quarta-feira, 3 de junho de 2020



03 DE JUNHO DE 2020
CORONAVÍRUS

Número de vítimas no Brasil pode quadruplicar em 60 dias

País cruzou barreira das 30 mil mortes e ainda não tem perspectiva de redução no contágio

Ontem, o Brasil entrou para um grupo tão seleto quanto indesejável. Ao ultrapassar a barreira das 30 mil mortes por coronavírus, está ao lado de EUA, Reino Unido e Itália na lista de países que enterraram uma quantidade de vítimas do novo vírus equivalente à população de uma cidade do porte de Flores da Cunha, na Serra.

A diferença em relação aos demais integrantes desse clube do qual ninguém deseja fazer parte é que as outras nações cruzaram esse patamar quando já haviam superado o pico de óbitos diários - nos EUA, isso ocorreu na mesma data. Projeções matemáticas e avaliações de epidemiologistas indicam que os brasileiros ainda devem testemunhar o agravamento da pandemia. Por isso, segundo projeções do centro americano que assessora a Casa Branca e a Organização Pan-Americana da Saúde em relação ao coronavírus, o número de mortes poderia quadruplicar e chegar a 120 mil até o começo de agosto.

Estimativa do Instituto de Métricas e Avaliação da Saúde (IHME) da Universidade de Washington aponta que podem ocorrer 120.242 óbitos até o final de julho, e 125 mil até 4 de agosto. A margem de erro, porém, é ampla. O número final até o fim do próximo mês poderia variar entre 65,9 mil e 212 mil.

Até a semana passada, a mesma organização esperava 88 mil mortes no país. A atualização nos dados usados para antecipar os rumos da covid-19 previu ainda que, especificamente no Rio Grande do Sul, até o último dia de julho essa cifra pode chegar a 1.087 vítimas. É preciso cuidado ao levar em consideração esses cálculos, já que nem sempre informações como o número de novos casos são confiáveis, e mudanças no comportamento da população alteram o ritmo de contágio.

No dia 23 de maio, o IHME previu que 264 gaúchos teriam morrido por coronavírus até 1º de junho. O número verificado de fato, conforme a Secretaria Estadual da Saúde, foi 232 - erro de 13,8% para mais. A previsão nacional indicava que seriam 32 mil óbitos até a data, tendo ocorrido erro de 8,2% a mais. Se esse percentual se repetir, ainda assim o Brasil registraria mais de cem mil mortes ao final do período analisado.

- Não arrisco um número, mas tudo indica que ainda não passamos pelo pior momento da pandemia, e as mortes devem continuar aumentando. Não é o que gostaríamos, mas é o que se espera no momento - analisa o epidemiologista e professor da UFRGS Paulo Petry.

Sistema

Professor do Instituto de Informática da mesma universidade e pós-doutor na área da computação, João Comba ajudou a desenvolver ferramenta que compara o avanço da pandemia em diferentes regiões do planeta e projeta números. Pelo sistema, o país chegaria ao final deste mês com 1,5 milhão de casos e perto de 40 mil mortes.

- Há modelos mais sofisticados do que o nosso, mas temos alcançado boa margem de acerto. A partir de agora, na verdade tudo depende de como as coisas vão evoluir - afirma Comba.

Comparando-se o Brasil com os demais países campeões de mortes por covid, um indicador é ligeiramente mais favorável: o país levou um pouco mais de tempo para chegar ao patamar de 30 mil, ou seja, controlou melhor a doença nas fases iniciais. Foram 77 dias, contra 76 da Itália e 69 nos Estados Unidos, por exemplo.

O dado negativo é que a Itália já havia superado o pico de mortes 42 dias antes de atingir essa marca em 8 de maio. Ou seja, a pandemia já encolhia significativamente. Por isso, o número não subiu muito mais do que isso desde então e, até ontem, permanecia em pouco mais de 33 mil óbitos. A dúvida é quantos mortos a mais os brasileiros ainda vão contar além dos 30 mil que já compõem a cruel estatística do coronavírus.

MARCELO GONZATTO

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