos deveriam ser. De alguma forma, precisamos preservar nossas crianças dessa triste realidade que se apresenta, precisamos ser seu porto seguro, mesmo não tendo tanta certeza assim. Nossa missão tem sido preservar o colorido da vida, mesmo sem a liberdade de explorar o mundo lá fora e vivenciar novas experiências. Precisamos preservar a vida, nos proteger, isolando-se de todos, mas também precisamos preservar as infâncias que nos são compartilhadas, dando a elas o repertório mais satisfatório possível, as experiências de uma rotina simples, mas cheia de afeto e esperança, na qual terão certeza de que tudo vai ficar bem.
Noções da realidade? Sim, é necessário! Até para formar hábitos que possam protegê-las. Noção do todo? Não, agora não. A infância precisa ser vivida, e ela contempla o mundo de uma forma totalmente diferente, ela tem esperança no olhar, ela busca algo novo, ela deseja encontrar o inesperado, ou, como diria Rubem Alves, ela tem olhos encantados. Os adultos têm essa nova missão, a de guardiões da infância, essa que temporariamente está sendo limitada fisicamente, mas não prejudicada por isso, pois as crianças têm a capacidade de ir além. O espaço físico é importante, mas a imaginação, a fantasia e os afetos, sendo preservados, dão sequência às suas lindas histórias, que ficarão marcadas por um tempo de convívio familiar, de estreitamento de laços afetivos, de carinhos, de descobertas dentro de um espaço que é tão nosso, e que talvez não conhecêssemos tanto assim.
Que desafio para nós, adultos: em tempos de guerra, somos responsáveis por preservar a vida, mas também por preservar a beleza da infância. Eles nos observam atentamente, eles cuidam nossas expressões. Os mais comunicativos questionam, os mais introspectivos analisam apenas, mas todos tiram suas próprias conclusões. Em meio a tantas preocupações, que não são poucas não, devemos perceber essa infância que dá sequência a sua história, bem do nosso lado. Não queremos que vivam numa bolha, mas é preciso preservar. Preservar o brilho no olho, preservar a descoberta, preservar o desejo de crescer, preservar a esperança, preservar a fé e preservar a infância, fase única da vida, na qual se tem a capacidade de enxergar a beleza do mundo, sem perceber suas imperfeições.
*Coordenadora pedagógica de uma escola de Educação Infantil e mãe de uma menina de três anos
NATÁLIA MANSAN*
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