quinta-feira, 11 de junho de 2020



11 DE JUNHO DE 2020
DAVID COIMBRA

Máscara, pijama e cloroquina

Li que as palavras "máscara", "pijama" e "cloroquina" são as campeãs de buscas no Google durante o período da pandemia. Fiquei preocupado. Compreendo a procura por "máscara" e por "cloroquina". Afinal, a primeira é para prevenir e a segunda é para remediar contra o coronavírus. Mas "pijama"... A procura por "pijama" não é bom sinal.

É óbvio que esse renovado interesse pelo pijama se dá porque as pessoas estão mais tempo em casa. Logo, elas querem ficar mais tempo de pijama. Compreensível. Mas revoltante. Quem adere ao pijama é um desistente. Mesmo à noite, na hora de dormir, o pijama simboliza uma retirada. Não é à toa que a pessoa avisa, ao ir para a cama:

"Vou me recolher". E é isso mesmo. Quem veste o pijama se recolhe, está fora, já foi. Tiau.

Lembro de uma história sobre o general Geisel. Ele cultivava o hábito da sesta. Mesmo quando na Presidência da República, tirava uma soneca de 20 minutos depois do almoço. A propósito, essa é a técnica da sesta: não pode ser menos de 10 minutos, nem mais de 30. Se for menos, a pessoa acorda cansada; se for mais, acorda ajoujada e ajoujada fica pelo resto do dia, até que, no happy hour, refresque-se com um copo de chope gelado e cremoso e dourado.

Então, Geisel fazia assim: ele subia para a ala residencial do Palácio da Alvorada, dirigia-se para o quarto, tirava o paletó, vestia o pijama, dormia 20 minutos e, depois, acordava, despia o pijama, vestia o paletó e descia para exercer alguma atividade presidencial da época, como fechar o Congresso.

Ou seja: Geisel era um adepto dos pijamas inclusive à luz do dia. Mas estamos falando de um general sisudo, de férrea origem germânica. Um Geisel eu entendo dentro de um pijama, mas não um personagem do século 21, que vai à academia e faz lives no Instagram, como você.

Sei bem que muitas mulheres adoram entrar em pijamas, sobretudo os de seda. Elas se sentem belas e confortáveis. Bem.

Confortáveis talvez estejam; belas, decerto que não. Uma mulher de pijama é fofa, e nenhuma mulher quer ser fofa. Pior que mulher de pijama, só mulher com robe-de-chambre por cima do pijama.

Você vai dizer que não falo do homem de pijama? Pois falo, e falo só uma coisa e será o suficiente. É o seguinte: o homem de pijama é o tio do pavê. Entendeu a gravidade da situação?

Por todas essas razões, preocupou-me o interesse das pessoas pelo pijama durante o confinamento, sobretudo agora, às vésperas do Dia dos Namorados, data que exige, pelo menos, um pouco de iniciativa romântica.

É muita resignação, e nós não podemos nos resignar, temos de manter o queixo erguido e os sentidos em alerta, temos de nos preparar para a nova realidade depois da pandemia. Não é hora de nos recolhermos. Não é hora de conformação. Tire já esse pijama.

DAVID COIMBRA

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