17 DE JUNHO DE 2020
DAVID COIMBRA
É preciso aceitar a derrota para o corona
Algo aprendi com as vicissitudes da vida: a virtude da aceitação. Não estou falando em conformação.
É diferente.
O conformado é menor do que o derrotado, porque o conformado não luta pela vitória. Ou se abate diante da primeira contingência. Mas ser derrotado faz parte do jogo. Inclusive, em geral, você perde muito mais do que ganha. O importante é entender a circunstância que exige a luta e lutar enquanto houver chance de vitória. Se a vitória não vier, paciência. Aí você aceita a derrota. Mas sabe que não desistiu antes da hora e compreende os erros que o fizeram perder, para que possa vencer da próxima vez.
A aceitação também é importante em meio ao processo de enfrentamento da dificuldade. Porque não é fácil lutar. Exige esforço e concentração. Dá trabalho. Então, você pensa: TENHO de fazer isso, não há como contornar. Pronto. Você compreende que, já que é preciso fazer, é melhor fazer de bom humor do que de mau humor. E vai em frente com a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo.
Sêneca foi o filósofo da aceitação. Mais até: foi o filósofo da derrota. Ele dizia que o homem tem de pensar sempre no pior. Assim: se você acha que algo de horrível pode lhe acontecer, passe a TER CERTEZA de que algo de horrível VAI lhe acontecer. Porque, entenda, todos nós morreremos. Isso é o que existe de mais certo desde que nascemos. A maior das derrotas, portanto, é inevitável. Compreenda isso. Aceite isso. E você irá relaxar.
Agora mesmo, neste tempo pandêmico, estamos diante de duas conjunturas: uma terrível e uma maravilhosa. A terrível é que o mundo todo está passando pelo mesmo mal. A maravilhosa é que o mundo todo está passando pelo mesmo mal.
Porque, se o drama global é assustador por suas dimensões, o fato de ter essas dimensões e ser global significa que não estamos sozinhos. Japoneses e chineses, europeus e americanos, australianos e africanos, todos estão na mesma trincheira, ombro a ombro, procurando soluções para o mesmo problema. Isso é confortador.
Mas temos, cada pedaço do planeta, nossas peculiaridades regionais. Aqui em especial, nesta ponta do triângulo da América do Sul, vivemos uma situação curiosa: por enquanto, tudo parece razoavelmente bem. Não estamos sofrendo tanto quanto outras regiões. Só que existe a possibilidade de nossa condição piorar.
É uma angústia. O que fazer para resolvê-la? Aceitar a nossa derrota. Por enquanto, a curto e a médio prazo, o corona venceu. Essa é a verdade. Vamos pensar que, sim, as coisas vão piorar. Que teremos de ficar mais tempo trancafiados em casa. Atrás de máscaras. Cuidando uns dos outros. Mais alguns de nós adoecerão. Mais alguns de nós podem até morrer. Sabemos disso e, por sabermos, vamos nos preparar. O que tiver de ser feito, faremos. Para depois vencer. Mas unidos. Na mesma direção. Com a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo.
DAVID COIMBRA
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