16 DE JUNHO DE 2020
DAVID COIMBRA
Não há mais esperança para 2020
Pode esquecer este ano, este insólito 2020. Pode esquecer. Não voltaremos à normalidade, continuaremos nessa rotina de confinamento e isolamento controlado e abre e fecha e abre de novo e fecha outra vez.
Continuaremos usando máscara, focinheira maldita. Continuaremos nos lambuzando com álcool gel.
E nem pense em tocar no rosto. Não importa quanto o nariz ou o olho cocem, não coce! Esse 2020 vai terminar do jeito que está: nós todos em casa. Com medo.
Porque uma vacina que funcione, com sorte, só no ano que vem. Escrevi: com sorte. As vacinas mais rápidas que já foram produzidas pela ciência levaram quatro anos do começo dos testes ao lançamento. Quatro anos!
É que, entenda, o maior problema nem são os efeitos colaterais. O maior problema é a vacina em si. Se ela funciona de fato. Se não funcionar, a pessoa toma e pensa que está protegida. Mas não está e fica doente, e a doença se espalha perigosamente entre seus afetos.
Então, as fases de testagem são indispensáveis. Milhares de pessoas têm de ser submetidas à vacina e depois têm de ficar em observação. Os dados dessas pessoas são analisados, cruzados com os de outras pessoas e comparados. Isso leva tempo. No mínimo, sendo muitíssimo otimista, mais seis meses.
Ou seja: teremos de conviver com essa doença. Isso significa que teremos de adaptar as nossas atividades à nova realidade. Vou tomar uma área como ilustração: o futebol. Se formos pensar apenas no imperativo sanitário, se formos adotar a estratégia de segurança 100%, o futebol profissional não poderia voltar até o fim do ano. Mas essa possibilidade não é uma possibilidade. Porque, neste caso, os clubes brasileiros, Grêmio e Inter incluídos, iriam à falência. Simplesmente fechariam. Não podemos deixar que uma coisa dessas aconteça. Assim, precisamos encontrar o caminho do meio, que, como ensinou Buda, é o caminho para o Nirvana. Teremos de fazer com que o futebol volte com o máximo de segurança, o que não é o mesmo que "toda a segurança". Não será o ideal, do ponto de vista da saúde, mas será o plausível.
Teremos de correr alguns riscos. O mesmo se dará no comércio, na indústria em todas as outras atividades. Haveremos de retornar, sim, mas com critérios, com cuidados, pisando devagar. Quem puder ficar em casa ficará. Quem tiver de sair sairá com parcimônia.
Nada disso será fácil. Teremos de conversar muito, de negociar à exaustão e, sobretudo, de respeitar o que foi combinado. Não é hora para rebeliões; é hora para concordância. Prefeitos e empresários insatisfeitos, trabalhadores assustados, todos precisaremos de paciência e bom senso. Vamos nos limitar ao possível em 2020, esse ano perdido. E talvez o impossível possa ser atingido em 2021.
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