quarta-feira, 3 de junho de 2020



03 DE JUNHO DE 2020
MÁRIO CORSO

Amores em quarentena

Aumentou o número de divórcios durante a quarentena. Na China, onde a pandemia começou antes, os números anunciavam. Agora, no Brasil, repete-se o quadro.

Um conselho aos casais estressados pelo convívio: não se precipitem. Sair-se mal no caos não quer dizer que vocês fracassariam na normalidade. A quarentena requer uma rotina que é massacrante para qualquer relação.

Um casal se nutre do entra e sai que o cotidiano fornece. Agora perdemos a saudade. Às vezes passávamos uma semana sem uma conversa mais longa, sem um abraço apertado, sem o momento da delicadeza. E a graça estava na oscilação entre estar juntos e separados.

No extremo, existem casais que se dão bem desde que morem separados. Morando juntos, fenecem. A questão é que não existe um ideal de relação. O importante é amar e se sentir amado. É ter alguém que te ajuda a ser melhor a cada dia.

Não conseguirem estar grudados o tempo todo, encerrados em poucos metros, não quer dizer pouco amor. Quer dizer que não aguentam uma relação que beira a simbiose. Algumas pessoas perdem seus contornos com o convívio excessivo.

A questão é que alguns ficam capturados num ideal de relação que deveria suportar qualquer caos. Porém vivemos um tempo de exceção, de medo, de neblina à frente. Não é só o cotidiano enclausurado que ameaça, é o futuro incerto. Pessoas normais adoecem psiquicamente nesses casos. E, quando os dois adoecem juntos, um não consegue apoiar o outro.

Brinca-se que não há relação que sobreviva a uma reforma. A sucessão de contratempos e infortúnios de uma obra, junto com a dificuldade em harmonizar decisões, lima a harmonia do casal. Justo quando estão construindo um ninho acolhedor...

Com a pandemia é parecido: não deveríamos estar em êxtase por ter tanto tempo para a intimidade? Não deveríamos estar numa jornada contínua de encontros plenos?

Infelizmente o confinamento se parece mais com a obra do que com uma lua de mel: há uma série de minúcias, imprevistos, o dinheiro encolhe e o tempo espicha. Amores pedem paz, saídas para poder haver entradas e um ambiente em que as paredes não venham abaixo.

Nossas relações estão suportando um terremoto que transformou nossa casa, que é o mundo, em uma versão antirromântica. Tenham paciência, casais dormem juntos, porém viram-se obrigados a compartilhar um pesadelo. Um dia amanhece.

MÁRIO CORSO

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