19 DE JUNHO DE 2020
EM DIA
PIOR DO QUE ESTÁ, PODE FICAR!
Na última terça-feira, dia 16 de junho, o ministro da Economia, Paulo Guedes, fez uma manifestação um tanto controversa. Em um evento virtual do Instituto de Garantias Penais (IGP), ele falou, entre outras coisas, sobre sua ideia da economia brasileira para os próximos meses. O ministro tem estado bastante fora de cena neste período agudo de crise, de modo que quando vem a público suas ideias são muito discutidas.
O destaque ficou pela sua crença em "...um futuro brilhante porque é muito difícil a gente piorar, nosso viés cultural já nos botou num buraco, então nós vamos ter que melhorar". Bem, na minha avaliação, mais do que um otimismo oportunista, a expectativa está completamente desalinhada com o que está acontecendo no cenário atual. Não é nada difícil piorarmos ainda mais.
O governo federal tem sido espantosamente inapto no manejo da crise na área da saúde, sendo que qualquer previsão estará sujeita aos resultados alcançados pelas ações no combate à pandemia - o que, a julgar pelo que temos visto em Brasília, não deve nos deixar muito confortáveis.
Além disso, as respostas para a esfera econômica têm sido lentas e erráticas. O Banco Central foi ágil nos ajustes monetários para que as instituições financeiras tivessem mais recurso disponível para empréstimo, por exemplo. Mas o Ministério da Economia não fez praticamente nada para facilitar o acesso ao crédito por parte de pequenas e microempresas, que se encontram desassistidas.
Aliás, no vídeo da famosa reunião ministerial liberado pela Justiça, Guedes declarou que o governo "ganharia dinheiro" salvando grandes companhias e "perderia dinheiro" salvando as pequenas. Ele também mencionou, no evento do IGP, a necessidade de continuar com as reformas. Entre elas, a tributária. No entanto, pouco se sabe sobre como ela será conduzida. Uma vez que terá papel central no controle da desigualdade no país (o mais desigual do mundo entre as nações democráticas), se ela não corrigir a regressividade da nossa matriz tributária, a situação dos mais pobres ficará pior.
Por fim, é patente o pouco apreço do Ministério da Economia por políticas de proteção social, o que ficou cristalino quando propôs um auxílio emergencial de parcos R$ 200 no início da crise e, agora, flerta com a possibilidade de alterar o Bolsa Família. Tudo isso me faz duvidar da crença de Guedes. Para os mais pobres, é possível que fique pior, sim.
Economista e professor da Escola de Negócios da PUCRS - ELY JOSÉ DE MATTOS, ECONOMISTA E PROFESSOR DA ESCOLA DE NEGÓCIOS DA PUCRS
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