27 DE JUNHO DE 2020
CAPA
Amor maior do que os medos
No final de semana em que se celebra o Orgulho LGBT+, mães contam como enfrentam lado a lado com seus filhos o preconceito e se dão as mãos em uma rede de afeto
A primeira vez que o Mães pela Diversidade abriu a Parada Livre de Porto Alegre foi em 2015. Eram apenas três mulheres, que enchiam os pulmões para gritar por seus filhos: Tire seu preconceito do caminho, porque vamos passar com nosso amor. O ano também marcou o nascimento do grupo no Estado, inspirado no mesmo movimento que vinha fazendo barulho no centro do país.
Uma daquelas mães era Renata dos Anjos, que segue à frente da vertente gaúcha da organização até hoje. Com orgulho, ela contabiliza, neste final de semana em que é comemorado o Dia do Orgulho LGBT+, o crescimento do projeto cinco anos depois. São mais de 150 mulheres participantes por todo o Rio Grande do Sul:
- Costumo dizer que somos uma enorme rede de afeto. Estamos dispostas a mudar a sociedade e avançamos, mas temos muito trabalho ainda. Somos ambiciosas.
O grupo reúne mães com filhos LGBT+ e opera como apoio e conexão para aproximar quem tem histórias semelhantes e acolhe famílias que precisam de suporte emocional. No caso de Renata, a sexualidade da filha nunca foi tabu dentro de casa. Aos 14 anos, Flora, hoje com 25, contou que estava apaixonada por uma menina. E nada mudou entre elas. Mas a geógrafa se deu conta de que esse tipo de relação estava longe de ser regra - e o choque veio quando viu amigas da filha serem expulsas de casa por se assumirem lésbicas.
Renata sentiu-se impelida a fazer algo para ajudar as famílias. Em uma busca na internet, deparou com o movimento Mães pela Diversidade de São Paulo. Estreitou laços com as paulistas e, na sequência, foi desafiada a trazer a iniciativa para o Rio Grande do Sul.
- Para a sociedade, a culpa sempre é da mãe. Há mulheres que chegam para nós sangrando, com filhos sofrendo, a família destruída. O marido costuma fazer muita pressão, não aceita. Por isso, há muitas separações de casais. Seguimos a linha de que a informação vai quebrar o preconceito, inclusive, usando termos corretos. É orientação sexual, não opção. Não é uma opção deles - explica Renata.
Pelo menos uma vez por mês, o grupo promove encontros presenciais - devido à pandemia, toda a programação está online. Elas também se mantêm conectadas diariamente via grupos no WhatsApp e no Facebook. Como uma grande família, compartilham anseios e medos, principalmente com a segurança de seus filhos. Com razão: o Brasil registra uma morte por LGBTfobia a cada 26 horas, segundo dados do Grupo Gay da Bahia, uma das maiores entidades pelos direitos LGBT do país. E há também a violência que não está nas estatísticas: as piadas, o preconceito dentro e fora de casa e o bullying. Por isso, a rede conta também com os serviços de psicólogos que atendem a baixo custo e estão disponíveis para emergências.
- Todo mundo chama de viadinho, disso, daquilo, e ninguém pensa que afeta a vida da criança e da família. Depois que a Flora me contou que gostava de uma menina, eu chorei no banheiro não porque ela era lésbica, mas porque a vida dela seria mais difícil. Sabia que ela sofreria mais, e eu precisava estar preparada para acolher - diz Renata.
O amor dessas mães se transforma em ação. Elas trabalham para ocupar espaços e impactar diferentes públicos. Fazem palestras em universidades, escolas, empresas, para profissionais de saúde e pressionam o poder público pela igualdade de direitos. Um dos maiores desafios, avalia Renata, é transformar o sistema de ensino para acolher crianças e adolescentes LGBT+:
- Escola é um lugar opressor para as minorias de uma forma geral. Estamos abrindo linhas de frente para a informação chegar a pedagogas, psicólogas e professores desde a formação. Diversidade é inclusão, não é favor.
A seguir, conheça a história de duas mulheres que encontraram no Mães pela Diversidade o apoio para abraçar seus filhos com ainda mais afeto e recobrar as energias para seguir lutando por eles.
NATHÁLIA CARAPEÇOS
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