segunda-feira, 11 de novembro de 2013


11 de novembro de 2013 | N° 17611
L.F. VERISSIMO

Degenerados

Descobriram num apartamento da cidade de Augsburg, perto de Munique, Alemanha, mais de 1,4 mil quadros desaparecidos durante a II Guerra Mundial. Os quadros incluem pinturas e desenhos de expressionistas alemães como Georg Grosz e Max Beckmann, mas também de artistas como Matisse, Chagall, Renoir, Toulouse-Lautrec, Picasso e outros mestres europeus.

A descoberta, segundo o New York Times, foi há algum tempo, mas as autoridades alemãs só a noticiaram agora porque temiam que a revelação aumentaria a grossa confusão sobre a propriedade das obras encontradas.

Elas são, obviamente, produto da pilhagem de museus e coleções privadas dos territórios invadidos pelos nazistas na guerra. Mas estavam no apartamento de um descendente de Hildebrand Gurlitt, que apesar de ser judeu foi o escolhido por Goebbels para avaliar e ajudar a vender os quadros e era, legalmente, o dono do tesouro.

As obras incluem o que Hitler chamava de arte “degenerada” – os expressionistas alemães, principalmente – que pela sua vontade deveria ser destruída, e as de grande valor comercial, cuja venda reforçaria os cofres do Terceiro Reich.

Mas, na promiscuidade do achado, não se distinguem umas das outras, e não deixa de haver uma triste ironia no fato de os mestres do impressionismo francês, por exemplo, estarem de novo na companhia de “degenerados”, como no famoso Salão dos Rejeitados em Paris que reuniu os enjeitados pelos acadêmicos da época, e de onde saiu a grande arte do século 19.

Ainda existem milhares de obras de arte desaparecidas na guerra das quais não se tem notícia. Mas aos poucos elas reaparecem. Arte é difícil de matar. Inclusive a “degenerada”.


Há pouco, estive num museu em Munique em que havia uma exposição dos expressionistas alemães. Todos mortos, e todos vivíssimos.

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